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ALAGOAS
Delegado faz duas gravações em que funcionário de empresa da família Farias sugeriria vantagens a ele
Fita traz suposta tentativa de suborno
ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió
A Polícia Civil de
Alagoas analisa o
conteúdo de duas
fitas que registram
uma suposta tentativa de suborno ao
delegado Antônio Carlos Lessa,
presidente do inquérito que investiga as mortes de Paulo César
Farias e Suzana Marcolino.
As gravações foram feitas por
Lessa anteontem (fita de vídeo
produzida com microcâmera de
uma rede de televisão, com uma
hora e 30 minutos de duração) e
no dia 22 de julho (cassete com
cerca de 40 minutos de conversa).
A suposta tentativa de suborno
teria sido feita por um funcionário de uma das empresas da família Farias. O objetivo seria evitar o
indiciamento do deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de
PC, como mandante das mortes
ocorridas em 1996.
No diálogo da fita cassete, cuja
qualidade técnica é baixa, o interlocutor de Lessa diz que ele pode
ganhar "o que quiser" e que "todo
homem tem seu preço, seja dinheiro, favores", conforme apurou Folha.
No vídeo, com som nítido, o
mesmo homem teria dito que a
família do delegado seria favorecida e que Lessa poderia ajudar os
parentes de dois auxiliares seus
mortos em acidente na sexta-feira. "Se fosse você, eu aceitaria", teria dito o interlocutor, de acordo
com uma pessoa que teve acesso
ao vídeo.
Temendo por sua segurança,
Lessa negou-se ontem repetidamente a confirmar a existência
das gravações. O cassete está sendo analisado pelo Laboratório de
Fonética da Unicamp, e o vídeo
foi apresentado na segunda-feira
ao secretário de Segurança de
Alagoas, Edmilson Miranda.
Na manhã de ontem, Lessa e o
delegado Alcides Andrade, com
quem divide a investigação, reuniram-se com o secretário. Decidiram guardar segredo sobre as
fitas. "Não há bomba nenhuma",
disse Miranda depois.
Se os diálogos forem considerados pelos policiais evidência de
que Lessa foi vítima de tentativa
de suborno, as gravações serão
anexadas aos autos do inquérito,
passando a ser o principal elemento para justificar um possível
indiciamento de Augusto Farias.
Reservadamente, a polícia tem
mais dúvidas: se a gravação seria
aceita pelas Justiça e se, por ser
funcionário de terceiro escalão do
grupo Farias, o suposto intermediário não seria desqualificado.
Ele poderia ser indiciado por tentativa de suborno.
O rosto do funcionário aparece
no vídeo, ao qual a Folha não teve
acesso. O delegado Lessa não só
não disse quem é o homem, como
calou sobre as gravações.
As fitas provocaram novo atraso na conclusão do inquérito,
agora sem data para terminar.
Quatro ex-seguranças de PC Farias já foram indiciados como co-autores das mortes.
Em 1996, quando o ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello e
Suzana morreram com uma bala
cada, a polícia sustentou que ela
assassinara o namorado e se suicidara em seguida.
Na nova investigação, depois de
indiciarem os ex-seguranças por
autoria material, os delegados
afirmaram que avaliam um conjunto de suspeitas que podem levar ao indiciamento de Augusto
Farias como mandante.
Antônio Carlos Lessa foi procurado em maio por um funcionário da família Farias. Por ser seu
amigo, atendeu-o.
A primeira conversa não foi registrada. Em julho, Lessa gravou o
encontro na churrascaria Spettus,
na praia de Ponta Verde. O som
ao vivo e o equipamento precário
produziram um diálogo só parcialmente compreensível.
Anteontem, Lessa carregou um
microfone sem fio. As imagens
foram feitas por um cinegrafista
em mesa próxima. A qualidade
foi maior, mas o interlocutor de
Lessa teria reafirmado a abordagem em termos menos explícitos.
Na primeira hora, não falaram
do caso PC, como se o suposto
emissário dos Farias suspeitasse
que Lessa estivesse gravando.
O almoço foi no "restaurante do
Renato", local frequentado pela
cúpula da Secretaria da Segurança, no litoral sul de Maceió.
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