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IMPOSTOS
Programa devolve ICMS aos importadores do porto de Vitória
Governo do ES renuncia
a R$ 1,8 bi em cinco anos
LUCIO VAZ
enviado especial a Vitória
O governo do Espírito Santo patrocina um dos maiores paraísos
fiscais de importadores no país: o
Fundap (Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias), que resultou em uma renúncia fiscal de R$ 1,8 bilhão nos
últimos cinco anos.
Pelo sistema, os importadores
recebem de volta, na forma de
empréstimo, dois terços do valor
do ICMS (12% do valor da mercadoria) recolhido aos cofres do Estado. Entre 1995 e 1999, os fundapeanos recolheram R$ 2,76 bilhões em impostos (37% da receita de ICMS do Estado).
O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) é
a principal fonte de arrecadação
tributária da maioria dos Estados.
As condições para o pagamento
são extremamente favoráveis:
prazo de 25 anos, com cinco anos
de carência, sem correção monetária e juros de 1% ao ano. Com
tantas vantagens, o dinheiro "emprestado" pelo Fundap vira pó.
A partir de 1996, o governo de
Vitor Buaiz criou uma fórmula
para recuperar parte do dinheiro
e reformar o seu caixa. Passou a
vender os créditos em leilões, com
deságio de 90%.
Em quatro leilões, desembolsou
R$ 700 milhões, recolhendo R$ 70
milhões ao Tesouro do Estado. O
negócio parece ser bom para todos, porque, na maioria dos casos, os créditos são arrematados
pelos próprios devedores.
O governo de José Ignácio Ferreira (PSDB) gostou da idéia e já
fez dois leilões, num valor total de
R$ 260 milhões. Reforçou o caixa
com mais R$ 26 milhões.
As contradições do complexo
sistema criado em 1971 não param por aí. Parte das importações
do Fundap é feita por portos de
outros Estados, como o de Santos
(SP) e o do Rio de Janeiro.
"Nacionalização"
O empresário Otto Andrade,
proprietário da Eximbiz Comércio Internacional, afirma que entre 30% e 40% das importações
são feitas por portos de outros Estados. Ele acrescenta que, até dez
anos atrás, esse percentual chegava a 90%.
Andrade afirma que essas cargas são transportadas de caminhão para o Espírito Santo para
serem "nacionalizadas". Depois,
retornam de caminhão aos centros de consumo.
Segundo o empresário, o custo
com esse transporte consome
parte do subsídio concedido pelo
Fundap. "Temos que contratar o
frete e trazer a mercadoria até o
Espírito Santo. Depois de nacionalizada, ela volta para São Paulo
e Rio de Janeiro, onde está o mercado consumidor", afirma.
Em 1993, o então governador de
São Paulo, Luiz Antonio Fleury
Filho, entrou com ação no STF
(Supremo Tribunal Federal) contra o Espírito Santo para tentar
impedir esse tipo de operação.
Fleury queria que o Estado de
São Paulo recolhesse o imposto
sobre as importações feitas pelo
porto de Santos pelo sistema Fundap. O recurso não foi julgado até
hoje.
Fleury (PTB), que hoje é deputado federal, contesta as afirmações de Andrade. "As mercadorias não iam até o Espírito Santo.
Só as notas iam até o Estado. Você
tinha lá um paraíso fiscal, com firmas de fachada, que recolhiam as
notas e faziam a "nacionalização"
em uma operação virtual", disse o
ex-governador.
Andrade afirma que esse tipo de
operação acontecia eventualmente até 1993, quando o volume de
importações pelos portos do Espírito Santo era inexpressivo, pela
dificuldade de rotas de navios para o Estado.
"Não havia um volume de cargas suficiente. Mas o Fundap está
aumentando a cada ano o volume
de importações pelos portos do
Estado. Com mais cinco ou sete
anos, teremos implantado de forma definitiva o nosso sistema",
disse.
Reforma
A reforma tributária em tramitação no Congresso pode acabar
com o Fundap, já que deve eliminar o ICMS. Será criado o IVA
(Imposto sobre Valor Agregado),
que será cobrado nos Estados
consumidores.
O governo do Espírito Santo
avalia que o impacto na economia
do Estado será devastador. Otto
Andrade afirma que as empresas
importadoras não teriam como
atuar no Estado sem esse incentivo fiscal.
O empresário diz que a maior
parte do incentivo (5% do valor
da mercadoria) cobre o custo
operacional da operação, incluindo despacho aduaneiro, armazenagem e manuseio da mercadoria. Só o PIS/Cofins consome
3,6% do valor da mercadoria, afirma Andrade.
Os municípios sentiriam mais
que o Estado. Eles ficam com 25%
da receita do fundo. Foram cerca
de R$ 150 milhões no ano passado
(cerca de 30% da receita disponível dos municípios). A capital do
Estado, Vitória, ficou com 23%
dessa receita.
O Fundap reúne hoje 188 empresas que geram 5.400 empregos. São responsáveis por 95%
das importações do Estado e cerca de 6% das importações feitas
pelo país.
O volume de negócios do fundo
disparou a partir de 1994, quando
o país abriu mais sua economia e
ampliou as importações. Os portos do Espírito Santo chegaram a
importar 140 mil carros em 1995.
Foram divulgadas pelo país as
imagens dos pátios dos portos lotados de carros importados.
O governo do Estado não poupa
esforços para agradar aos fundapeanos. Nos tempos de inflação,
parte dos lucros era gerada pelo
prazo de recolhimento do ICMS:
dois meses.
O governo Buaiz deixou de
cumprir alguns compromissos
com os empresários, adiando a liberação de alguns empréstimos.
José Ignácio Ferreira herdou uma
dívida de R$ 70 milhões.
Sem dinheiro para saldar o débito imediatamente, prorrogou o
prazo de recolhimento do ICMS
para 90 dias.
A Folha tentou ouvir o presidente do Sindiex (Sindicato dos
Importadores e Exportadores do
Espírito Santo), Evandro Coser,
mas ele não deu retorno aos recados da reportagem.
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