São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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Lula afasta Dirceu da operação política

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou o afastamento do ministro José Dirceu (Casa Civil) da articulação política com o Congresso, que deve ficar concentrada na Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, criada na reforma ministerial de janeiro e comandada por Aldo Rebelo (PC do B-SP).
A decisão foi transmitida aos líderes na noite de quarta-feira pelo próprio Aldo, em jantar que reuniu líderes e ministros na residência oficial do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Ao lado de Aldo, Dirceu confirmou: disse que sua função era administrativa, voltada para dentro do governo. Esse era o objetivo da reforma de janeiro. Na prática, porém, Dirceu continuou a operar diretamente com o Congresso.
Anteontem foi um dia difícil para Dirceu. Em uma das várias reuniões que teve no Planalto, Lula chegou a discutir a substituição do ministro pelo presidente da Câmara, cargo que seria assumido pelo 2º vice-presidente, Inocêncio Oliveira (PFL-PE). O ministro reagiu duramente, assim como, na tarde de quarta, havia reagido a um almoço dos líderes e presidentes do PTB, PL e PP.
O ministro ligou para alguns dos presentes perguntando se eles queriam derrubá-lo. O líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), pensou até em não ir ao jantar na casa de João Paulo. Foi, mas, assim como os demais, estava preparado para reagir a outro eventual ataque de Dirceu, que chegou sorridente, acompanhado de Antonio Palocci Filho (Fazenda).
A presença de Palocci e Dirceu no jantar também foi uma determinação de Lula para evitar mais boatos sobre as divergências entre os dois. Eunício Oliveira (Comunicações) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) já queriam ir mesmo. A presença dos dois, alegou Lula, era importante, pois Aldo já estava indo com soluções para os problemas dos congressistas (verbas e cargos).
De acordo com deputados presentes, Palocci disse, em seu discurso, que ele e Dirceu "estão juntos na concepção da política econômica". Dirceu teria dito que "não há divergências no governo e o único maestro é Lula".
Uma das queixas recorrentes dos líderes era que os ministros não atendem aos congressistas. Em meio ao jantar, Lula ligou para Aldo e disse que baixaria circular até hoje determinando que os ministros atendam e respondam a pedidos de informação de congressistas no prazo de 48 horas.
O governo espera votar já na terça-feira a medida provisória dos bingos, nos termos do relatório a ser apresentado pelo deputado Roberto Magalhães (PTB-PE).


Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília


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