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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Coalizão é desafio para Lula, dizem analistas
Para o petista Jorge Viana, possível derrota do PSDB deve levar a reorganização do partido, e PT teria que mudar diálogo com oposição
Especialistas vêem PT fraco no novo Congresso e a governabilidade como calcanhar-de-aquiles em eventual segundo mandato
DA REDAÇÃO
Se manter a estabilidade econômica era o principal problema de Luiz Inácio Lula da Silva
em 2003, a governabilidade deve ser seu calcanhar-de-aquiles
em um eventual segundo mandato. Essa variável é a que mais
preocupa cientistas políticos,
economistas e outros especialistas ouvidos pela Folha.
Os analistas desenham cenários diferentes para um possível segundo governo. Em todos
eles, porém, o PT surge enfraquecido no novo Congresso.
Roberto Romano, professor
de ética da Unicamp, imagina o
PT, se a reeleição ocorrer, como "uma forma amestrada de
apoio incondicional a Lula".
Para ele, "o PT fez haraquiri"
[suicídio ritual cometido pelos
samurais com a própria espada] e "assumiu a responsabilidade pelos erros para garantir a
sobrevivência de Lula".
A distribuição dos cargos e
ministérios, já que o PT não teria quadros, é uma preocupação compartilhada por Roberto
Busato, presidente da OAB, e
pelo cientista político tucano
Bolívar Lamounier. "Lula precisaria de uma coalizão ampla,
não só dividindo cargos com o
PMDB", diz Busato. Ele afirma
que, sem isso, crises entre os
Poderes devem persistir.
Para Lamounier, as alianças
serão insuficientes para dar a
liderança no Congresso. "Dependerá do PMDB, que apóia
com a cessão de muitos ministérios. Ao oferecer muitos cargos, Lula pode enfrentar problema com as esquerdas." Ele
não vê perspectivas de "esquerdização": "Lula é um político
pragmático. Por vontade própria, não vai para a esquerda".
"Rapadura"
Carlos Lessa, que foi presidente do BNDES no governo
Lula, diz que o petista veria a vitória como aprovação total.
Sentindo-se mais forte que
suas bases, segundo Lessa, Lula
manteria a política econômica
na linha mais ortodoxa e estaria pronto até para uma reforma trabalhista liberal.
"Lula vai refazer o que fez de
forma mais eufórica. Entenderá que recebeu um cheque em
branco. O PT não terá tantos
votos, e Lula vai escorregar
mais para o centro-direita e para o PMDB", prevê. "O nível de
arrogância está escalando. Lula
está por cima da rapadura. Se
vencer no primeiro turno, vai
se sentir o rei da cocada preta."
No sentido oposto, o diretor
do Instituto de Economia da
Unicamp, Márcio Percival Alves Pinto, e Claudio Dedecca,
economista e professor da mesma universidade, dizem acreditar que Lula, se reeleito, poderá
avançar com mudanças, flexibilizando a política econômica.
"O Lula é jovem, pode voltar
em 2014. É ilusão achar que ele
trucidaria seu cacife. Faria um
governo para se fortalecer e, de
tabela, fortalecer o PT, que está
sucateado", diz Dedecca.
O governador do Acre, Jorge
Viana (PT), disse ontem que a
derrota do PSDB poderá levar a
uma reorganização do comando tucano, o que facilitaria o
diálogo do PT com eles.
Segundo ele, é praxe um partido questionar as razões da
derrota após a eleição. "Tenho
a expectativa de que a nossa vitória, de certa forma, possa motivar a mudança nos interlocutores de oposição, e isso é uma
oportunidade de dialogar diferente." O gesto de reaproximação cabe ao vencedor, e não ao
vencido, disse Viana. Para ele, o
PT teria que modificar sua forma de diálogo com a oposição.
Para Romano, a falta de base
aliada forte facilita tentativas
de centralização. "Vamos assistir à passagem ao cesarismo, a
tentativa de Lula se dirigir diretamente ao povo." Ele diz ser
"muito provável" a tentativa de
instaurar um terceiro mandato. "Não há ninguém com estofo dentro do PT para 2010."
Já Rogério Schmitt, cientista
político da consultoria Tendências, defende que, sem sucessor, Lula seria "ajudado" pela oposição. "Há interesse de
deixar o Lula aprovar reformas
que são necessárias, mas bastante impopulares."
(BRUNO LIMA, MARCELA CAMPOS, LEANDRO BEGUOCI E
MALU DELGADO)
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