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FÓRUM GLOBAL
Para empresário, risco de "desmoralizações" durante o processo político preocupa mais do que o perfil dos candidatos favoritos ao Planalto
Gerdau teme campanha eleitoral "cruenta"
CLÓVIS ROSSI
MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADOS ESPECIAIS A DAVOS
Jorge Gerdau Johannpeter, um
dos maiores pesos pesados do
empresariado brasileiro, não tem
medo particular de nenhum dos
presumíveis candidatos favoritos
à eleição de outubro, mas teme,
sim, a própria campanha eleitoral: "Se for cruenta, como tudo indica, poderá desmoralizar todo
mundo, ainda mais em um país
que tem tradição de promover
desmoralizações", diz Gerdau,
também coordenador da Ação
Empresarial Brasileira, ativo grupo que busca soluções para as reformas estruturais no país.
São exatamente essas reformas
que fazem aumentar o temor de
Gerdau. O empresário acha que
os problemas brasileiros já estão
devidamente mapeados. Falta
apenas o que chama de "inteligência política" para executá-las.
É óbvio que um presidente, seja
qual for, desmoralizado por uma
campanha eleitoral "cruenta", terá ainda mais dificuldades para
pôr em prática o que é necessário.
Quanto aos candidatos, ao menos os principais, preocupam menos. Gerdau acha que já não existem diferenças essenciais entre as
propostas dos grandes partidos.
Concorda com Gerdau outro
brasileiro de ascendência alemã
ou, mais exatamente, um alemão
nascido no Brasil, caso de Caio
Koch-Weser, que foi secretário de
Finanças na Alemanha com o anterior governo e acaba de ser convidado para o Deutsche Bank.
Koch-Weser, nascido em Rolândia (PR), também teme a campanha mais que os candidatos.
Motivo: "O escândalo de corrupção foi mais fundo do que se
imaginava", o que, naturalmente,
repercutirá na disputa eleitoral.
Koch-Weser evita fazer comentários mais agudos sobre o quadro eleitoral brasileiro.
Mas, quando a Folha perguntou
se era verdade que o mercado temia mais o prefeito de São Paulo,
José Serra (PSDB), do que Luiz
Inácio Lula da Silva, ergueu a sobrancelha em sinal de espanto e
respondeu com um forte "não".
Fora do radar
Mas, fora essas duas personalidades, ambas ligadas ao Brasil, o
assunto eleição brasileira ainda
não entrou na agenda da elite política, empresarial e acadêmica
que se reúne, todo mês de janeiro,
em Davos para o encontro anual
do Fórum Econômico Mundial.
Mesmo George Soros alega que
está desinformado. O mega-investidor ou mega-especulador
produziu, na campanha de 2002,
um diagnóstico bombátisco ("é
Serra ou o caos", afirmou em encontro informal com a Folha em
Nova York). Agora, conversando
com o mesmo jornalista, prefere
perguntar quando é a eleição e
quem são os candidatos.
Informado, prefere desviar o assunto para a economia. Diz que
estava preocupado com o baixo
crescimento brasileiro, mas o
brutal consumo chinês acabou
ajudando o desempenho da economia "não ter sido tão ruim".
Mas Soros concorda em que o
Brasil sumiu da agenda de Davos
neste ano. "Estão obcecados com
a China", explica.
Há quem veja outros problemas, além de a China desacelerar,
para o crescimento brasileiro. É o
caso de Laura D'Andrea Tyson
(London Business School e chefe
dos assessores econômicos da Casa Branca no primeiro governo
Bill Clinton): "Ajuste fiscal não
significa rápido crescimento. Faltam parcerias comerciais e uma
série de condições para crescer
mais", diz Tyson, que ressalva
não conhecer muito do Brasil.
Já Nancy Birdsall, que foi especialista do Banco Mundial em políticas de combate à pobreza e hoje preside o Centro para o Desenvolvimento Global (Estados Unidos), ataca pelo lado de sua especialidade, o social. Acha que seja
qual for o presidente eleito, terá
que cuidar do que faltou no governo Lula: "Equacionar a questão social".
Já o sarcástico Lawrence Summers, secretário do Tesouro norte-americano entre 1999 e 2001,
hoje presidente da Universidade
Harvard, acha até bom que o Brasil esteja fora da agenda.
"Nos últimos 15 anos, o Brasil
aparecia como fonte de potencial
ou real crise financeira. Agora,
não há esse problema, graças a
uma política fiscal sadia", diz.
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