São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

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HISTÓRIA

Sindicalista defendia reservas extrativistas para preservar floresta

Ecologista alcançou projeção internacional na década de 80

Homero Sérgio - 1988/Folha Imagem
Chico Mendes com sua mulher Ilzamar e um de seus filhos na janela de sua casa, em Xapuri


DA REDAÇÃO

O líder seringueiro Chico Mendes (Francisco Alves Mendes Filho), assassinado em dezembro de 1988, é o ecologista brasileiro mais conhecido no exterior. Sua vida foi objeto de diversos documentários, peças de teatro e livros (de Zuenir Ventura, Marcio de Souza, Edilson Martins, Javier Moro, Andrew Revkin) e do filme "Amazônia em Chamas" ("The Burning Season", de 1994).
Chico Mendes nasceu em Xapuri (AC) em 15 de dezembro de 1944. Trabalhou como seringueiro desde criança. Em 1975, ingressou no recém-fundado Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (AC).
Em 1976, começou a divulgar uma tática para impedir o crescente desmatamento da floresta amazônica promovida pelos fazendeiros, o "empate", que consistia na organização um cordão humano encabeçado por mulheres e crianças, que impedia que os peões dos fazendeiros avançassem para cortar a mata.
Passou a defender a desapropriação de fazendas para permitir a criação de reservas extrativistas, o que permitiria uma utilização racional dos produtos da floresta (castanha, copaíba, babaçu, açaí, cacau, guaraná e mel) e ao mesmo tempo permitiria sua preservação. Chico Mendes considerava que as reservas extrativistas constituíam a única forma de impedir a destruição da floresta amazônica.
Em 1977, criou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC) e, no ano seguinte, foi eleito vereador na cidade pelo MDB. Em 1979 começou a receber ameaças de morte. Acusado de subversão, foi detido e torturado por policiais do Estado.
No mesmo ano, participou de um comício em Brasiléia ao lado do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, em protesto pelo assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais local, Wilson Pinheiro. Dias depois do comício, um suspeito de ter assassinado o sindicalista foi morto. Chico Mendes e Lula foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional, mas acabaram sendo absolvidos.
Em 1980, Chico Mendes participou da fundação do PT. Em 1985, organiza o 1º Encontro Nacional de Seringueiros, que serve de ponto de partida para a organização da União dos Povos da Floresta, entidade criada para defender a Amazônia.
Alcançou projeção internacional. Em 1987, recebeu representantes da ONU (Organização das Nações Unidas) em Xapuri e mostrou os estragos causados na floresta por projetos financiados por organismos internacionais. Meses depois foi ao Senado dos Estados Unidos e ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para reafirmar suas denúncias. Nesse mesmo ano, recebeu o Prêmio "Global 500" da ONU, por sua luta pela preservação do ambiente, e a "Medalha do Meio Ambiente" da organização "Better World Society".
Em 1988, o Bird (Banco Mundial) suspendeu um empréstimo para a pavimentação da BR-363 porque o projeto não previa a proteção às terras dos índios.
Foi assassinado a tiros em Xapuri em 22 de dezembro, aos 44 anos. A repercussão internacional da morte foi intensa. Jornais americanos e europeus criticaram o governo José Sarney (1985-1989) por não ter oferecido segurança ao líder. Em 24 de janeiro do ano seguinte, Sarney criou o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis).
Em 1990, recebeu postumamente o Prêmio Internacional Nações Unidas/Sasakawa do Meio Ambiente. No Acre, foi criada a reserva extrativista Chico Mendes. O fazendeiro Darci Alves, que confessou o assassinato, e seu pai, Darly Alves, acusado de ser o mandante, foram condenados em 1991. Em 1993, eles fugiram da prisão, mas foram recapturados em 1996.


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