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CELSO PINTO
Quem são os "hedge funds"
Os fundos especulativos que
resolveram apostar em uma
desvalorização da moeda tailandesa, o baht, no primeiro
semestre do ano passado, ganharam muito, muito dinheiro. Que risco eles correram?
O administrador de um fundo diz que, quando o governo
tailandês decidiu defender o
baht a qualquer custo, vendendo dólares no mercado futuro,
o custo para alguém se financiar em baht para especular era
de 3% ao ano. Como a hipótese
de o baht sair da confusão se
valorizando frente ao dólar era
nula, isso significava que,
qualquer desvalorização superior a 3% já pagaria o custo da
especulação. Como a desvalorização chegou a 50%, o lucro foi
fantástico.
Dos US$ 28 bilhões que o
Banco da Tailândia tinha em
vendas futuras de dólar em julho, quando houve a desvalorização, calcula-se que US$ 7 bilhões eram posições dos chamados "hedge funds", os mais
especulativos, como o de George Soros. O mesmo Soros que
ganhou US$ 1 bilhão apostando na desvalorização da libra
esterlina contra o Banco da Inglaterra em 92.
Até que ponto, no entanto,
fundos como o de Soros provocaram ou aceleraram a desvalorização na Tailândia e em
outros países asiáticos? Para
tentar responder a esta questão, o FMI fez um interessante
trabalho ("Hedge Funds and
Financial Market Dynamics")
que é um dos mais completos
sobre esses polêmicos fundos. A
conclusão geral é que os "hedge
funds" tiveram um papel menos relevante nas crises recentes do que reza sua fama.
Na crise monetária européia
de 92, um único fundo, o de
Soros, apostou US$ 10 bilhões
na desvalorização da libra e
ganhou muito dinheiro. Alguns
"hedge funds" lideraram as
apostas contra algumas moedas européias, mas o empurrão
decisivo veio dos fundos mútuos, fundos de pensão, seguradoras e corporações não financeiras, que administravam US$
11 trilhões.
Na crise dos bônus de 94,
muitos "hedge funds" estavam
na posição errada e perderam
dinheiro. Na crise do México
em 94, a corrida contra o peso
foi liderada pelos investidores
mexicanos.
Mesmo na crise asiática, os
"hedge funds" não ganharam
sempre. Eles ganharam na Tailândia, mas a grande corrida
pelo dólar veio de empresas e
bancos que tinham dívidas em
dólares sem proteção, tomadas
na suposição de que o câmbio
jamais mudaria.
Os próprios "hedge funds",
contudo, perderam dinheiro
com a forte queda nas Bolsas
asiáticas. No caso da Indonésia, grandes "hedge funds"
apostaram, cedo demais, numa
recuperação da moeda, a rupia, e perderam muito dinheiro.
O primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamed,
acusou Soros e os "hedge
funds" de terem provocado a
queda da moeda. O estudo indica, contudo, que a pressão
inicial veio de investidores institucionais. Poucos "hedge
funds" tinham posições especulativas contra a moeda malaia,
e alguns perderam dinheiro
com a queda na Bolsa.
O termo "hedge fund" se aplica a vários tipos diferentes de
fundos que têm, em comum, a
maior liberdade de investir em
diversos mercados, usando diferentes instrumentos (inclusive tomando emprestado para
"alavancar" posições).
O termo nasceu do fundo
criado por um jornalista financeiro, Alfred Winslow Jones,
em 1949, que combinava operações simultâneas de compra
e venda de ações, de forma a
criar uma proteção ("hedge")
contra oscilações de preços.
Hoje, "hedge funds" se concentram também em apostas macroeconômicas (esperando variações em juros, moedas etc)
ou apostas de variações de preços de ativos, setores ou movimentos de compra/venda de
empresas.
Havia um único "hedge fund"
administrando US$ 193 milhões em 1980. Em 90, eram 127
fundos administrando US$ 8,5
bilhões e, em 97, eram 1.115
num total de US$ 109,5 bilhões
(ou US$ 89,8 bilhões, se excluídos os "fundos de fundos", que
aplicam em outros fundos de
"hedge"). É muito dinheiro,
mas o trabalho lembra que é
uma fração dos US$ 20 trilhões
administrados pelos investidores institucionais.
O grosso do dinheiro (71%)
está em "hedge funds" sediados
em paraísos fiscais, e os 29%
sediados nos EUA são fundos
restritos, sujeitos a menos fiscalizações e regras.
Eles são mais ousados, tomam mais riscos e têm tido, em
média, um retorno maior do
que outros fundos. O estudo
minimiza, contudo, sua força
para derrubar moedas, ou forçar mudança de rumos econômicos em diferentes países.
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