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CONTAS PESSOAIS
Gasto supera R$ 1 milhão em três anos
Despesas de Pitta
superam sua renda
Adriana Zebrauskas/Folha Imagem
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O prefeito afastado Celso Pitta, em entrevista em seu gabinete |
ROBERTO COSSO
da Reportagem Local
As despesas atribuídas ao prefeito
afastado de São
Paulo, Celso Pitta
(PTN), superam os
rendimentos dele
que são conhecidos.
Levantamento feito pela Folha,
tendo como objeto o período de
1º de janeiro de 1997, quando Pitta
tomou posse na prefeitura, a 31 de
dezembro de 1999, mostra que ele
ganhou R$ 936.785 e teria gasto
pelo menos R$ 1.043.444,81.
O prefeito afastado tem salário
mensal de R$ 4.500, mais R$ 1.500
a título de representação. O salário líquido é de R$ 4.815. Em três
anos, ele ganhou R$ 187.785 líquidos, incluindo o 13º salário.
Segundo os contratos de empréstimo entre Pitta e o empresário Jorge Yunes registrados no 8º
Cartório de Registro de Títulos e
Documentos, ele tomou R$ 650
mil emprestados no período.
Em maio de 97, após ter sido
multado pela Receita Federal, Pitta anunciou ter contraído um empréstimo de R$ 99 mil no BCN.
A soma dessas três fontes de recursos resulta em R$ 936.785
-valor inferior às despesas atribuídas ao prefeito.
DESPESAS DOMÉSTICAS - Até
o final do ano passado, Pitta morava no apartamento que comprou com financiamento pelo
SFH (Sistema Financeiro da Habitação) na alameda Franca, nos
Jardins -bairro paulistano de
classe média alta.
De acordo com moradores do
local, o condomínio foi de cerca
de R$ 1.600 no mês passado. O valor projeta uma despesa total de
R$ 57.600 nos três anos.
Há duas linhas telefônicas fixas
instaladas no apartamento. As
contas que venceram ontem somam R$ 274,40.
Se o valor representar a despesa
média mensal do apartamento
com telefonia, em três anos Pitta
teria gasto R$ 9.878,40.
A conta de luz do apartamento
da alameda Franca também venceu ontem e custou R$ 526,15.
Atribuindo-se o valor como média mensal, Pitta teria gasto R$
18.941,40 com energia elétrica entre 1997 e 99.
A conta de gás vence hoje e custa R$ 78,31 -despesa de R$
2.819,16 em três anos.
A conta de água é cobrada diretamente no condomínio.
A avaliação das despesas domésticas do apartamento de Pitta
toma por base os valores de suas
contas de março de 2000 -únicos valores disponíveis.
Algumas tarifas públicas sofreram reajuste desde que Pitta assumiu a prefeitura, mas hoje a casa é
habitada por menos gente -Celso Pitta mudou-se para um flat no
final do ano passado e Roberta
Pitta, a filha mais velha do prefeito afastado, está morando em
Nova York desde 1999.
As despesas de Pitta com condomínio, telefonia fixa, energia
elétrica e gás de seu apartamento
somam R$ 89.238,96.
EMPREGADAS - Em depoimento ao Ministério Público do
Estado de São Paulo na semana
passada, Victor Pitta, filho do
prefeito afastado, declarou que o
apartamento de Pitta tem quatro
empregadas: uma cozinheira,
uma auxiliar de cozinha, uma
passadeira e uma arrumadeira.
Dados do Datafolha mostram
que o salário médio de uma cozinheira no período é R$ 904,88, o
que projeta uma despesa de R$
32.575,68 nos três anos.
De acordo com cinco agências
de emprego consultadas, uma auxiliar de cozinha ganha, em média, R$ 400 ao mês -ou R$
14.400 em três anos.
As agências informam ainda
que uma passadeira ganha, em
média, cerca de R$ 540 ao mês
-R$ 19.940 em três anos.
Segundo o Datafolha, o salário
médio de uma arrumadeira no
período foi de R$ 435,53. Isso representa uma despesa de R$
15.679,08 em três anos.
A despesa com empregadas teria sido, então, de R$ 82.094,76 no
período do levantamento.
Além de pagar os salários de
seus empregados, os patrões precisam gastar pelo menos mais
20,33% com os encargos trabalhistas -contribuição ao INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social) e 13º salário. Os encargos trabalhistas teriam consumido R$
16.689,86 nos três anos.
Dessa forma, a despesa total de
Pitta com empregadas no período seria de R$ 98.784,62.
SEGURANÇAS - Victor Pitta
também declarou ao Ministério
Público que ele e sua irmã tinham
quatro seguranças cada um, todos pagos pelo prefeito.
Segundo Victor, antes de Pitta
se separar de Nicéa, o prefeito dava o dinheiro dos seguranças para o filho, para que ele fizesse os
pagamentos. "Era em torno de R$
1.300 por mês, para cada um."
