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JANIO DE FREITAS
No mundo dos anjinhos
É um artigo velho. Embora
não tanto quanto o governo
Lula, que decidiu já nascer velhinho. A depender dos méritos, seria artigo morto e esquecido. As
circunstâncias e certas personagens, porém, foram buscá-lo no
além-túmulo. Deu resposta antecipada a afirmações agora diárias. Seguem-se algumas, a título
de exemplo.
Não se sabe quando Lula é sincero, se na quarta-feira em que
faz comício com agressões verbais
aos defensores de investigações e
diz que a corrupção é problema
do Congresso; se no dia seguinte,
em que retoma na tv o papel do
candidato "Lulinha paz e amor"
e oferece "a mão estendida". José
Dirceu nega o uso de dependências do Planalto pelo tesoureiro e
pelo secretário-geral do PT, Delúbio Soares e Silvio Pereira. Roberto Jefferson assegurou à repórter
Renata Lo Prete ter "gente do governo metida" no mensalão, e
agora só responsabiliza o comando do PT. Dentro e fora do governo, ninguém ouvira falar em
qualquer das práticas que hoje fazem escândalo, afora, no melhor
dos casos, a uns poucos que viram
referência a pagamentos (logo
desmentida) de Miro Teixeira ao
"Jornal do Brasil", em setembro
de 2004.
O artigo abaixo é de 4 de março
de 2004. Com o mesmo título de
hoje. E, como esperável, incluiu-se
nos tantos comumente atribuídos
a "mania de acusar", "exibição
de independência" e outros escapismos. Ei-lo:
"O PT ainda está muito longe
das contribuições feitas por
PMDB, PFL e PSDB para destacar o Brasil entre os países reconhecidamente mais corruptos do
mundo, mas o seu rol de práticas
incabíveis mostra-se mais promissor a cada dia. "Tem passado
como coisa tolerável, de pleno conhecimento do jornalismo de
Brasília e alhures, a presença de
dirigentes do PT entre os quadros
da Presidência da República. Não
há lugar mais impróprio do que o
ambiente da Presidência para um
encarregado da coleta e guarda
do dinheiro do partido governista, como é o caso do tesoureiro petista Delúbio Soares. A simples
permanência já suscita, em certo
tipo de interessados, hipóteses e
iniciativas que comprometem o
governo. "Mesmo que fosse convincente, e nem se aproxima de
sê-lo, a explicação dada para o
encontro do tesoureiro petista
com o vice-presidente da Associação dos Empreiteiros de Obras
Rodoviárias não justificaria que o
fato se passasse em instalações da
Presidência. Ainda por cima, a
anotação do encontro feita por
uma secretária na agenda do [então] ministro dos Transportes,
Anderson Adauto, não se confunde com registro posterior à maneira de um diário, que um ministro não deixa a cargo de auxiliares. "Em nome de quê o secretário de Organização do PT, Silvio Pereira, deve ou precisa estar
no palácio da Presidência da República? Nem da parte da Organização do PT, nem da parte da
Presidência e do governo, há motivo eticamente aceitável para a
mistura de conveniências de direção partidária e centro de decisões administrativas do país. "No
capítulo das nomeações o cenário
não é menos interrogativo. A revelação do repórter Rubens Valente, na Folha de quarta-feira,
por exemplo, contém mais sugestão do que aparenta, sobre nomeações. O nomeado presidente
da estatal Cobra Computadores
não era, até o final do governo
Fernando Henrique, apenas procurador e presidente de uma empresa multinacional. Além de
presidente de uma subsidiária,
era procurador, com amplos poderes de movimentação financeira, de uma empresa posta sob suspeições graves, em negócios com a
Caixa que a situaram no centro
do caso Waldomiro Diniz. "Os
problemas, hoje suspeitos, nas relações comerciais da Caixa com a
GTech já eram conhecidos no governo Fernando Henrique, quando estranhas ordens sustaram a
informatização das loterias federais, em benefício da contratada
multinacional. "Graciano dos
Santos Neto pode estar isento de
toda implicação nas transações
afinal questionadas entre a
GTech e a Caixa. Mas o governo
não poderia desprezar a sua profunda conexão com a multinacional envolvida em suspeitas até
que investigações esclarecessem
tudo. E o governo nem se ocupou
das investigações. "Curioso é que
a Presidência fez saber-se, desde o
início do mandato, que todas as
possíveis nomeações passariam
por crivo duplo. No Planalto, personificado em Marcelo Sereno; e,
em geral, nas investigações de
agentes da Abin, o serviço de informações. Desses agentes é que
saiu o dossiê capaz, enfim, de levar Gilberto Gil a afastar do Ministério da Cultura o seu compadre Roberto Pinho. Mas Waldomiro Diniz não é única presença
imprópria no governo do mundo
de anjinhos que o PT diz ser."
Hoje está evidente que o grupo
vitorioso do PT não assumiu o governo. Tomou-o e o colonizou. E
nesse grupo não há inocentes.
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