São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT NO DIVÃ

Os escândalos políticos envolvendo o PT e partidos da base aliada estão minando os palanques arquitetados pelo presidente

Crise ameaça alianças de Lula para 2006

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise política fez implodir os palanques arquitetados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus pares para 2006. Antes do escândalo do "mensalão", interessado na solidez de sua campanha à reeleição, Lula se dedicava à já difícil construção de candidaturas que reunissem todos os aliados nos Estados. Agora, seja pelo desgaste do PT ou pela animosidade na base, o projeto está na gaveta.
Lula corre o risco de ficar sem palanque, por exemplo, no reduto do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB). No Ceará, ele deverá reeditar a aliança com o tucano Tasso Jereissati.
Pelos planos originais, os partidos aliados a Lula apoiariam a eleição do ex-prefeito Cid Gomes ao governo. Mas o próprio ministro tem sugerido ao irmão que reflita bem e defende a coligação com o PSDB, possivelmente pela reeleição de Lúcio Alcântara. Lá, a imagem do PT saiu arranhada com a prisão de um militante com R$ 437 mil em dinheiro vivo.
Na Paraíba, a crise abortou o processo de filiação do governador Cássio Cunha Lima ao PTB, origem do escândalo. Agora, deverá ficar no PSDB e liderar uma chapa que inclui PL, PP e PTB.
Em Pernambuco, sua terra natal, Lula pode ver dois ex-ministros em campos opostos. O ex-ministro da Ciência e Tecnologia Eduardo Campos deverá disputar com o PT -possivelmente com o ex-ministro da Saúde Humberto Costa- o governo do Estado. Segundo Campos, é "forte" a probabilidade de concorrer. "PT e PSB estarão unidos em alguns Estados, mas brigaremos em outros. Somos aliados. Mas não somos iguais", avisa Campos.
São Paulo é um exemplo típico do efeito da crise no cenário nacional. Líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES) até admite a possibilidade de o partido se aliar aos petistas no Estado, "se o PT não ficar todo contaminado, né? Porque, do jeito que está indo, talvez não sobre ninguém".
O secretário-geral do PTB, Luiz Antônio Fleury Filho, também lança dúvidas sobre a hipótese de o partido se unir ao PT no Estado. "Está ficando cada vez mais difícil. O PTB nunca foi ligado ao PT. Para a prefeitura, foi quase uma intervenção federal", afirma.
No Rio, domicílio eleitoral de Roberto Jefferson (PTB), autor das denúncias do "mensalão", a hipótese de aliança está enterrada. "Acho que o partido vai ficar mais exigente no debate de alianças", diz o presidente estadual do PT, Gilberto Palmares.
No Rio Grande do Sul, Estado de rivalidade com o PMDB, a negociação do PT era com o senador petebista Sérgio Zambiasi. "Começa da estaca zero o debate", lamenta o deputado Mauro Dias.
No Paraná, Estado do tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, o governador Roberto Requião (PMDB) tem feito severas críticas ao governo federal, a ponto de chamar a reforma ministerial de Lula de "mensalão do PMDB". No Estado -onde o PSB já dá apoio ao PSDB- a base periga chegar a 2006 em frangalhos.
No Amapá, o senador João Capiberibe (PSB) deverá concorrer ao governo num discurso anticorrupção, inclusive contra o PT local. "E pensar que já me dei o trabalho de procurar o José Dirceu [ex-ministro da Casa Civil] e o Silvio Pereira [ex-secretário-geral do PT] para alertar para irregularidades do PT no Estado."
Em Rondônia, palco de crise política com a denúncia de compra de votos na Assembléia, o PT negociava com o PTB uma aliança. "Antes da crise, estávamos com o governo na mão", diz o deputado Anselmo de Jesus (PT-RO), queixando-se ainda da suspensão das conversas com o PTB.
Aliados e adversários concordam que, com as investigações, é prematuro falar em 2006 antes do desfecho da crise nacional. "A gente tem que ver o que sobra", diz Casagrande, do PSB.
E, com tanto atrito, seria mais fácil listar os Estados onde há chance de acordo. É o caso do Espírito Santo, onde a candidatura de Paulo Hartung pode unir PSDB e PT. A nomeação de dois peemedebistas mineiros para o ministério de Lula animou os petistas dispostos a tirar os partidos aliados da base do governador Aécio Neves (PSDB).
"Em Minas, vamos buscar a unidade. E a escolha de dois mineiros ajuda", aposta o deputado Odair Cunha (PT-MG). Muitos duvidam. É esperar para ver.


Texto Anterior: Conselho Fiscal abre investigação de contratos assinados pela Previ
Próximo Texto: Petistas temem eleições estaduais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.