São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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CAMPANHA

Principal articulador de Ciro, tucano atua como dublê de político e empresário para ampliar apoios à candidatura

Tasso atrai neociristas em bancos e empresas

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Só oficialmente Ciro Gomes continua sendo o candidato da Frente Trabalhista. A cada dia que passa, a frente de Ciro parece ser outra -e nela, além do PFL, começam a ocupar lugar de destaque economistas liberais e empresários que se projetaram com os negócios das privatizações.
Na verdade, essa ala empresarial, financeira e tecnocrática (os economistas) por ora frequenta animada a ante-sala do cirismo. Aguarda-se ainda uma recuperação de José Serra nas pesquisas -o tucano a princípio é o candidato oficial do setor privado e do governo. Mesmo na hipótese de que isso não ocorra, parte dos empresários dá sinais de que prefere a versão "light" de Luiz Inácio Lula da Silva. O PT aposta na divisão do empresariado contra Ciro num eventual segundo turno.
Os aliados de primeira hora, PTB e PDT, além do PPS, desempenham hoje papel menor dentro de uma coalizão em formação e ainda sem perfil claro.
Quem amarra essas alas neociristas é o tucano Tasso Jereissati, padrinho de Ciro, que na semana passada formalizou o rompimento com a campanha de José Serra.
Dublê de político e empresário, Tasso opera nas duas frentes. Mais do que isso, coloca-se como o grande avalista de um candidato que ainda gera temor no mercado e desconfiança no meio político.
Um dos gestos de Tasso foi o de articular a incorporação de José Alexandre Scheinkman, economista liberal radicado nos EUA, à campanha. Foi um aceno ao mercado -o mesmo para o qual Ciro disse dias antes "se lixar".
O anzol jogado na direção de Scheinkman contou com o apoio decisivo de um amigo de Tasso, o empresário Carlos Alberto Sicupira, sócio da AmBev, a maior cervejaria da América Latina, e da Telemar, a maior empresa nacional de telefonia, em que também é sócio o irmão de Tasso, Carlos Jereissati, da empresa de participações La Fonte.
Scheinkman foi apresentado a Ciro por Beto Sicupira, que o conhecia através de Cláudio Haddad, diretor do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais) e ex-sócio de Sicupira no Banco Garantia. Haddad e Scheinkman são velhos amigos.
Outra adesão de peso a Ciro articulada por Tasso é a de Jorge Gerdau Johannpeter, o "rei do aço", um dos líderes empresariais mais destacados do país, amigo e defensor do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Gerdau lidera a Ação Empresarial, influente grupo de pressão política composto de empresários e executivos, que prefere atuar nos bastidores. Discretos banqueiros de investimentos tentam armar pontes com o mercado.

Crias da privatização
Além de seduzir a ala de economistas mais identificada à ortodoxia liberal que gravitou na órbita da era FHC, Ciro começa a conquistar apoio de empresários que emergiram nesse período, sobretudo por conta da privatização.
Entre eles, os mais destacados são os irmãos Ricardo e Benjamin Steinbruch, do grupo Vicunha e da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), que já conhecem Ciro e Tasso do Ceará.
Há outros, como o ex-banqueiro paulista Manoel Francisco Pires da Costa, ex-dono do Banco Patente e atualmente presidente da Fundação Bienal, e Flávio Rocha, das lojas Riachuelo.
Outro feito de Tasso foi atrair para Ciro o ex-diretor da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e ex-genro de FHC, David Zylberstajn, que concordou em colaborar na elaboração de um programa para o setor energético.
Antes de ser convidado a participar da campanha de Ciro, Zylberstajn já tinha conversado com o ex-senador Antônio Carlos Magalhães na Bahia. Foi quando decidiu ir a Fortaleza conversar com Tasso. O encontro ocorreu na quarta-feira, logo após o jogo do Brasil contra o Paraguai.


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