São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


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CONTAS PESSOAIS
Gasto supera R$ 1 milhão em três anos
Despesas de Pitta superam sua renda

Adriana Zebrauskas/Folha Imagem
O prefeito afastado Celso Pitta, em entrevista em seu gabinete


ROBERTO COSSO
da Reportagem Local


As despesas atribuídas ao prefeito afastado de São Paulo, Celso Pitta (PTN), superam os rendimentos dele que são conhecidos.
Levantamento feito pela Folha, tendo como objeto o período de 1º de janeiro de 1997, quando Pitta tomou posse na prefeitura, a 31 de dezembro de 1999, mostra que ele ganhou R$ 936.785 e teria gasto pelo menos R$ 1.043.444,81.
O prefeito afastado tem salário mensal de R$ 4.500, mais R$ 1.500 a título de representação. O salário líquido é de R$ 4.815. Em três anos, ele ganhou R$ 187.785 líquidos, incluindo o 13º salário.
Segundo os contratos de empréstimo entre Pitta e o empresário Jorge Yunes registrados no 8º Cartório de Registro de Títulos e Documentos, ele tomou R$ 650 mil emprestados no período.
Em maio de 97, após ter sido multado pela Receita Federal, Pitta anunciou ter contraído um empréstimo de R$ 99 mil no BCN.
A soma dessas três fontes de recursos resulta em R$ 936.785 -valor inferior às despesas atribuídas ao prefeito.

DESPESAS DOMÉSTICAS
- Até o final do ano passado, Pitta morava no apartamento que comprou com financiamento pelo SFH (Sistema Financeiro da Habitação) na alameda Franca, nos Jardins -bairro paulistano de classe média alta.
De acordo com moradores do local, o condomínio foi de cerca de R$ 1.600 no mês passado. O valor projeta uma despesa total de R$ 57.600 nos três anos.
Há duas linhas telefônicas fixas instaladas no apartamento. As contas que venceram ontem somam R$ 274,40.
Se o valor representar a despesa média mensal do apartamento com telefonia, em três anos Pitta teria gasto R$ 9.878,40.
A conta de luz do apartamento da alameda Franca também venceu ontem e custou R$ 526,15. Atribuindo-se o valor como média mensal, Pitta teria gasto R$ 18.941,40 com energia elétrica entre 1997 e 99.
A conta de gás vence hoje e custa R$ 78,31 -despesa de R$ 2.819,16 em três anos.
A conta de água é cobrada diretamente no condomínio.
A avaliação das despesas domésticas do apartamento de Pitta toma por base os valores de suas contas de março de 2000 -únicos valores disponíveis.
Algumas tarifas públicas sofreram reajuste desde que Pitta assumiu a prefeitura, mas hoje a casa é habitada por menos gente -Celso Pitta mudou-se para um flat no final do ano passado e Roberta Pitta, a filha mais velha do prefeito afastado, está morando em Nova York desde 1999.
As despesas de Pitta com condomínio, telefonia fixa, energia elétrica e gás de seu apartamento somam R$ 89.238,96.

EMPREGADAS
- Em depoimento ao Ministério Público do Estado de São Paulo na semana passada, Victor Pitta, filho do prefeito afastado, declarou que o apartamento de Pitta tem quatro empregadas: uma cozinheira, uma auxiliar de cozinha, uma passadeira e uma arrumadeira.
Dados do Datafolha mostram que o salário médio de uma cozinheira no período é R$ 904,88, o que projeta uma despesa de R$ 32.575,68 nos três anos.
De acordo com cinco agências de emprego consultadas, uma auxiliar de cozinha ganha, em média, R$ 400 ao mês -ou R$ 14.400 em três anos.
As agências informam ainda que uma passadeira ganha, em média, cerca de R$ 540 ao mês -R$ 19.940 em três anos.
Segundo o Datafolha, o salário médio de uma arrumadeira no período foi de R$ 435,53. Isso representa uma despesa de R$ 15.679,08 em três anos.
A despesa com empregadas teria sido, então, de R$ 82.094,76 no período do levantamento.
Além de pagar os salários de seus empregados, os patrões precisam gastar pelo menos mais 20,33% com os encargos trabalhistas -contribuição ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e 13º salário. Os encargos trabalhistas teriam consumido R$ 16.689,86 nos três anos.
Dessa forma, a despesa total de Pitta com empregadas no período seria de R$ 98.784,62.

