São Paulo, quinta, 25 de junho de 1998

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SUCESSÃO
Ministro do Planejamento desautoriza estimativas do comando da reeleição sobre impacto de pacote habitacional
Paiva critica "chute' sobre novos empregos

da Sucursal de Brasília

Em resposta à queda nas pesquisas de intenção de voto, o presidente Fernando Henrique Cardoso acelerou, desde o mês passado, o anúncio de medidas capazes de reduzir o desemprego no país -principal motivo apontado para sua impopularidade.
Estimativas de geração de emprego, porém, foram desautorizadas ontem pelo ministro Paulo Paiva (Planejamento). Segundo ele, "é chute" dizer, por exemplo, que as facilidades criadas na liberação de recursos para habitação vão gerar 1 milhão de empregos, como chegaram a comemorar integrantes do comando político da reeleição.
As medidas, em vários casos, em vez de gerar empregos, vão apenas manter vagas que poderiam ser eliminadas no mercado de trabalho. Alguns cálculos consideram até os empregos indiretos em indústrias de produtos que deixariam de ser vendidos a eventuais desempregados.

Defasagem
Outros cálculos divulgados pelo governo usam uma fórmula matemática defasada para estimar o número de empregos potencialmente gerados mediante investimentos num determinado setor da economia.
Por isso, Paulo Paiva afirma que não há como calcular um número exato de vagas que serão geradas pelos investimentos do governo. A meta, segundo ele, é reduzir a taxa medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no segundo semestre do ano, período que coincide com a reta final da campanha eleitoral.
O comando político da reeleição investe numa taxa mais próxima dos 6% nas principais regiões metropolitanas do que dos 8,18% medidos em março. A mais recente taxa divulgada pelo IBGE, de 7,94% (referente a abril), é considerada "intolerável".
Novas medidas para reduzir o desemprego devem ser anunciadas depois de 6 de julho, data fixada pela legislação eleitoral para o início oficial da campanha. Uma das medidas em estudo é agilizar a liberação de recursos para o Proger (Programa de Geração de Empregos), um dos projetos do "Brasil em Ação".
O desemprego é o tema central não apenas do futuro programa de governo de FHC como de sua atuação na Presidência. Por enquanto, as medidas têm tido como principal alvo a criação de vagas no campo e na construção civil.

Déficit
Com impacto ainda impreciso no mercado de trabalho, as medidas já teriam contribuído para frear a queda de FHC nas pesquisas de intenção de voto e até indicar uma pequena melhora na popularidade do presidente-candidato.
Até aqui, o governo afirma que tem tido o cuidado de impedir que as medidas tenham impacto direto nas contas públicas. As liberações de recursos ou já estavam previstas no Orçamento da União ou foram remanejadas de outras fontes.
"Posso garantir que não há nenhuma gastança e estamos trabalhando para fechar o ano com as despesas abaixo das receitas", disse ontem o ministro Paulo Paiva. "Vamos garantir o equilíbrio primário", insistiu, referindo-se ao cálculo do déficit público que exclui os gastos com juros.
Paulo Paiva disse que a concessão de reajuste salarial aos funcionários públicos civis -estendendo um reajuste concedido aos militares há cinco anos- não contraria o pacote fiscal baixado em novembro passado.
"Tínhamos previsto um aumento de gasto com o funcionalismo já trabalhando com esse risco", afirmou o ministro. O reajuste deverá custar R$ 500 milhões neste ano.
O pagamento dos atrasados será parcelado para não prejudicar as contas públicas.
Na tentativa de evitar que as medidas de combate ao desemprego aumentem o rombo nas contas públicas, o governo vem lançando mão de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).



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