São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ALAGOAS
Delegado faz duas gravações em que funcionário de empresa da família Farias sugeriria vantagens a ele
Fita traz suposta tentativa de suborno

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió


A Polícia Civil de Alagoas analisa o conteúdo de duas fitas que registram uma suposta tentativa de suborno ao delegado Antônio Carlos Lessa, presidente do inquérito que investiga as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino.
As gravações foram feitas por Lessa anteontem (fita de vídeo produzida com microcâmera de uma rede de televisão, com uma hora e 30 minutos de duração) e no dia 22 de julho (cassete com cerca de 40 minutos de conversa).
A suposta tentativa de suborno teria sido feita por um funcionário de uma das empresas da família Farias. O objetivo seria evitar o indiciamento do deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC, como mandante das mortes ocorridas em 1996.
No diálogo da fita cassete, cuja qualidade técnica é baixa, o interlocutor de Lessa diz que ele pode ganhar "o que quiser" e que "todo homem tem seu preço, seja dinheiro, favores", conforme apurou Folha.
No vídeo, com som nítido, o mesmo homem teria dito que a família do delegado seria favorecida e que Lessa poderia ajudar os parentes de dois auxiliares seus mortos em acidente na sexta-feira. "Se fosse você, eu aceitaria", teria dito o interlocutor, de acordo com uma pessoa que teve acesso ao vídeo.
Temendo por sua segurança, Lessa negou-se ontem repetidamente a confirmar a existência das gravações. O cassete está sendo analisado pelo Laboratório de Fonética da Unicamp, e o vídeo foi apresentado na segunda-feira ao secretário de Segurança de Alagoas, Edmilson Miranda.
Na manhã de ontem, Lessa e o delegado Alcides Andrade, com quem divide a investigação, reuniram-se com o secretário. Decidiram guardar segredo sobre as fitas. "Não há bomba nenhuma", disse Miranda depois.
Se os diálogos forem considerados pelos policiais evidência de que Lessa foi vítima de tentativa de suborno, as gravações serão anexadas aos autos do inquérito, passando a ser o principal elemento para justificar um possível indiciamento de Augusto Farias.
Reservadamente, a polícia tem mais dúvidas: se a gravação seria aceita pelas Justiça e se, por ser funcionário de terceiro escalão do grupo Farias, o suposto intermediário não seria desqualificado. Ele poderia ser indiciado por tentativa de suborno.
O rosto do funcionário aparece no vídeo, ao qual a Folha não teve acesso. O delegado Lessa não só não disse quem é o homem, como calou sobre as gravações.
As fitas provocaram novo atraso na conclusão do inquérito, agora sem data para terminar. Quatro ex-seguranças de PC Farias já foram indiciados como co-autores das mortes.
Em 1996, quando o ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello e Suzana morreram com uma bala cada, a polícia sustentou que ela assassinara o namorado e se suicidara em seguida.
Na nova investigação, depois de indiciarem os ex-seguranças por autoria material, os delegados afirmaram que avaliam um conjunto de suspeitas que podem levar ao indiciamento de Augusto Farias como mandante.
Antônio Carlos Lessa foi procurado em maio por um funcionário da família Farias. Por ser seu amigo, atendeu-o.
A primeira conversa não foi registrada. Em julho, Lessa gravou o encontro na churrascaria Spettus, na praia de Ponta Verde. O som ao vivo e o equipamento precário produziram um diálogo só parcialmente compreensível.
Anteontem, Lessa carregou um microfone sem fio. As imagens foram feitas por um cinegrafista em mesa próxima. A qualidade foi maior, mas o interlocutor de Lessa teria reafirmado a abordagem em termos menos explícitos.
Na primeira hora, não falaram do caso PC, como se o suposto emissário dos Farias suspeitasse que Lessa estivesse gravando.
O almoço foi no "restaurante do Renato", local frequentado pela cúpula da Secretaria da Segurança, no litoral sul de Maceió.


Texto Anterior: Mídia: Relator propõe participação de estrangeiros em até 30%
Próximo Texto: Porta-voz da família nega envolvimento
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.