SEGURANÇAS
- Victor Pitta também declarou ao Ministério Público que ele e sua irmã tinham quatro seguranças cada um, todos pagos pelo prefeito.
Segundo Victor, antes de Pitta se separar de Nicéa, o prefeito dava o dinheiro dos seguranças para o filho, para que ele fizesse os pagamentos. "Era em torno de R$ 1.300 por mês, para cada um."
Ainda de acordo com o depoimento, Pitta pagou oito seguranças em 1997 e 1998 e apenas quatro em 1999, quando Roberta Pitta foi morar em Nova York.
Pelos valores fornecidos por Victor, Pitta pagaria R$ 10.400 por mês aos oito seguranças nos dois primeiros anos e R$ 5.200 no último ano do levantamento. Isso representa uma despesa total de R$ 374.400 com salários dos seguranças no período.
Supondo que Pitta pague os encargos sociais desses funcionários, haveria uma despesa de mais R$ 76.115,52. O custo total do serviço de segurança teria sido, então, de R$ 450.515,52.
Os seguranças da ex-primeira-dama Nicéa Pitta não eram pagos pelo prefeito, mas pela prefeitura, segundo Victor.

VIAGEM DE VICTOR
- O filho de Pitta afirmou ainda ter recebido duas remessas de dinheiro de Pitta no exterior. A primeira, de US$ 5.000, teria sido em Londres, no final do ano passado. A segunda, de US$ 8.000, teria sido pouco depois, em Nova York.
Os US$ 13 mil que teriam sido enviados por Pitta representam R$ 24.700 ao câmbio de 31 de dezembro de 1999.
Segundo Victor, Pitta teria pago as passagens aéreas para sua viagem. Uma passagem São Paulo/ Londres/Nova York/São Paulo custa cerca de R$ 2.500.
A viagem de Victor no final do ano passado teria custado ao prefeito pelo menos R$ 27.200.

VIAGEM DE NICÉA
- Segundo o decorador Gabriel de Souza, contratado pela ex-primeira-dama Nicéa Pitta para decorar o apartamento de Roberta em Nova York, ela teria gasto mais de US$ 130 mil no período em que esteve na cidade, no ano passado.
Ele afirma que o aluguel do apartamento de um quarto onde Roberta mora, em edifício de classe média alta, custou US$ 37,5 mil, por um ano.
A decoração do apartamento teria saído por US$ 57 mil. A televisão, por US$ 1.800. A poltrona da sala, por US$ 1.630.
Nicéa teria gasto US$ 6.500 em um único dia, com a compra de sapatos para Pitta e Victor, bolsa para Roberta e calças para ela.
A ex-primeira-dama também teria comprado duas bolsas, por US$ 1.700 cada. Ao chegar em Nova York, ainda segundo o decorador, Nicéa teria comprado três celulares por US$ 1.000 cada
Os mais de US$ 130 mil gastos por Nicéa em Nova York representam R$ 247 mil. As despesas teriam sido bancadas por Pitta.

RECEITA FEDERAL
- Uma considerável despesa do prefeito Pitta em 1997 foi com o pagamento de multas à Receita Federal.
Em maio, ele foi multado em R$ 99 mil por omissão de rendas. O Fisco analisou as declarações de Pitta feitas entre 1992 a 1995 e encontrou irregularidades em todas elas. A omissão teria sido de cerca de R$ 300 mil, cuja origem nunca foi explicada pelo prefeito.
Em outubro, um recurso do prefeito à multa fez com que a Receita devolvesse a ele R$ 17,8 mil do valor pago cinco meses antes.
No final do ano, a Receita aplicou uma outra multa, de R$ 13 mil, dessa vez contra a então primeira-dama Nicéa Pitta.
O Fisco concluiu que ela havia usado dinheiro de terceiros para pagar R$ 30 mil em um Vectra, comprado em 96. De acordo com a Polícia Federal, o carro foi pago pelo esquema de negociações irregulares com títulos públicos.
Assim, as despesas de Pitta com o pagamento de multas à Receita em 1997 somaram R$ 94,2 mil.

ALUGUEL DO TEMPRA
- Ainda em 1997, a CPI dos Precatórios descobriu que o Banco Vetor havia pago R$ 6.125,71 pelo aluguel de um Tempra, durante 18 dias, feito por Nicéa Pitta. Ao ser confirmada a informação, Pitta divulgou ter devolvido o dinheiro.

COPA DO MUNDO
- Em 1998, Pitta foi a Paris com a mulher assistir ao jogo de abertura da Copa do Mundo. De acordo com o depoimento de Nicéa ao Ministério Público, as passagens e o hotel haviam sido pagas por uma empresa de lixo francesa que é dona da Vega Ambiental -empresa que presta serviços à prefeitura.
Ao saber que a "Folha da Tarde" havia divulgado o fato, Pitta teria resolvido pagar as despesas. Ele gastou R$ 12.926,40 com passagens aéreas e mais R$ 8.953,60 com hotel e outras despesas. O custo da viagem foi R$ 21.880.

VIAGEM A PARIS
- No início do mês o prefeito passou quatro dias em Paris, para dar palestra, e gastou pelo menos R$ 8.500





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