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CELSO PINTO
A ganância supera o medo
A redução dos juros, anunciada
quarta-feira, aumentou o otimismo do mercado. As previsões de
juros despencaram, o câmbio caiu
a R$ 1,79 por dólar, os títulos da
dívida valorizaram, a Bolsa subiu
4,8% e o dinheiro especulativo
continuou a entrar.
Trata-se de uma guinada típica
do mercado financeiro, dos momentos em que a ganância supera
o medo. São dois os fatores que
alimentam a ganância: a possibilidade de ter lucros polpudos a
curto prazo e a perspectiva de que,
a cada dia adiado, o lucro pode
ser um pouco menor.
Isso se dá quando o mercado se
convence de que o real vai continuar se valorizando em relação
ao dólar e de que os juros vão continuar a cair. Para um investidor
que tem dinheiro no exterior, isso
significa que, a cada dia que passa, ele pode deixar de ganhar algum juro a mais e um extra com a
valorização do real. Por enquanto, isso tem sensibilizado principalmente brasileiros com dólares
no exterior.
Essas guinadas costumam ser
fortes, porque se auto-alimentam.
Quanto mais gente acha isso,
mais dólares entram, o que leva a
mais valorização do real e a mais
redução dos juros. Torna-se uma
profecia auto-realizável.
Ontem esse sentimento se refletiu nos mercados futuros. Os juros
futuros válidos para abril estavam em 40,77% e caíram para
37,76%. Os válidos para maio caíram de 36,85% para 33,2%.
Num exercício feito por um banco, esse nível de juros médio seria
hipoteticamente compatível com
um corte dos juros para 36% na
próxima reunião do Conselho de
Política Monetária (Copom), dia
14 de abril, e outro corte, para
30%, na reunião do Copom em 19
de maio. Não quer dizer que isso
vá acontecer, apenas dá uma
idéia do que o mercado está projetando.
Outro exemplo significativo. Os
papéis prefixados que o BC acabou de vender ao mercado rendendo 42,5% ao ano, eram negociados ontem a 39% no mercado
secundário. Em outras palavras, o
BC poderia vender mais papéis, se
quisesse, rendendo 39% ou menos. Quem perdeu o primeiro leilão, já está arrependido.
Existem, é claro, riscos de reversões. O fato de o BC ter deixado o
câmbio cair até R$ 1,79, por exemplo, preocupou. Foi uma queda
forte demais para um dia. Até
agora, o BC vinha comprando dólares no mercado para evitar valorizações tão acentuadas do real.
É bom lembrar, contudo, a postura do diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo. Numa conversa com a
coluna na última sexta-feira, ele
insistiu em que "nossa real intenção não é interferir na taxa", ainda que o BC não queira volatilidade muito forte.
"Não seremos viúvas do câmbio
fixo", definiu Figueiredo. "No
câmbio flutuante, a taxa flutua:
cai e sobe". Uma razão para deixar flutuar é fazer com que "as
pessoas se sintam incomodadas
em indexar qualquer coisa ao
câmbio". Ou seja, se alguém quiser se "proteger" fixando preços
em dólares, pode estar sujeito a
prejuízos inesperados.
A melhora nas condições para o
Brasil também chegou ao mercado internacional de bônus, reaberto por algumas empresas e
bancos de primeira linha. A aversão ao risco latino-americano,
fortíssima no final do ano passado, diminuiu bastante. Ontem
mesmo, o México colocou mais
US$ 1 bilhão em bônus de oito
anos de prazo.
Existe uma expectativa positiva
em relação à futura colocação de
papéis do Brasil, estimada entre
US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões. O
mercado para papéis de empresas
privadas continua muito limitado, mas melhorou.
Alguns papéis brasileiros de empresas reduziram pela metade os
prêmios altíssimos que chegaram
a pagar no mercado secundário.
Investidores externos (muitos dos
quais brasileiros) relutavam em
aceitar papéis com vencimento
(ou opção de resgate) além do
próximo ano. Agora, já há demanda para papéis até 2001 e
2002.
Mudou o formato da demanda.
Antes da crise, havia muitos fundos que investiam em bônus desse
tipo. Hoje, o que existe são investidores individuais. Talvez o mercado nunca mais volte a ser o que
já foi, mas a situação melhorou.
Tudo isso ajuda a travessia no
curto prazo, mas é dinheiro volátil. Para dar certo, é preciso que
não haja surpresas negativas e,
principalmente, que seja possível
ter um fluxo de melhor qualidade
entre 3 e 6 meses. O risco, portanto, não desapareceu.
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