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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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CRIME ORGANIZADO

Paes de Barros (MT) diz querer acabar com a impunidade

CPI do Banestado confirma tucano para a presidência

ANDRÉA MICHAEL
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sua primeira reunião, a CPI mista do Banestado (Banco do Estado do Paraná) elegeu como presidente o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), como vice o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ) e confirmou como relator o deputado José Mentor (PT-SP).
Barros é aliado político do ex-governador Dante de Oliveira (MT), acusado de se beneficiar, em campanhas políticas, de recursos recebidos de uma empresa de João Arcanjo Ribeiro, chefe de uma das maiores quadrilhas do país e hoje preso no Uruguai. Dante nega a acusação.
Mentor é homem de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil), principal articulador político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo tem duas preocupações em relação à CPI: que os desdobramentos políticos prejudiquem a tramitação das reformas previdenciária e tributária e que a investigação de remessas de recursos via contas CC-5 repercuta negativamente no mercado.
Dos 13 senadores e 14 deputados da comissão, 21 votaram em Barros e 22 em Maia. Dois outros optaram por Ideli Salvatti (PT-SC) para presidente, um gesto de clara oposição à indicação feita pelo PSDB. Salvatti foi a primeira a colher assinaturas para instalar a CPI, mas foi pressionada por seu partido a aguardar um momento político mais apropriado.
Com duração de 120 dias, a CPI investigará a evasão de divisas, especialmente destinadas a paraísos fiscais, apurada pela Operação Macuco, uma investigação da Polícia Federal que apontou a existência de um esquema de lavagem de dinheiro utilizando doleiros, laranjas e a agência do Banestado em Nova York. Hoje Barros, Maia e Mentor discutirão uma estratégia de investigação e um cronograma de trabalho. A próxima reunião da CPI será na terça-feira.
Considerado intempestivo por congressistas, Barros fez questão ontem de convocar todos os funcionários e integrantes da CPI para um compromisso com a responsabilidade de preservar o sigilo das investigações. "O sucesso da CPI depende de preservar a honra de pessoas inocentes. Mas também é necessário acabar com a impunidade", declarou.
Ontem à tarde, os procuradores Luiz Francisco de Souza, Valquíria Quixadá e Raquel Branquinho, do Ministério Público Federal em Brasília, entregaram ao senador Magno Malta (PL-ES), integrante da CPI, sugestões para agilizar os trabalho da comissão.
Questionado sobre os prejuízos que a CPI poderia causar à tramitação das reformas, Luiz Francisco afirmou: "A CPI é um bilhão de vezes mais importante do que as reformas do governo".
Na manhã de ontem, em depoimento à Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou que o Brasil não dispõe de uma "estrutura eficiente de combate à lavagem".
Também falaram aos senadores a secretária Nacional de Justiça, Cláudia Chagas, e o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda.
Chagas centrou sua apresentação nas tratativas que vêm sendo feitas para recuperar o tratado de cooperação entre Brasil e Estados Unidos (MLAT) pelo qual o rastreamento internacional do dinheiro que passou pelo Banestado vem sendo feito.
Há dois meses, o Departamento de Justiça dos EUA criticou policiais federais que estiveram em Nova York e não cumpriram um acordo pelo qual deveriam entregar informações às autoridades americanas em troca de acesso a dados de seu sistema bancário.


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