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Ana, 11, ajuda
o pai em ação
do enviado especial
Ana Paula Pires da Costa
saiu da barreira pouco depois da meia-noite. Não se
deu conta, mas tinha entrado no dia de seu 11 aniversário. Ela é a mais velha de
quatro irmãos. Foi dormir
porque no dia seguinte tinha aula. Está na 2ª série.
Sabe ler "mais ou menos", gosta de estudar e
passou três horas no piquete sem sentir medo: "Acho
que não é muito perigo. A
gente não quer fazer o mal
ao povo. O que eu tenho
medo é de algum bêbado
que abalroe o pessoal".
Na segunda-feira, comera
arroz porque seu pai conseguiu um dia de serviços.
Sua roça perdeu-se. Ela
nunca passou um dia inteiro sem comer, mas foram
muitas as noites em que
dormiu sem jantar. Descreve assim a fome: "É uma
coisa ruim. Dá tonteira e
uma dor por dentro. Se bebe água, dói o estomago".
O saladeiro do Morumbi
Luís Carlos Ferreira de
Mello, 51, viveu quase sete
anos em São Paulo. Saiu de
Tauá e acabou trabalhando
como saladeiro no restaurante Casa Branca, no Morumbi. Foi também ajudante de cozinha e empregou-se por um tempo na
loja Brunella do Morumbi
Shopping. Era caseiro de
uma chácara em São Lourenço da Serra quando lhe
bateu a saudade da mulher
e dos cinco filhos.
Ganhava R$ 250 e mandava R$ 200 para a família.
Sobrevivia com R$ 50 porque os donos da chácara lhe
davam casa e comida. Agora, está com casa, sem emprego e sem comida: "Aqui
não tem nada, mas estou
me aguentando".
Foi a sua segunda noite de
piquete. Na primeira, nada
conseguiu. Dessa vez, chegou depois que seus vizinhos drenaram o caminhão
de milho. Não sabe para
onde vai sua vida: "Tem de
enfrentar o que vier. Não
tem jeito. Temos de esperar
pela vontade dele".
(ELIO GASPARI)
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