|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIAGEM AO ORIENTE
Países discutem o fornecimento do minério não enriquecido às usinas nucleares chinesas
Brasil negocia acordo para a venda de urânio à China
GUILHERME BARROS
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI
Os governos do Brasil e da China iniciaram negociações, durante a viagem do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ao país asiático, sobre um acordo de cooperação nuclear que contemple a venda de urânio não enriquecido brasileiro para abastecer as usinas
nucleares chinesas. O objetivo do
Brasil é conseguir recursos para
viabilizar seu programa nuclear.
A largada para a negociação foi
dada em conversa do ministro da
Ciência e Tecnologia brasileiro,
Eduardo Campos, com autoridades chinesas das áreas espacial e
nuclear. Ficou acertada uma nova
reunião em agosto, no Brasil, para
aprofundar as discussões. "O Brasil precisa encontrar maneiras de
viabilizar financeiramente seu
programa nuclear em curto espaço de tempo", afirmou Campos.
Para ser usado na produção de
energia ou na de armas atômicas,
o urânio que o Brasil poderá vender a China ainda precisa passar
pelo processo de enriquecimento.
A eventual parceria entre os
dois países poderá ser mais um fato a alimentar a pressão internacional sobre o governo Lula em
relação ao seu programa nuclear.
A última polêmica surgiu em
abril deste ano, quando o jornal
americano "The Washington
Post" publicou reportagem dizendo que o Brasil estava proibindo a AIEA (Agência Nacional de
Energia Atômica) de examinar
seu processo de enriquecimento
de urânio em Resende (RJ). O governo alegou que não permitia a
inspeção para preservar a tecnologia nacional e afirmou que os
fins do programa são pacíficos.
O Brasil também sofre cobrança
para assinar o Protocolo Adicional ao TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), que permitiria
à AIEA ampliar vistorias no país.
Lula determinou que, em 90
dias, seja feito relatório a partir de
análises interministeriais, com
propostas para salvar o programa
nuclear brasileiro. Uma delas é a
parceria com a China. "Se continuar o padrão de investimento
dos últimos 15 anos, o programa
se inviabiliza", diz Campos.
"Outros setores de parceria promissora são software e energia,
em particular a exploração conjunta de poços de petróleo e minas de urânio", afirmou Lula.
Segundo Campos, o Brasil já investiu US$ 1 bilhão no programa
nuclear e precisa de mais US$ 1,5
bilhão, para os investimentos em
Angra 1 e 2 e a conclusão de Angra
3 e do projeto do submarino nuclear brasileiro. Hoje, o país gasta
US$ 12 milhões/ano por não conseguir fazer no Brasil todas as fases pelas quais precisa passar o
urânio para gerar energia.
De acordo com Campos, o interesse do Brasil, ao admitir a possibilidade de vender urânio não
enriquecido à China, é o de participar, por meio da Nuclep -empresa vinculada ao Ministério da
Ciência e Tecnologia-, na construção de 11 usinas nucleares pelo
país asiático nos próximos anos.
A energia é um dos principais
gargalos para que a China continue crescendo nas taxas atuais
(cerca de 9,5% ao ano). Por isso, a
China investe muito em energia
nuclear. O Brasil tem hoje a sexta
reserva do mundo (só é conhecido 30% do potencial do país). Segundo Campos, há estudos que
dizem que a reserva pode ser a
terceira maior.
"O Brasil tem todas as chances
de sair da sexta posição para a terceira. É exeqüível", corroborou
Carlos Lessa, presidente do
BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social). Embora já tenha comercializado dióxido de urânio para o Iraque entre
81 e 82, o país tem preferido não
vender, mantendo o urânio como
reserva estratégica.
Com a crise energética mundial,
a energia nuclear voltou a ser uma
opção para suprir a carência.
Além do minério, o Brasil conta,
na mesa de negociação, com a tecnologia própria de centrifugação
do urânio (o equipamento desenvolvido para enriquecer o urânio,
porém, ainda não está em funcionamento em Resende, no RJ).
O ministro diz que não é só com
a China que o Brasil está aberto a
parcerias na área nuclear. A vantagem dos chineses é a complementaridade de interesses. O país
tem usinas para serem construídas e o domínio de todas as fases
do enriquecimento de urânio, enquanto o Brasil tem reservas do
minério e tecnologia de centrifugação, precisa de dinheiro para
tocar seu programa e não domina
todas as fases do enriquecimento.
Colaborou LÉO GERCHMANN, da Agência Folha
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Mercosul busca tratado comercial Índice
|