São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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Avisu quer mostrar versão das famílias e lutar por indenização

da Sucursal do Rio

A Avisu (Associação das Vítimas da Subversão) surge com dois objetivos declarados: lutar pela indenização aos parentes de mortos por integrantes da luta armada e apresentar à sociedade a versão das famílias para episódios da chamada "guerra suja" do regime militar.
Irmão do delegado Octávio Moreira Júnior, morto no Rio em fevereiro de 73, o economista Eduardo Moreira, 51, foi o primeiro a pensar numa entidade para os interesses das famílias.
"Meu irmão morreu porque trabalhava no setor de capturas da Operação Bandeirantes. Seus colegas chegaram ao topo da carreira, ao qual ele também chegaria. A pensão paga a minha mãe sempre foi a de delegado iniciante", afirma Moreira Júnior.
A idéia de criar a associação surgiu no ano passado. "Não houve integração das pessoas do lado de cá. Cada um foi tratar de sua vida. Eles eram patriotas. Hoje são considerados bandidos. Ninguém aparece para dizer que eles defenderam o Brasil", diz o economista.
A Avisu tentará mostrar à sociedade a "verdade da época", segundo Walter Suppo, 80, delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo de 71 a 75. A filha de Suppo casou-se com um sobrinho do industrial Henning Boilesen, morto pela luta armada em São Paulo, em abril de 71.
Deverá ser de Suppo o esboço inicial do estatuto da entidade, que será preparado a partir de reuniões dos associados.
"Acho que quem defendeu as instituições merece mais ainda (indenização). A associação será nossa forma de resistência", diz.

Direito a nada
O industriário Mário Kozel, 75, entrou na Justiça para ser indenizado pela morte de Mário Kozel Filho, em 68, em São Paulo.
Sentinela do Quartel-General do 2º Exército, o soldado morreu na explosão de um carro-bomba lançado por membros da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).
"Não tivemos direito a nada. A pensão foi cortada três meses depois da morte do garoto. Talvez agora melhore", diz ele.
A professora aposentada Lúcia Rodrigues de Araújo, 69, perdeu o marido, o agente federal Irlando de Souza Régis, em 70, no Rio.
Segundo a versão oficial, Régis foi morto por uma "terrorista" que se fingia de grávida, a quem ele teria pedido documentos. Ela teria sacado a arma e o matado.
A viúva acha que ações judiciais não ajudarão as famílias. Para ela, a pressão é a única forma de sucesso. "Estou disposta a me engajar. Participo de passeatas, vou a Brasília, faço tudo o que for preciso. Mas não acho que ação na Justiça resolva", diz ela, que mora no Rio.
Em Varginha (MG), o comerciante Jaime Dolce, 37, é outro adepto da Avisu. Seu pai, Cardênio Dolce, foi morto, aos 57 anos, em suposto ataque de extremistas a uma clínica na zona sul do Rio.
"É preciso que surja uma entidade de defesa das famílias dos que morreram na luta contra a subversão", afirma.
Outro disposto a participar do movimento é o microempresário José Júlio Toja Martinez Neto, filho do major do Exército José Júlio Martinez, morto por uma integrante da luta armada.
"Se hoje o Estado assume que fez algo errado, as pessoas que ele usou para errar têm de ser indenizadas", diz. (FE e ST)



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