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OPERAÇÃO FRANÇA
Valor do acordo comercial chega a US$ 395,3 milhões
PFL e PT se unem contra contrato da PF sem licitação
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
Parlamentares do PT e do PFL
entram nesta semana na Câmara e
no Senado com pedidos de explicação e convocação dos responsáveis pelo contrato comercial firmado entre a Polícia Federal e o
governo da França no valor de
US$ 395,3 milhões -operação divulgada pela Folha no dia 17 passado.
Esse é o valor máximo que a PF
poderá comprar, segundo o contrato, em equipamentos para os
projetos Pró-Amazônia (que reequipa a polícia nessa região) e Promotec (de informatização do órgão). A compra será feita sem licitação sob o argumento de se tratar
de segurança nacional.
Apesar de envolver segurança
nacional, o contrato prevê a aquisição de materiais comuns, como
oito bolsas para transporte de pára-quedas, oito martelos para escalada, quatro "kits" de entrada
forçada, incluindo "alavanca do
tipo pé-de-cabra" e 48 binóculos.
Também estão sendo comprados helicópteros, pequenos
aviões, armas e munição.
Para o deputado federal Fernando Ferro (PT-PE) e para o senador
José Eduardo Dutra (PT-SE), "é
injustificável" a compra de tantos
equipamentos sem licitação.
Outro projeto militar para a
Amazônia de valor superior, o Sivam (Sistema de Vigilância da
Amazônia, de R$ 1,4 bilhão), foi
implantado depois de um longo
processo de tomada internacional
pública de preços.
Razões
Segundo a Folha apurou, há
duas razões básicas para a PF estar
fazendo essa compra da França.
A primeira é que o governo brasileiro prometeu aos franceses
uma compensação pelo fato de a
empresa Thomson, da França, ter
sido excluída do Sivam -cujos
equipamentos estão sendo fornecidos pela Raytheon, dos EUA.
A segunda razão é que a França
estaria interessada em manter alguma influência tecnológica na
América Latina. E, por isso, estaria
oferecendo condições de pagamento muito favoráveis só para
ter seus equipamentos usados pela
PF brasileira.
A França está financiando tudo
em 15 anos, a juros de 5,9% ao
ano. O governo brasileiro só precisará pagar a primeira prestação
depois de cinco anos.
"Essa condição facilitada de financiamento não pode ser, sozinha, o único argumento para a PF
dispensar a licitação. Por isso estou solicitando uma lista completa
de todos os equipamentos e o preço unitário de cada um", diz o senador Romeu Tuma (PFL-SP).
O contrato assinado entre a PF e
a Sofremi -empresa estatal francesa que representa o governo daquele país nessa operação- contém uma curiosidade: só apresenta
a quantidade de material a ser
comprado e o valor total da aquisição. Não há preços unitários.
Convocação
O deputado petista Fernando
Ferro apresentará à Câmara um
pedido de convocação do ministro
da Justiça, Renan Calheiros, o responsável direto pela PF, que é dirigida por Vicente Chelotti. Na data
da assinatura do contrato, 31 de
março passado, ainda ocupava o
cargo de ministro o senador Iris
Rezende (PMDB-GO).
Ferro também vai requerer à Comissão de Fiscalização Financeira
e Controle da Câmara uma "inspeção de auditoria de natureza
contábil, financeira, orçamentária
e operacional" na PF por conta
dos equipamentos que estão sendo comprados para os projetos
Pró-Amazônia e Promotec.
No Senado, o petista José Eduardo Dutra pretende também entregar um requerimento de auditoria
sobre o assunto. "Esse contrato
da PF, no mínimo, subestima a inteligência da população", diz.
O senador petista já esteve pessoalmente no TCU (Tribunal de
Contas da União) para comunicar
ao presidente do órgão, Homero
Santos, a sua intenção.
O requerimento de Dutra solicita ao Senado acionar o TCU para
uma "inspeção especial e extraordinária sobre os contratos firmados entre o Departamento de Polícia Federal" e o governo francês.
Na justificativa de seu pedido,
Dutra diz o seguinte, baseado na
reportagem da Folha: "A pretexto
do surrado argumento da segurança nacional, mais uma vez assistimos administradores públicos
subvertendo o fundamental e imprescindível instituto da licitação
para disciplinar as relações entre o
público e o privado".
Esses pedidos todos vão se somar aos já apresentados pelo senador Gilberto Miranda (PFL-AM),
que requisitou todos os documentos relativos ao acordo firmado
entre a PF e a França.
Miranda também pretende convocar para depor sobre o assunto
no Senado os dirigentes da Fundação Atech, uma empresa contratada por R$ 19,9 milhões, também
sem licitação, para fazer a instalação dos equipamentos para a PF.
A Atech é formada por ex-integrantes da Esca, uma empresa que
esteve envolvida em irregularidades administrativas durante o processo de escolha do fornecimento
de materiais para o Sivam.
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