São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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REAÇÃO EXTERNA
Para investidores internacionais, agilidade do presidente inverteu expectativas negativas sobre o país
Posição de FHC afasta crise de incerteza

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

A decisão do presidente Fernando Henrique Cardoso de assumir a coordenação política do governo, após a morte de seus principais articuladores, o ministro Sérgio Motta e o deputado Luís Eduardo Magalhães, evitou uma crise de incerteza em relação ao Brasil nos mercados internacionais.
Essa é a avaliação unânime dos principais estrategistas de bancos de investimentos de Nova York. A rapidez da iniciativa do presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmam, inverteu a tendência de queda das ações e papéis da dívida brasileira (a Bolsa de São Paulo chegou a cair 3% no início da semana -a pior queda dos últimos dois meses) e de aumento do chamado "risco Brasil" (a percepção dos investidores internacionais sobre a insegurança de apostar no país).
Segundo essa análise, a convocação, pelo próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, de ministros e líderes governistas para uma reunião, terça-feira, no Palácio do Planalto, em Brasília, enviou um sinal positivo à comunidade econômica internacional sobre a sua determinação de manter o cronograma de reforma da Previdência Social, com a conclusão da votação, em primeiro turno, na Câmara, nos dias 28 e 29 deste mês.
O segundo turno está previsto para maio.
Credibilidade
"Devido à credibilidade do presidente Fernando Henrique Cardoso no cenário internacional, a sua participação direta nas negociações políticas aumenta a expectativa no exterior de aprovação da reforma da Previdência ainda neste primeiro semestre", diz Lawrence Goodman, principal economista do Santander Investment, de Nova York.
"O envolvimento político do presidente, preenchendo a lacuna deixada por Luís Eduardo Magalhães, envia um sinal positivo muito forte para o mercado", diz Lawrence Goodman.
"As mortes sucessivas de Sérgio Motta e Luís Eduardo Magalhães causaram insegurança no mercado, mas os temores diminuíram na proporção direta da ação firme do presidente Fernando Henrique na defesa da continuidade das reformas", afirma.
Sem Luís Eduardo Magalhães, a reforma da Previdência gera um novo desafio para o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas não é uma situação irremediável. Com o empenho pessoal dele, agora garantido, acho que a aprovação ainda é factível até junho, quando se esgota a oportunidade política de reformas este ano", afirma Paulo Leme, principal economista e vice-presidente do Goldman Sachs, de Nova York.
"O impacto inicial que a morte de Sérgio Motta e Luís Eduardo Magalhães teve no mercado resultou, obviamente, numa certa desorientação, dada a importância política dos dois, mas as implicações dessas perdas para o presidente Fernando Henrique Cardoso podem ser resumidas numa frase: o vôo das reformas corre o risco de chegar atrasado, mas não será cancelado, nem há risco de o avião cair", afirma Paulo Leme.
Marilyn Skiles, chefe do departamento de pesquisa econômica sobre a América Latina do Chase Manhattan, de Nova York, diz que o papel ativo do presidente Fernando Henrique Cardoso na reunião de terça-feira, a julgar pela sua atuação bem-sucedida em incursões anteriores no processo de negociação política, pode representar a linha divisória entre o sucesso e o fracasso da aprovação da reforma da Previdência antes da eleição de 4 de outubro.
"Isso não faria muita diferença para a política fiscal a curto prazo, já que o efeito da reforma da Previdência acontecerá a médio e longo prazo, mas manteria elevadas as expectativas em relação ao andamento e ao progresso do programa econômico do Brasil", diz Marilyn Skiles.
Telecomunicações
Segundo os estrategistas internacionais, a percepção consensual do mercado de Nova York é a de que a morte de Sérgio Motta não afetará a venda das empresas de telecomunicações, tidas pelos investidores estrangeiros como a nata das privatizações previstas para este ano no país.
"Sérgio Motta deixou o processo de privatização do setor de telecomunicações muito adiantado e entregue às mãos competentes de Luiz Carlos Mendonça de Barros e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social."
"Um processo de privatização tem pequenos atrasos de natureza técnica ou legal, mas acredito que a venda da Telebrás deverá se concretizar entre julho e agosto", afirma Paulo Leme.



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