São Paulo, terça, 26 de maio de 1998

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IR-E-VIR

Documentos do extinto Deops revelam casos de judeus que tiveram a mobilidade cerceada pelo governo Vargas em SP

Filha doente
Em 1944, o alemão Alfred Gruenewald vivia na cidade de São Paulo e queria visitar a filha doente. Pediu um salvo-conduto para o delegado da Ordem Política e Social, que o negou. Motivo: a moça se encontrava em Bertioga. Por estar no litoral, o pequeno município era considerado estratégico, e o governo procurava manter os "súditos do Eixo" longe dali. Tomava-os por espiões em potencial Ämesmo se, como Gruenewald, tivessem 74 anos e morassem num asilo para refugiados israelitas.

Religião mosaica
Natural de Hamburgo, Johanna Fraenkel encaminhou ao Deops, em 1944, um requerimento que expunha o caráter paradoxal das restrições contra os "cidadãos do Eixo". A "peticionária", doente, desejava "convalescer" no litoral. Para obter a permissão, usou um argumento que julgava "de domínio público": deixara de ser alemã porque Hitler caçara "a nacionalidade" dos que professavam "a religião mosaica". Os documentos disponíveis não permitem saber se Johanna conseguiu viajar.

Brinquedos Estrela
No dia 3 de novembro de 1944, o então dono da fábrica de brinquedos Estrela, Siegfried Adler, solicitou que o Deops autorizasse uma viagem do representante comercial Adolfo Weil para Santos. "Ele é um dos mais íntimos colaboradores de nossa firma", explicava o empresário. Desde 1938, o judeu-alemão Weil costumava atender a clientela do litoral. Mas, em 1944, ainda não conseguira o salvo-conduto para fazer o trajeto. Daí o pedido do patrão Adler Äque acabou surtindo efeito.

Pensão proibida
O alemão (e refugiado israelita) Siegfried Gotthilf conseguiu permissão para mudar de endereço em dezembro de 1943. Trocou a rua Rosa e Silva pela rua Antonio Carlos, ambas na cidade de São Paulo. Mesma sorte não teve o judeu-austríaco Max Israel Bohn Äque, meses antes, tentara transformar em pensão a casa onde morava, no centro paulistano. O governo não o autorizou. Considerou a idéia perigosa por Max Bohn ser "súdito de país subjugado pela Alemanha".



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