São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Para governo, proposta de desagravo a ministro é "loucura" e alimentaria mais a crise

Pressão do Planalto faz PT desistir de ato pró-Dirceu

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT recuou, após pressão do governo e de líderes da base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e desistiu de realizar um ato nacional em desagravo ao ministro José Dirceu (Casa Civil).
Inicialmente previsto para a próxima quarta-feira, em Brasília, o ato pró-Dirceu foi esvaziado a pedido do próprio José Dirceu. Em seu lugar, a sigla fará uma reunião política em São Paulo, no dia 5, para discutir a conjuntura econômica e as eleições deste ano e o caso Waldomiro Diniz.
Ex-assessor de Dirceu na Casa Civil, Waldomiro foi flagrado pedindo propina ao empresário do bingo Carlos Cachoeira, em 2002, quando trabalhava para o governo de Benedita da Silva (PT) no Rio de Janeiro.
Em reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seus principais assessores e ministros ontem no Planalto, a proposta do desagravo foi classificada de "loucura" e "equívoco".
O temor de alguns setores do governo era de que um ato pró-Dirceu, ao invés de ajudar a superar a crise, colocasse mais gasolina na fogueira, a ponto de prejudicar o andamento da economia. A manifestação de apoio foi bombardeada também pela oposição.
Desde que o caso Waldomiro explodiu, no último dia 21, Dirceu vem sendo pressionado pela oposição a se afastar do cargo até que as denúncias sejam investigadas.
Até o final da tarde de ontem, a direção do PT insistia na versão de que a manifestação havia sido "transferida" para São Paulo. Mas, no início da noite, nota do partido afirmou: "O ato em solidariedade ao ministro José Dirceu, proposto por prefeitos e lideranças petistas, foi cancelado".
O presidente do PT, José Genoino, afirmou que o encontro em São Paulo não terá tom de desagravo. "Eu nunca usei essa palavra [desagravo]. Além disso, o próprio José Dirceu me telefonou para dizer que não precisava de um desagravo. Portanto, faremos uma reunião política em que, mais uma vez, iremos manifestar nossa total confiança no ministro", disse Genoino ontem.
"A direção nacional avaliou que este é um momento muito importante para o partido, que precisa concentrar esforços nos debates preparatórios para a campanha eleitoral", disse Sílvio Pereira, secretário de Comunicação do PT.
Waldomiro Diniz foi exonerado a pedido após o conteúdo da fita de vídeo em que aparece negociando com o empresário Carlinhos Cachoeira em 2002, quando era presidente da Loterj, ter sido divulgado. O ex-assessor já dividiu apartamento com José Dirceu. O ministro diz que não sabia das irregularidades. O Ministério Público Federal investiga a atuação de Waldomiro com empresários do bingo na atual gestão.

Longe do Planalto
A realização do desagravo em Brasília trombaria com a estratégia do governo de afastar do governo e do Planalto a crise.
Segundo Genoino, o motivo da transferência da reunião foi estrutural. "Em Brasília não conseguimos um local que pudesse receber todos os dirigentes." Mas o petista afirmou também que na capital federal há muito "bochicho" e que é "recomendável" ao PT fazer suas reuniões longe do Planalto.
"É bom que a reunião seja feita fora da Esplanada dos Ministérios. Brasília tem uma concentração muito grande de futrica, bochicho e "zunzunzum" que produz uma especulação que vai além do que é real", disse.
Atos de desagravo em todos os Estados, recomendados pela direção nacional, também foram suspensos. A idéia inicial do PT era realizar o desagravo em um local aberto, próximo ao Congresso ou ao Planalto. Agora, o partido fará a reunião, a portas fechadas, provavelmente em sua sede nacional.


Colaborou KENNEDY ALENCAR, da Sucursal de Brasília

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