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NO PLANALTO
FHC premiou hospitais
filantrópicos
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No Brasil, como se sabe,
entidades "filantrópicas"
não perdem por esperar. Ganham. O último triunfo do segmento, conquistado à sombra, tem a aparência de uma bomba.
Armada sob FHC, estourou no
colo de Lula.
Aqui se revelou, em dezembro
de 2001, que vistosos hospitais
de São Paulo, portadores de certificados de filantropia emitidos
pela Previdência, não pagam
impostos. Mencionaram-se o Sírio Libanês e o Albert Einstein.
Em troca do refresco tributário, deveriam reservar 60% dos
seus atendimentos para pacientes muito pobres e muito pardos
do SUS. Contemplava-se, porém, só a clientela muito grã-fina e muito branca.
Arrancado da penumbra, o
caso foi a julgamento no Conselho Nacional de Assistência Social, que emite os certificados filantrópicos. A certidão do Sírio
foi cassada. O hospital recorreu
à Justiça. Perdeu.
Mais safo, o Einstein firmou
com Brasília convênio para realizar transplantes de fígado. "Fizemos 150 em 2002. Só dois não
foram pelo SUS", jubila-se Cláudio Lottenberg, presidente do
hospital.
O Einstein continuou longe
dos 60%. Mas exibiu boa vontade. E manteve o certificado.
Contra recurso do INSS, pendente de julgamento.
Súbito, um lobby varreu os porões do poder. Começou a agir
nos ministérios. Desceu a Esplanada. Aportou no Planalto. Ali
obteve, em 22 de novembro de
2002, um troféu. Veio na forma
de decreto. Assinou-o, sem alarde, um FHC em fim de mandato.
Flexibilizaram-se as regras da
filantropia. Hospitais "estratégicos" já não precisam obedecer
à regra dos 60% de SUS. O percentual passou a variar de 20%
a 30%. Calculados não mais sobre a totalidade dos procedimentos, mas sobre uma cartela
de atendimentos de "alta complexidade" -transplantes de
órgãos e tratamentos oncológicos, por exemplo.
Em 10 de dezembro, baixou-se
portaria com os nomes dos "hospitais estratégicos". São 317, dos
quais 126 "filantrópicos". Coube
de tudo na lista -do renomado
Einstein à incógnita Maternidade Jesus Maria José, de Quixadá
(CE).
Em 26 de dezembro, portarias
natalinas elevaram à condição
de "estratégicas" mais cinco instituições, entre elas o Sírio, o Samaritano e o Hospital do Coração, todos de São Paulo. Receberam de presente prazo de um
ano para se enquadrarem às regras.
As providências têm efeito retroativo. Passou-se uma borracha no passado. Foram ao lixo
sanções como a imposta ao Sírio. O hospital já requereu a revalidação do certificado filantrópico.
"O Brasil precisa desses hospitais de ponta incorporados ao
sistema público", diz Raul Cutait, dirigente do Sírio. "Os 60%
eram inviáveis. As novas regras
representam uma alternativa. É
preciso dar tempo à proposta e
criar um sistema de avaliação
de sua eficácia."
Ao homenagear quem estava
à margem da lei, FHC foi descortês com gente como Antônio
Ermírio de Moraes. À frente da
Beneficência Portuguesa, o empresário zela para que 60% dos
pacientes do hospital venham
das filas do SUS.
FHC foi desleal também com o
time de Lula, alijado da discussão. Às voltas com esforço para
podar o déficit da Previdência, o
PT levanta o custo da generosidade alheia. À boca miúda, considera-se a hipótese de revogar
os atos. O lobby hospitalar descerá de novo a Esplanada.
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