São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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Paulistas dominam direção do PT e comando da campanha de Lula

MURILO FIUZA DE MELO
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de ter se expandido eleitoralmente por todo o Brasil, o PT é hoje mais paulista do que quando foi fundado por metalúrgicos do ABC, em 1980. A força de São Paulo é hegemônica no núcleo que dirige a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva e domina a Executiva Nacional.
Dez dos 12 integrantes da coordenação nacional da campanha de Lula são paulistas.
Levantamento feito pela Folha mostra que a direção do PT não acompanhou o processo de nacionalização do partido nas urnas em seus 22 anos de história. A participação de paulistas nas bancadas petistas da Câmara caiu de 75%, na eleição de 1982, para 23,7%, em 1998. No mesmo período, o poder de São Paulo na burocracia interna aumentou.
Na primeira Executiva Nacional do PT, eleita em 1981, 33,3% dos integrantes eram paulistas. Ao longo da última década, essa participação atingiu índices que variaram entre 47,4% (2001) e 66,7% (1999) -contabilizando os integrantes com direito a voto e excetuando os líderes do partido no Senado e na Câmara.
É forte também a presença de petistas de São Paulo no diretório nacional, principal fórum político do partido, composto por 81 membros. Hoje, 29,6% do diretório é formado por paulistas. O índice já chegou a 38,5% em 1995.
Associada a fatores ideológicos, a "paulistização" sufocou lideranças de outras regiões do país.
Para o cientista político Jairo Nicolau, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio, o PT cultivou um processo decisório de baixo para cima, mas nos anos 90 houve uma concentração de poder. "O crescimento da [corrente moderada] Articulação estabeleceu uma hegemonia nacional no diretório e na Executiva. Como a corrente é majoritariamente paulista, houve superposição."
A partir de 1995, com José Dirceu na presidência da sigla, os moderados da Articulação obtiveram o controle do partido. O PT adotou, então, alianças que sacrificaram candidaturas regionais pelo projeto nacional. Foi esse o caso de Heloísa Helena, que renunciou à disputa em Alagoas por discordar da união com o PL.
"No PT de São Paulo, as formações mais à esquerda têm pouca força, diferentemente do Rio Grande do Sul e do Rio", diz Francisco de Oliveira, um dos principais intelectuais do partido.
Para Oliveira, São Paulo tende a prevalecer porque o partido é "mais bem organizado" no Estado. O que, diz, é compreensível: "Ou os partidos têm presença forte em São Paulo ou são fracos. O centro das questões é São Paulo."
Para Cristovam Buarque, o PT deve absorver "o sentimento nacional". "Se ficar preso ao sentimento paulista, terá o destino do PSDB, que nasceu, cresceu e pode morrer em São Paulo."



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