Ainda de acordo com o depoimento, Pitta pagou oito seguranças em 1997 e 1998 e apenas quatro em 1999, quando Roberta Pitta foi morar em Nova York.
Pelos valores fornecidos por
Victor, Pitta pagaria R$ 10.400
por mês aos oito seguranças nos
dois primeiros anos e R$ 5.200 no
último ano do levantamento. Isso
representa uma despesa total de
R$ 374.400 com salários dos seguranças no período.
Supondo que Pitta pague os encargos sociais desses funcionários, haveria uma despesa de mais
R$ 76.115,52. O custo total do serviço de segurança teria sido, então, de R$ 450.515,52.
Os seguranças da ex-primeira-dama Nicéa Pitta não eram pagos
pelo prefeito, mas pela prefeitura,
segundo Victor.
VIAGEM DE VICTOR - O filho
de Pitta afirmou ainda ter recebido duas remessas de dinheiro de
Pitta no exterior. A primeira, de
US$ 5.000, teria sido em Londres,
no final do ano passado. A segunda, de US$ 8.000, teria sido pouco
depois, em Nova York.
Os US$ 13 mil que teriam sido
enviados por Pitta representam
R$ 24.700 ao câmbio de 31 de dezembro de 1999.
Segundo Victor, Pitta teria pago
as passagens aéreas para sua viagem. Uma passagem São Paulo/
Londres/Nova York/São Paulo
custa cerca de R$ 2.500.
A viagem de Victor no final do
ano passado teria custado ao prefeito pelo menos R$ 27.200.
VIAGEM DE NICÉA - Segundo
o decorador Gabriel de Souza,
contratado pela ex-primeira-dama Nicéa Pitta para decorar o
apartamento de Roberta em Nova York, ela teria gasto mais de
US$ 130 mil no período em que
esteve na cidade, no ano passado.
Ele afirma que o aluguel do
apartamento de um quarto onde
Roberta mora, em edifício de
classe média alta, custou US$ 37,5
mil, por um ano.
A decoração do apartamento
teria saído por US$ 57 mil. A televisão, por US$ 1.800. A poltrona
da sala, por US$ 1.630.
Nicéa teria gasto US$ 6.500 em
um único dia, com a compra de
sapatos para Pitta e Victor, bolsa
para Roberta e calças para ela.
A ex-primeira-dama também
teria comprado duas bolsas, por
US$ 1.700 cada. Ao chegar em
Nova York, ainda segundo o decorador, Nicéa teria comprado
três celulares por US$ 1.000 cada
Os mais de US$ 130 mil gastos
por Nicéa em Nova York representam R$ 247 mil. As despesas
teriam sido bancadas por Pitta.
RECEITA FEDERAL - Uma considerável despesa do prefeito Pitta em 1997 foi com o pagamento
de multas à Receita Federal.
Em maio, ele foi multado em R$
99 mil por omissão de rendas. O
Fisco analisou as declarações de
Pitta feitas entre 1992 a 1995 e encontrou irregularidades em todas
elas. A omissão teria sido de cerca
de R$ 300 mil, cuja origem nunca
foi explicada pelo prefeito.
Em outubro, um recurso do
prefeito à multa fez com que a Receita devolvesse a ele R$ 17,8 mil
do valor pago cinco meses antes.
No final do ano, a Receita aplicou uma outra multa, de R$ 13
mil, dessa vez contra a então primeira-dama Nicéa Pitta.
O Fisco concluiu que ela havia
usado dinheiro de terceiros para
pagar R$ 30 mil em um Vectra,
comprado em 96. De acordo com
a Polícia Federal, o carro foi pago
pelo esquema de negociações irregulares com títulos públicos.
Assim, as despesas de Pitta com
o pagamento de multas à Receita
em 1997 somaram R$ 94,2 mil.
ALUGUEL DO TEMPRA - Ainda em 1997, a CPI dos Precatórios
descobriu que o Banco Vetor havia pago R$ 6.125,71 pelo aluguel
de um Tempra, durante 18 dias,
feito por Nicéa Pitta. Ao ser confirmada a informação, Pitta divulgou ter devolvido o dinheiro.
COPA DO MUNDO - Em 1998,
Pitta foi a Paris com a mulher assistir ao jogo de abertura da Copa
do Mundo. De acordo com o depoimento de Nicéa ao Ministério
Público, as passagens e o hotel
haviam sido pagas por uma empresa de lixo francesa que é dona
da Vega Ambiental -empresa
que presta serviços à prefeitura.
Ao saber que a "Folha da Tarde" havia divulgado o fato, Pitta
teria resolvido pagar as despesas.
Ele gastou R$ 12.926,40 com passagens aéreas e mais R$ 8.953,60
com hotel e outras despesas. O
custo da viagem foi R$ 21.880.
VIAGEM A PARIS - No início
do mês o prefeito passou quatro
dias em Paris, para dar palestra, e
gastou pelo menos R$ 8.500
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