São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAMPANHA

Em Santarém (PA), candidato petista critica acordo com o FMI e diz que a corrupção no país "é histórica e crônica"

"Elite brasileira é perversa", afirma Lula

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTARÉM

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que a "elite brasileira é perversa", sendo fonte geradora de corrupção, que "é histórica e crônica". Lula respondia sobre o como combater a corrupção a jornalistas em Santarém (PA). "A corrupção no Brasil é histórica e crônica, porque a elite brasileira é perversa", disse.
O petista exemplificou sua afirmação com o caso da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), que acabou extinta após uma sucessão de desvios apontados pelo próprio governo e pelo Ministério Público.
"Por causa do [ex-senador e agora candidato a deputado] Jader Barbalho, a Sudam foi fechada. Não seria o caso de fechar o órgão, e sim prender quem roubou", disse. Jader é citado em diversos inquéritos sobre desvios, e sempre negou ter cometido irregularidades.
Lula participou de uma carreata no centro de Santarém e de um showmício para cerca de 5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar.
Após ir a Brasília para dar apoio, com reservas, ao acordo entre o Brasil e o FMI (Fundo Monetário Internacional), Lula voltou, em cima de um palanque, ao discurso mais agressivo contra o fundo e suas políticas.
"É preciso ter cuidado para quem toma empréstimo, porque quando tiver de pagar, a porca entorta o rabo", afirmou na praça Matriz da cidade.
"O povo está sendo enganado há muitos anos. Para que o Brasil dê certo, é só acabar com a roubalheira e com a safadeza e usar o dinheiro corretamente, para que o país seja moralizado."
No discurso, Lula usou a obra inacabada da rodovia Cuiabá-Santarém para atacar o governo federal. "O ministro da Fazenda, o ministro dos Transportes e o presidente da República não têm a decência de passar pela rodovia e perceber o quanto o povo sofre."
Também falou sobre a compra de novos caças para a Força Aérea Brasileira, negócio de US$ 700 milhões que será analisado em reunião do Conselho de Defesa Nacional nesta semana. O presidente Fernando Henrique Cardoso tende a deixar a decisão final para ser tomada em conjunto com o seu sucessor, após as eleições.
"Eu pedi para o FHC adiar, no nosso encontro. Aguardo sua resposta", disse Lula, que depois engrossou o coro de candidatos como José Serra (PSDB) -que querem o consórcio integrado pela Embraer, que oferece o Mirage-2000BR, como vencedor.
"Gostaria que a Embraer [fosse a escolhida], para que seja detentora de tecnologia e o avião seja construído no Brasil", disse, misturando dois temas distintos sobre o negócio.
Primeiro, mesmo que ganhe, a francesa Dassault (que lidera o consórcio) não vai fazer o avião no Brasil porque a venda de 12 unidades não justifica a abertura de uma fábrica.
Segundo, a transferência de tecnologia para o Brasil é pré-requisito da FAB para todas as empresas, e o fato de a Embraer ser brasileira não garante maior ou menor transferência.

Alca
Lula voltou a justificar a ausência do PT no plebiscito que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e outras entidades vão promover sobre a aceitação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas, proposta pelos EUA para entrar em vigor em 2005).
"O PT é um partido que está prestes a ganhar uma eleição nacional e não pode ficar brincando de plebiscito", disse.
Em 2000, o partido de Lula participou de evento semelhante sobre a dívida externa.



Texto Anterior: Folclore Político - Boris Casoy: A recontagem
Próximo Texto: Capital e Trabalho: Lula e Alencar vivem paradoxo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.