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Avisu quer mostrar versão das
famílias e lutar por indenização
da Sucursal do Rio
A Avisu (Associação das Vítimas
da Subversão) surge com dois objetivos declarados: lutar pela indenização aos parentes de mortos
por integrantes da luta armada e
apresentar à sociedade a versão
das famílias para episódios da chamada "guerra suja" do regime
militar.
Irmão do delegado Octávio Moreira Júnior, morto no Rio em fevereiro de 73, o economista
Eduardo Moreira, 51, foi o primeiro a pensar numa entidade para os
interesses das famílias.
"Meu irmão morreu porque
trabalhava no setor de capturas da
Operação Bandeirantes. Seus colegas chegaram ao topo da carreira,
ao qual ele também chegaria. A
pensão paga a minha mãe sempre
foi a de delegado iniciante", afirma Moreira Júnior.
A idéia de criar a associação surgiu no ano passado. "Não houve
integração das pessoas do lado de
cá. Cada um foi tratar de sua vida.
Eles eram patriotas. Hoje são considerados bandidos. Ninguém
aparece para dizer que eles defenderam o Brasil", diz o economista.
A Avisu tentará mostrar à sociedade a "verdade da época", segundo Walter Suppo, 80, delegado-geral da Polícia Civil de São
Paulo de 71 a 75. A filha de Suppo
casou-se com um sobrinho do industrial Henning Boilesen, morto
pela luta armada em São Paulo,
em abril de 71.
Deverá ser de Suppo o esboço
inicial do estatuto da entidade,
que será preparado a partir de reuniões dos associados.
"Acho que quem defendeu as
instituições merece mais ainda
(indenização). A associação será
nossa forma de resistência", diz.
Direito a nada
O industriário Mário Kozel, 75,
entrou na Justiça para ser indenizado pela morte de Mário Kozel
Filho, em 68, em São Paulo.
Sentinela do Quartel-General do
2º Exército, o soldado morreu na
explosão de um carro-bomba lançado por membros da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).
"Não tivemos direito a nada. A
pensão foi cortada três meses depois da morte do garoto. Talvez
agora melhore", diz ele.
A professora aposentada Lúcia
Rodrigues de Araújo, 69, perdeu o
marido, o agente federal Irlando
de Souza Régis, em 70, no Rio.
Segundo a versão oficial, Régis
foi morto por uma "terrorista"
que se fingia de grávida, a quem
ele teria pedido documentos. Ela
teria sacado a arma e o matado.
A viúva acha que ações judiciais
não ajudarão as famílias. Para ela,
a pressão é a única forma de sucesso. "Estou disposta a me engajar.
Participo de passeatas, vou a Brasília, faço tudo o que for preciso.
Mas não acho que ação na Justiça
resolva", diz ela, que mora no Rio.
Em Varginha (MG), o comerciante Jaime Dolce, 37, é outro
adepto da Avisu. Seu pai, Cardênio Dolce, foi morto, aos 57 anos,
em suposto ataque de extremistas
a uma clínica na zona sul do Rio.
"É preciso que surja uma entidade de defesa das famílias dos
que morreram na luta contra a
subversão", afirma.
Outro disposto a participar do
movimento é o microempresário
José Júlio Toja Martinez Neto, filho do major do Exército José Júlio Martinez, morto por uma integrante da luta armada.
"Se hoje o Estado assume que
fez algo errado, as pessoas que ele
usou para errar têm de ser indenizadas", diz.
(FE e ST)
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