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JANIO DE FREITAS
ACM
Os redatores que simplificam a tarefa adaptando títulos de filmes e peças, dos quais
o "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" parece inesgotável na criação de mediocrices,
não faltarão, agora, com o título "ACM, a Volta". Não há
volta, porém.
A suposição peessedebista
de que Antonio Carlos Magalhães, derrubado pela desgraça, abandonaria o centro de
decisão, deixando de ser o
grande fortalecido com a ausência de Sérgio Motta, foi
mera excitação de neófitos.
Por ora, não se sabe o que
Antonio Carlos será e fará daqui para a frente, e é bem provável que nem ele o saiba, impedido ainda pelas circunstâncias de pensar a respeito.
Sabe-se, porém, um punhado de outras coisas. Por exemplo, que Antonio Carlos Magalhães faz parte do gênero de
pessoas com têmpera incomum. Discordar dele sempre
foi fácil, mas não há como ignorar que seu percurso, até a
dimensão que há muito tem
na política, não se fez de adesões pegajosas e indefinições
convenientes.
Inaceitável com frequência,
polêmica muitas vezes, compreensível e elogiável em outras ocasiões, sua atitude foi
sempre de batalhador. Em luta pela manutenção do poder
conquistado e de mais poder,
com a largueza de métodos
própria dos que se determinam a galgar o poder. Antonio Carlos nunca foi político
de táticas sutis, de transversais refinadas. Ao objetivo pelo caminho mais objetivo
-eis sua linha.
Desde que se determinou a
ver Luís Eduardo na Presidência, sabia-se que atitudes
pavimentavam esse caminho
no atual quadro. Findo o objetivo, Antonio Carlos é uma
incógnita. Em termos, porém.
Porque uma incógnita com a
têmpera de Antonio Carlos
continua sendo mais têmpera
do que incógnita.
Bem capaz, entre tantas hipóteses, de só sentir agora
obrigações com suas idéias
para o país, acima de partido,
de eleição, de governo, de presidente. Talvez aquelas idéias,
sejam quais forem, que gostaria de ver na ação do filho
presidente e que sejam um dos
seus modos de lembrá-lo.
Antonio Carlos não está voltando ao que não abandonou
-o poder. Está continuando.
Como e se continuará a fazê-lo, é resposta para depois. E
dele.
Outro de risco
A convocação imediata de
uma reunião com os ministros e líderes governistas no
Congresso, marcada para terça-feira, evidencia que Fernando Henrique Cardoso
quer dar uma demonstração
de força pessoal, de suficiência para tudo conduzir mesmo sem Sérgio Motta e Luís
Eduardo.
Para começar, não é uma
boa homenagem que presta
aos dois colaboradores tão
decisivos, como primeiro ato
de governo após as mortes deles.
E é a criação irrefletida de
um risco. Quando, ainda no
começo do mês, Luís Eduardo,
Michel Temer e Inocêncio Oliveira chutaram para o dia 28
a tentativa de retomar a votação da Previdência, não o
fizeram à toa. Foram forçados
pela recusa do conjunto governista em fazer as aprovações desejadas pelo governo.
Não há indício de que as
resistências estejam vencidas,
e as ressalvas de Michel Temer quanto ao início das votações é bem sugestivo. A
reorganização da base governista é possível, claro. Mas, se
continuar inconveniente para
o governo a abertura das votações na terça ou na quarta-feira, a demonstração de
Fernando Henrique resultará
no oposto do seu propósito.
Numerosos parlamentares
estão cobrando as promessas
feitas para votações anteriores, e não pagas. Muitos outros têm negociações iniciadas e inconcluídas. E um vasto contingente não tem vontade de aprovar, logo agora,
medidas reconhecidamente
prejudiciais à maioria do
eleitorado.
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