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NO AR
Quando um não quer
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
- Quando um não quer,
dois não brigam.
Era Lula, com um sorriso, garantindo que não quis ofender
ninguém. Não quis, mas saiu
desmarcando compromissos no
Supremo e na Fiesp.
Na federação das indústrias, a
decisão presidencial jogou mais
lenha nas diferenças em torno
da reforma tributária.
O presidente da Fiesp, Horácio
Lafer Piva, já havia declarado o
apoio à "manifestação" dos empresários em Brasília. Um dia
antes, no Jornal Nacional, sublinhou que a economia "está toda
parada, com índices de desemprego muito altos".
Certo, ele também elogiou o
governo que, "preocupado com
o Brasil", eleva as metas de inflação. E não questionou toda a
reforma tributária, mas certas
"fragilidades" dela.
Não importa. Lula não vai
mais. Nem José Dirceu.
Num ambiente de conflito, até
entre os empresários surgiram
diferenças. Antônio Ermírio de
Moraes não foi ao ato e criticou,
dizendo que "manifestações temos demais". Disse ainda que
dois ministros fizeram pressão
contra o movimento.
Jorge Gerdau, que esteve à
frente da manifestação na TV,
disse que não ouviu de nenhum
dos ministros qualquer solicitação contra o ato.
Lula também não foi à posse
dos novos ministros no Supremo
Tribunal Federal, como destacaram os telejornais.
O presidente do Supremo,
Maurício Corrêa, que lidera o
lobby contra a outra reforma,
da Previdência, desta vez evitou
qualquer discurso.
Tanto a ausência de Lula como a ausência de um discurso
de Corrêa seriam explicadas depois, para bem poucos acreditarem, como respeito deles às regras e ao regimento.
Foi uma maneira de evitar
que o presidente da República,
que questionou o Judiciário um
dia antes, e o presidente do Supremo, que respondeu com sarcasmo, tivessem que olhar um
para o outro. Na televisão, sobrou para ambos.
Boris Casoy disse que Lula
agora é presidente e deve tomar
cuidado com o que sai falando
em seus "improvisos". Míriam
Leitão desculpou Lula ("certamente uma força de expressão")
e atacou Corrêa:
- O Judiciário não pode continuar com o que tem feito, com
presidentes de tribunais que falam de seus interesses como se
fossem defesa do poder.
Mas o pior foi no Congresso.
José Sarney defendeu Lula, mas
o líder tucano falou até mesmo
em "impeachment".
Ato contínuo, sete deputados
abandonaram o PSDB.
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