DA REPORTAGEM LOCAL

O PT quer o afastamento do secretário de Serviços Municipais de Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Sousa, como forma de preservar lideranças do partido, como o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente nacional, José Dirceu.
O partido busca construir um "cordão de isolamento" em torno da campanha presidencial e se esforça para que as acusações contra Klinger de extorsão a empresários não a contaminem.
João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, afirmou em depoimento ao Ministério Público Estadual ter ouvido de integrantes do alto escalão da prefeitura do município que Dirceu havia recebido parte da suposta propina para financiar campanhas eleitorais do PT, inclusive a de Lula. Dirceu nega a afirmação.
A possibilidade de afastamento de Klinger pelo menos temporariamente foi discutida durante reunião da Executiva Nacional petista anteontem.
Quem primeiro advogou a hipótese foi a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. O líder da sigla no Senado, Eduardo Suplicy, defende a saída, assim como, reservadamente, outros integrantes da cúpula partidária.
"Seria importante esse afastamento temporário. Daria mais condições à investigação e preservaria a prefeitura e o partido", declarou o senador.
O PT avalia que houve má-fé nas acusações de João Francisco a Dirceu, motivadas, segundo a legenda, por questões políticas. Ao mesmo tempo, dirigentes partidários reconhecem que os indícios de irregularidades nos contratos, apontados por empresários, não são frágeis.
A permanência de Klinger no cargo poderia lançar uma "penumbra" sobre todo o caso, dando a impressão de que o PT teme uma investigação por ter algo a esconder. Lideranças petistas desejam separar a apuração das irregularidades nos contratos da questão eleitoral.
O senador Suplicy passou o dia de ontem em contato com integrantes do alto escalão da Prefeitura de Santo André para tentar encontrar uma solução para a situação.
De manhã, conversou por telefone com Klinger, quando fez a ele a sugestão de afastamento temporário. "O secretário me informou que a sugestão coincide com o desejo de seus advogados", declarou Suplicy.
Na sexta-feira passada, Klinger colocou seu cargo à disposição, mas o pedido não foi aceito pelo prefeito João Avamileno.
À tarde, o senador conversou com Avamileno. Suplicy lembrou o prefeito do caso do ex-ministro Henrique Hargreaves, que deixou o cargo no governo Itamar Franco temporariamente por suspeita de corrupção, entre o final de 1993 e o início de 1994, e retornou ao cargo posteriormente.
De acordo com o relato do líder do PT no Senado, Avamileno afirmou que iria pensar ainda se afastaria Klinger da secretaria, porque não queria fazer nenhum "julgamento precipitado".
Segundo o secretário de Governo da cidade, Mário Maurici Lima Moraes, não está em cogitação o afastamento de Klinger. "Se e quando houver provas ou indícios robustos de irregularidade do secretário, ele poderá ser afastado. O fato é que até agora isso não apareceu. Nossa resposta é a decisão firme de apurar todas as acusações", declarou.


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