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CELSO PINTO
O peso do calote nos juros
A redução dos juros básicos
de 21,75% ao ano para 21%,
decidida quarta-feira, não vai
reduzir em absolutamente nada o custo do crédito para o
consumidor, concordam todos
os que operam no ramo.
Se em vez da redução nos juros tivesse sido reduzida em 1%
a taxa de inadimplência, ou seja, do calote, o custo do crédito
pessoal ao consumidor poderia
cair o equivalente a 16% ao
ano, nos cálculos feitos por Dilson Del Cima, diretor do Banco
BBM. O impacto, em termos relativos, seria muito maior.
Num exemplo hipotético de
Dilson, de um crédito pessoal
de R$ 600, prazo de seis meses,
a taxa mensal seria de 11,5%,
equivalente a 270% ao ano. Por
quê?
Dos 11,5%, a parte dos juros
básicos seria 1,8%, enquanto
5% viriam por conta da inadimplência que, neste tipo de
crédito, anda ao redor de 15%.
Os 4,7% restante seriam explicados pelos custos administrativos e pela margem de lucro.
Quer dizer, o item mais importante no custo, de longe, é a
inadimplência.
Usando o mesmo exemplo de
crédito, se a inadimplência fosse de 10% e não de 15%, a taxa
mensal poderia cair para 9,5%,
ou 200% ao ano. Se subisse de
15% para 20%, os juros mensais
saltariam para 13,7%, ou 365%
ao ano.
E como reduzir a inadimplência? É evidente que a retração
econômica e os altos juros depois da crise asiática pioraram
a inadimplência, em uns 30%
no cálculo de Dilson. No entanto, há mais o que fazer para
reduzi-la.
Cláudio Coutinho Mendes,
sócio do BBM, tem uma sugestão concreta: copiar a experiência chilena e implantar um cadastro nacional de consumidores.
Hoje, a defesa contra o calote
é feita pelos Serviços de Proteção ao Crédito (SPC), a nível
municipal. Consultado o SPC,
sabe-se se o consumidor foi caloteiro, digamos, no Rio, mas
não em Niterói. Basta mudar de
cidade para limpar o cadastro.
A inadimplência acaba sendo
muito alta. Ele calcula que esteja hoje em torno de 15% no caso
do crédito pessoal, o mais arriscado, uns 14% no crediário para bens de consumo e de 3% a
4% no financiamento a automóveis, o mais seguro porque
tem a garantia do bem. Não por
acaso, o crédito pessoal custa de
12% a 13% ao mês, enquanto o
financiamento de automóveis
cai para uns 2,9% ao mês.
No Chile, com cadastro nacional, a inadimplência é baixíssima. No Banco de Santiago, diz
Mendes, que tem 36% dos créditos no consumo e 40% para
pequenas e médias empresas, a
inadimplência é de 0,75%. No
Banco de Credito y Inversiones,
com 55% do crédito em consumo e 18% em pequenas e médias empresas, a inadimplência
é 0,78%.
A simples existência de um
sistema de controle nacional, já
inibe o calote. O exemplo brasileiro é o cheque pré-datado.
Quem não honrar o cheque, em
qualquer lugar do país, entra
na lista vermelha do Banco
Central. Só consegue repetir a
façanha se conseguir um outro
CPF, ou seja, via fraude.
Por esta razão, Dilson calcula
que, no financiamento ao consumo, o índice de calote de
quem paga por carnê é quatro
vezes maior do que quem paga
com cheque pré-datado. No caso do crédito pessoal, o calote de
quem não paga com cheque
pré-datado é 2,5 vezes maior.
No Chile, o cadastro nacional
é operado pela Superintendência de Bancos, a partir de um
código pessoal por consumidor.
No caso do Brasil, sugere Mendes, seria possível fazer algo parecido, usando o CPF como código pessoal. Existe fraude no
uso de CPFs, mas o BC está fazendo um esforço para reduzi-la.
Dilson calcula que um cadastro nacional, de fácil acesso, poderia reduzir a inadimplência
no crédito ao consumo para uns
5%. Neste caso, usando o exemplo anterior, num financiamento de crédito pessoal (o mais
caro), por seis meses, o juro
mensal poderia cair de 11,5%
para 7,7% ao mês, o equivalente a cortar de 270% ao ano para
145%.
Em outros tipos de financiamento ao consumo, onde o juro
hoje está entre 7% e 8% ao mês,
(uns 140% ao ano), seria possível reduzir a taxa para uns 4%
a 5% ao mês (uns 70% ao ano),
calcula Dilson.
Para reduzir ainda mais, seria preciso baixar os juros básicos para níveis decentes e cortar
os custos administrativos dos
bancos. Sem reduzir a inadimplência, contudo, o impacto
não será tão expressivo.
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