São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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CELSO PINTO
O que atrai no Garantia

As negociações entre o Banco Garantia e o Credit Suisse First Boston, o CSFB, estão avançadas, mas ainda não estão fechadas nem são exclusivas.
O Garantia continua conversando com dois outros bancos, um dos quais é a Goldman Sachs. Existe, ainda, um quarto banco que pode vir a entrar na conversa.
O que está em jogo, do ponto de vista dos bancos de investimento internacionais, é o passe de entrada para o topo de uma série de operações no Brasil. Para o Garantia, é um passo visto como inevitável, se o banco quiser se manter como banco de investimentos com ampla atuação.
Quase todos os grandes bancos de investimentos internacionais entraram ou ampliaram sua presença no Brasil nos últimos anos. A eventual aquisição do Garantia, contudo, representaria um salto na frente dos concorrentes em termos de operações internas no país.
São quatro os grandes bancos de investimentos americanos: a Merrill Lynch, a Salomon Smith Barney, o Morgan Stanley e a Goldman Sachs. A Merrill Lynch está ampliando seu espaço no Brasil por meio de um banco múltiplo e uma distribuidora. O Morgan Stanley também tem autorização para montar um banco múltiplo.
A Salomon tem 50% do capital do banco Patrimônio e uma associação para administração de recursos com o Bradesco. A Smith Barney, recentemente incorporada à Salomon, pertence ao grupo Travellers que, por sua vez, acabou de fundir-se com o Citicorp para formar o maior grupo financeiro do mundo. A Salomon, portanto, acabou ficando com uma ligação com o Citi, que tem uma forte operação no Brasil.
Dos quatro grandes, apenas a Goldman Sachs mantém apenas um escritório de representação no Brasil. Entre os outros americanos, o JP Morgan tem um banco múltiplo e uma corretora no Brasil. A Bear Sterns e a Lehman mantêm apenas escritórios de representação, mas já declararam ter planos mais ambiciosos para o país. O Bankers tem uma associação com o Itaú num banco de investimentos. O Chase tem uma operação tradicional no país na área de banco de investimento.
Entre os suíços, o CSFB tem o direito de montar um banco múltiplo, e o Swiss Bank Corp comprou a Omega (corretora e banco múltiplo). O britânico Robert Flemings comprou a Graphus (corretora e banco múltiplo). O alemão Deutsche Morgan Grenfell herdou as operações do banco Deutsche no Brasil.
Outro alemão-britânico é o Dresdner Kleinwort Benson que, embora só tenha um escritório, ampliou muito a equipe no Brasil. O holandês ABN-Amro tem um banco múltiplo, está no varejo, mas também é forte no atacado. O ING, também holandês, tem um banco comercial e uma corretora. O francês Indosuez, hoje do Crédit Commerciale de France, tem uma distribuidora.
Mesmo levando em conta toda a expansão recente, quem eventualmente comprar o Garantia vai pular para o topo das operações brasileiras de fusões e aquisições, lançamentos de ações e tesouraria. Ou seja, o Garantia faz diferença, mesmo considerando que a área de bancos de investimento já é internacionalizada, ao contrário dos bancos comerciais, onde a presença estrangeira é limitada.
Para o Garantia, o passo seria inevitável para mantê-lo competitivo como um banco de investimentos de atuação geral. O espaço para bancos de investimento independentes está acabando em todo o mundo, não só no Brasil. A capacidade de distribuição mundial de bancos internacionais lhes dá uma grande vantagem em várias operações.
Jorge Paulo Lemann, principal sócio do Garantia, acha que pode haver espaço para bancos de investimento independentes que se dediquem a nichos de negócio, como disse, há uma semana, na "Latin American Business Conference", em Harvard, Boston. Um desses nichos, a seu ver, poderia ser "private equity", fundos de investimento em empresas, algo que, a seu ver, depende mais da qualidade da relação pessoal do que do tamanho da organização.
Para manter um banco de investimentos global, contudo, parece inevitável buscar um parceiro internacional. Se o negócio for feito, é provável que só permaneçam no Garantia os sócios mais jovens.




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