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MÍDIA
Congresso deverá votar até o fim do ano possibilidade de participação estrangeira em radiodifusão e imprensa
Emenda prevê abertura das comunicações
DANIEL CASTRO
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
É a última barreira para a abertura das comunicações ao capital
estrangeiro.
A proposta de emenda constitucional 455/97, do deputado Aloysio Nunes Ferreira, com apoio de
entidades empresariais, derruba a
norma de que a propriedade em
radiodifusão (TV aberta e rádio) e
imprensa é exclusiva de cidadãos
brasileiros.
A emenda passou por unanimidade na Comissão de Constituição
e Justiça e aguarda formação de
comissão especial. A projeção do
deputado do PSDB-SP é que seja
votada na comissão ainda neste
primeiro semestre e chegue ao
plenário no segundo.
A emenda não altera inteiramente a norma constitucional vigente. Abre as empresas de comunicação, até o limite de 30% do capital, para investidores externos.
Hoje o investimento é restrito, em
100% do capital, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de
dez anos.
Conglomerados multinacionais
já demonstram interesse.
A Sony, grupo que inclui a Columbia TriStar Television, está retendo investimentos em outros
países à espera da emenda. "Ser
sócio de TV aberta no Brasil é o
nosso plano número um", diz
Dorien Sutherland, diretor-geral
da Columbia TriStar na América
Latina.
A Sony/Columbia é uma das empresas que aproveitaram as brechas que foram abertas em TV,
nos últimos três anos, para iniciar
investimentos. É sócia da HBO
Brasil e está fechando acordo de
co-produção com a Bandeirantes.
Mercado crescente
A abertura das comunicações no
Brasil começou, formalmente,
com a lei 8.977/95, que definiu a
TV paga a cabo como telecomunicações e não radiodifusão -o
que, aliás, ainda é contestado. A
lei liberou as empresas para o capital estrangeiro, no limite de
49%.
Posteriormente, duas portarias
do Ministério das Comunicações
liberaram a participação em TV
por satélite (portaria 321) e
MMDS, serviço de TV paga via
microondas (portaria 254). As
duas áreas já eram vistas como
abertas, sempre por omissão da
legislação.
O efeito da gradual abertura foi a
crescente presença dos conglomerados, como Time-Warner, Disney, News Corporation e TCI, em
diversos empreendimentos em cabo, satélite e programação (veja
quadro ao lado).
"O Brasil é um dos mercados de
TV que mais crescem no mundo", diz Jeffrey Whalen, vice-presidente de marketing da Disney
International. "Até agora, pudemos solucionar algumas dificuldades trabalhando conjuntamente
com empresas competidoras.
Nossos planos são de expandir a
presença."
Aloysio Nunes Ferreira defende
sua proposta de emenda dizendo,
entre outras coisas, que busca tornar mais "transparentes as relações empresariais nos meios de
comunicação, que, em grande
parte, hoje, se fazem por baixo do
pano".
Ponto de partida
Joaquim Mendonça, presidente
da Abert (Associação Brasileira de
Emissoras de Rádio e Televisão),
uma das entidades que se reuniram com o deputado antes da
apresentação da proposta, diz que
ela é "benéfica", mas considera o
limite de 30% baixo.
"Nós discutimos o que seria razoável", diz. "Eu acho que 49%
seriam razoáveis. Outros queriam
5%, outros, 20%. Você entraria
num negócio com 30% do capital?
Eu não entraria. Meio a meio, tudo bem. Ou 51%. Hoje em dia é
normal."
Murilo de Aragão, diretor-executivo da Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas),
relata que o percentual foi acordado entre Abert, Aner e a ANJ (Associação Nacional de Jornais) em
negociações e levado depois ao deputado.
"O consenso foi 30%, para abrir
a discussão", diz. "Vamos discutir no Congresso. As três entidades
acreditam que é um bom ponto de
partida. Agora, dentro das entidades há posições diferentes. Tinha
gente que era contra e tinha gente
que queria mais."
No exterior, as normas variam
de um limite de 25% de capital estrangeiro nos Estados Unidos (em
TV, o que obrigou o empresário
australiano Rupert Murdoch, da
News/Fox, a se naturalizar) a nenhum limite no Japão (veja quadro acima).
Mudanças
Murilo de Aragão e Joaquim
Mendonça elogiam a emenda. O
segundo avalia que pode reforçar
as empresas para investimentos
em TV digital, que deve concentrar atenções nos próximos anos.
Mas não espera grande impacto.
"Não vai acontecer nada."
Não é o julgamento de Marcos
Amazonas, sócio-diretor da Connect, uma empresa de representação e intermediação em TV que
tem entre seus clientes a rede norte-americana CBS.
Hoje parte do conglomerado
Westinghouse, a CBS fechou um
acordo de "troca de conteúdo"
com o SBT, outro em linhas semelhantes com a Starmedia, para a
Internet, e acaba de iniciar estudos para entrar em rádio no Brasil.
"Muda muito", diz Amazonas,
sobre a emenda. "Hoje você consegue fazer acordos operacionais,
mas numa rede aberta a associação fica muito limitada. Trinta por
cento é um passo, um bom início.
E não precisa muito mais do que
isso."
Rubens Furtado, diretor-geral
da Bandeirantes e um dos pioneiros da televisão no Brasil, afirma
que, "se não abrir o capital, a TV
paga vai engolir as pequenas redes
de TV aberta". Para ele, a emenda
"excita" e diversifica o mercado,
evitando o domínio externo.
Ações em Bolsa
Além da entrada de capital estrangeiro por via direta, o que
abre uma alternativa de capitalização fora do simples empréstimo
bancário, de "juros escorchantes", como diz Aloysio Nunes
Ferreira, a mudança teria outros
reflexos.
Fernando Fortes, advogado especializado em telecomunicações
e consultor jurídico da TVA, afirma que o capital estrangeiro ampliaria a concorrência nas concessões -e os preços. Mas também
ele diz que 30% é um percentual
"muito modesto", preferindo
49%.
Fortes sublinha outra mudança
que viria com a emenda: a extinção dos limites para a propriedade
de empresas de comunicação por
pessoas jurídicas. Hoje elas só podem investir no limite de 30% -e
ainda assim apenas em capital
sem direito a voto.
A medida permitiria negociar
ações em Bolsa, inclusive no exterior, como já ocorre com a Multicanal, de TV paga.
A maior abertura para pessoas
jurídicas é elogiada tanto por Joaquim Mendonça como por Murilo
de Aragão e Marcos Amazonas.
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