|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SÃO PAULO
Tenente impediu entrada de animais de Lila Covas em canil da Polícia Militar
Passeio de cão causa punição na PM
LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local
Detenção de um dia, transferência para funções burocráticas e
uma reprimenda na frente de seu
batalhão. Essa foi a pena aplicada
ao tenente da PM paulista Rodrigo
Mantovani. Motivo: ele impediu
que a primeira-dama do Estado,
Lila Covas, passeasse com seus cachorros no canil da PM.
Na defesa que apresentou no inquérito administrativo a que está
respondendo, Mantovani afirmou
que impediu a entrada dos dois cachorros de Lila porque eles não
haviam passado pelo exame médico, requisito exigido pelo regulamento do canil. Poderiam contaminar outros cães.
O problema aconteceu na manhã do dia 15 de fevereiro. De
acordo com o relatório de Mantovani, um carro oficial chegou ao
canil às 11h. Dele desceram Lila,
com os dois mascotes, e a tenente
da PM Ana Cláudia de Paula.
Segundo Mantovani, que estava
no comando do canil, ele não entendeu que se tratava da primeira-dama. Seu relato afirma que a
tenente Ana Cláudia disse que a
"senhora Leila" gostaria de passear com os cachorros.
"Diante disso, expliquei que a
presença de um cão estranho ao
plantel (...) poderia ser veículo de
transmissão de doenças, trazendo
grande risco aos nossos cães", diz
o relatório de Mantovani.
Ainda segundo o relatório, a tenente que acompanhava Lila insistiu, argumentando que os cachorros eram filhotes. Mantovani respondeu, então, que haveria o risco
de contaminação dos filhotes.
Nesse momento, diz o relatório,
Lila Covas "abanou os braços em
sinal de reprovação" e foi para o
carro dizendo "vamos embora"
várias vezes.
Segundo Mantovani, a tenente
Ana Cláudia disse: "Está louco, é
a mulher do governador, olha a
besteira que você fez". E teria
completado: "Você vai ver só".
Desculpas
Ao chegar ao Palácio dos Bandeirantes, a tenente relatou o caso
ao chefe da Casa Militar, coronel
Olavo Sant'Anna Filho, que ligou
para o comandante da PM, coronel Carlos Alberto de Camargo.
O comandante, por sua vez, contatou o comandante do Policiamento de Choque, ao qual o canil
é ligado, Rui César Melo. Este ligou para o comandante do 3º Batalhão de Choque, responsável pelo canil, tenente-coronel Jairo
Paes de Lira, que foi ao palácio de
verão do governo do Estado, no
Horto Florestal, para pedir desculpas a Lila Covas. Não foi recebido.
O comandante do batalhão convocou uma reunião apenas para
tratar do assunto e repreendeu
Mantovani, na frente dos outros
oficiais e de subalternos.
O tenente ainda foi transferido
para o setor de relações públicas
do batalhão, para "aprender a
atender o público", e condenado
a 24 horas de detenção no quartel
por "transgressão média".
No registro de detenção do tenente, ele é acusado de ter "trabalhado mal ao receber no quartel,
com descortesia e falta de atenção,
a esposa do governador(...)".
Inconformado com as punições,
Mantovani apresentou recursos
no inquérito administrativo, os
quais foram negados. Decidiu, então, contratar o advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, que
apresentou novo recurso.
Nele, o advogado afirma que
Mantovani não foi avisado previamente da visita da primeira-dama.
Diz ainda que o canil da PM abriga
150 cachorros, avaliados em R$ 1,2
milhão, considerando-se o animal
e o dinheiro gasto na sua manutenção e treinamento.
"Tal patrimônio é público, pago
com dinheiro dos contribuintes, o
que explica os cuidados previstos
em regulamentos (...), proibindo
cães estranhos de entrarem no recinto", diz a defesa do advogado.
Na semana passada, o comandante do batalhão, novamente,
não aceitou os argumentos de
Mantovani e determinou sua detenção no quartel.
Procurado, o tenente Mantovani
se recusou a atender a reportagem
da Folha.
Segundo o advogado Pinheiro
Pedro, seu cliente estuda a possibilidade de ingressar na Justiça para tirar a punição de seu currículo.
"Ele está indignado", disse.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|