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ARAGUAIA, 27 ANOS
Procuradores apreendem objetos e planilhas com dados de ex-colaboradores da repressão à guerrilha
Papéis indicam ação secreta do Exército
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documentos apreendidos ontem em imóvel ocupado secretamente pelo Exército em Marabá
(PA) indicam que os militares
monitoram ex-colaboradores no
sul do Pará. Planilhas identificam
nomes, contatos mantidos e grau
de confiabilidade de alguns integrantes da população local.
São mantidos sob vigilância
principalmente agricultores que
guiaram na mata os soldados nas
buscas a militantes do PC do B,
entre 1972 e 1974, na guerrilha do
Araguaia -movimento armado
reprimido pelo Exército.
Às 6h40 de ontem, dois delegados e oito agentes da Polícia Federal, juntamente com dois oficiais
de Justiça e cinco funcionários do
Ministério Público, cumpriram
mandado de busca e apreensão da
Justiça Federal. Eles entraram no
imóvel apontado por ex-colaboradores do Exército como seu
ponto de apoio em Marabá. Só
havia um ocupante, que se identificou como militar.
Os procuradores Guilherme
Schelb, de Brasília, e Felício Pontes, de Belém, acompanharam a
operação. Para sua surpresa, os
relatórios dos militares também
registram a presença deles na região. Os dois estão colhendo depoimentos da população local a
fim de identificar novas ossadas
de militantes mortos na guerrilha
e apurar danos causados a colonos pela operação das Forças Armadas concluída há 27 anos.
O monitoramento militar sobre
a região foi revelado ontem pela
Folha. Representantes do Exército proíbem seus antigos colaboradores de falar sobre a guerrilha.
Em troca, oferecem assistência
médica, distribuem alimentos,
presentes e até revólveres, com
porte de arma e munição.
Na documentação apreendida
ontem, agora sob guarda da Justiça, constam papéis com a tarja
vermelha de sigilo pertencentes
ao serviço secreto do Exército. Os
papéis trazem um timbre que
conjuga inscrições do Ministério
da Defesa, do Exército, da 23ª Brigada de Infantaria de Selva e do
Grupo Especial de Investigação.
Foram apreendidos também
placas de carro, um cofre, livros
sobre a guerrilha e equipamentos
eletrônicos como gravadores, rádios, câmaras de vídeo e foto.
"Não temos mais dúvidas de
que se trata de um serviço secreto
do Exército", declarou Schelb.
Quando já estavam manuseando os documentos apreendidos
no prédio da Justiça Federal em
Marabá, procuradores, oficiais de
Justiça, delegados e agentes da PF
receberam a visita e ouviram as
reclamações de um major que se
apresentou em nome do general
Rui Monarca da Silveira, da 23ª
Brigada de Infantaria de Selva.
A queixa do major: o grupo não
poderia ter entrado na casa porque se tratava de uma "unidade"
do Exército. No entanto, o imóvel,
situado em uma subdivisão do
bairro Nova Marabá, chamada
Folha 17, não é reconhecido oficialmente como tal. O Centro de
Comunicação Social do Exército
afirma que sua única base em Marabá é a 23ª Brigada de Infantaria
de Selva. E que "não há "escritório
de inteligência" em Marabá".
O presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos
Políticos do Ministério da Justiça,
Miguel Real Júnior, vai convocar
integrantes do grupo que fez a
apreensão para definir providências a tomar sobre o caso.
"Quando a comissão foi à região
[em 96 e 97], teve dificuldades de
obter informações. Essa presença
militar explica por quê", disse.
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