São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2004

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Venda pode gerar problema com os EUA

DE WASHINGTON

O Brasil pode ter problemas internacionais -principalmente com os EUA- caso o urânio vendido para a China saia do país asiático para países que não têm armas atômicas. É o que diz Marco Vicenzino, diretor-executivo-adjunto do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, maior autoridade independente sobre assuntos político-militares.
"Isso pode se transformar em um problema se o urânio vendido à China sair de lá em direção a outros países que não têm armas atômicas", disse. Leia entrevista concedida ontem à Folha. (FERNANDO CANZIAN)
 

Folha - O acordo que está sendo negociado entre Brasil e China para a venda de urânio deve provocar reações dos Estados Unidos?
Marco Vicenzino -
A China já tem a bomba atômica e a tecnologia para produzi-la. Por isso, não deve ser um acordo muito controverso. Mas, se o Brasil tiver como estratégia também exportar urânio a outros países, aí podem começar os problemas. Mesmo que seja para fins pacíficos.
Se ficar limitado à China, creio que não haverá maiores conseqüências entre EUA e o Brasil. Mas, embora os chineses já tenham a bomba, isso pode se transformar em um problema se o urânio vendido à China sair de lá em direção a outros países que não têm armas atômicas.

Folha - Como o sr. vê este tipo de parceria em áreas sensíveis e estratégicas entre o Brasil e a China?
Vicenzino -
Do ponto de vista geopolítico dos EUA, a aproximação nessa e em outras áreas entre Brasil e China será muito interessante, pois pode causar surpresas. A preocupação atual dos EUA em relação à China é que, ao crescer muito rapidamente, o país poderá fazer muitas alianças ao redor do mundo. Não só na América Latina, mas na África e no Oriente Médio, com países como o Irã.
Com todos os problemas atuais -Iraque, terrorismo, Oriente Médio-, os Estados Unidos se esqueceram da América Latina.
Quando acordarem, os chineses já terão muitos investimentos, em países da América Latina principalmente, e vão se apresentar como grandes competidores para os americanos.


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