São Paulo, quinta, 25 de junho de 1998

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SÃO PAULO
Tenente impediu entrada de animais de Lila Covas em canil da Polícia Militar
Passeio de cão causa punição na PM

LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local

Detenção de um dia, transferência para funções burocráticas e uma reprimenda na frente de seu batalhão. Essa foi a pena aplicada ao tenente da PM paulista Rodrigo Mantovani. Motivo: ele impediu que a primeira-dama do Estado, Lila Covas, passeasse com seus cachorros no canil da PM.
Na defesa que apresentou no inquérito administrativo a que está respondendo, Mantovani afirmou que impediu a entrada dos dois cachorros de Lila porque eles não haviam passado pelo exame médico, requisito exigido pelo regulamento do canil. Poderiam contaminar outros cães.
O problema aconteceu na manhã do dia 15 de fevereiro. De acordo com o relatório de Mantovani, um carro oficial chegou ao canil às 11h. Dele desceram Lila, com os dois mascotes, e a tenente da PM Ana Cláudia de Paula.
Segundo Mantovani, que estava no comando do canil, ele não entendeu que se tratava da primeira-dama. Seu relato afirma que a tenente Ana Cláudia disse que a "senhora Leila" gostaria de passear com os cachorros.
"Diante disso, expliquei que a presença de um cão estranho ao plantel (...) poderia ser veículo de transmissão de doenças, trazendo grande risco aos nossos cães", diz o relatório de Mantovani.
Ainda segundo o relatório, a tenente que acompanhava Lila insistiu, argumentando que os cachorros eram filhotes. Mantovani respondeu, então, que haveria o risco de contaminação dos filhotes.
Nesse momento, diz o relatório, Lila Covas "abanou os braços em sinal de reprovação" e foi para o carro dizendo "vamos embora" várias vezes.
Segundo Mantovani, a tenente Ana Cláudia disse: "Está louco, é a mulher do governador, olha a besteira que você fez". E teria completado: "Você vai ver só".

Desculpas
Ao chegar ao Palácio dos Bandeirantes, a tenente relatou o caso ao chefe da Casa Militar, coronel Olavo Sant'Anna Filho, que ligou para o comandante da PM, coronel Carlos Alberto de Camargo.
O comandante, por sua vez, contatou o comandante do Policiamento de Choque, ao qual o canil é ligado, Rui César Melo. Este ligou para o comandante do 3º Batalhão de Choque, responsável pelo canil, tenente-coronel Jairo Paes de Lira, que foi ao palácio de verão do governo do Estado, no Horto Florestal, para pedir desculpas a Lila Covas. Não foi recebido.
O comandante do batalhão convocou uma reunião apenas para tratar do assunto e repreendeu Mantovani, na frente dos outros oficiais e de subalternos.
O tenente ainda foi transferido para o setor de relações públicas do batalhão, para "aprender a atender o público", e condenado a 24 horas de detenção no quartel por "transgressão média".
No registro de detenção do tenente, ele é acusado de ter "trabalhado mal ao receber no quartel, com descortesia e falta de atenção, a esposa do governador(...)".
Inconformado com as punições, Mantovani apresentou recursos no inquérito administrativo, os quais foram negados. Decidiu, então, contratar o advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, que apresentou novo recurso.
Nele, o advogado afirma que Mantovani não foi avisado previamente da visita da primeira-dama. Diz ainda que o canil da PM abriga 150 cachorros, avaliados em R$ 1,2 milhão, considerando-se o animal e o dinheiro gasto na sua manutenção e treinamento.
"Tal patrimônio é público, pago com dinheiro dos contribuintes, o que explica os cuidados previstos em regulamentos (...), proibindo cães estranhos de entrarem no recinto", diz a defesa do advogado.
Na semana passada, o comandante do batalhão, novamente, não aceitou os argumentos de Mantovani e determinou sua detenção no quartel.
Procurado, o tenente Mantovani se recusou a atender a reportagem da Folha.
Segundo o advogado Pinheiro Pedro, seu cliente estuda a possibilidade de ingressar na Justiça para tirar a punição de seu currículo. "Ele está indignado", disse.



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