São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2001

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'Igreja Católica não deve ter partido'

DA SUCURSAL DO RIO

O novo arcebispo do Rio, d. Eusébio Scheid, avalia que o país vive um momento de "angústias, incertezas e de um certo pessimismo". Na sua opinião, é dever da Igreja Católica "fazer o povo aumentar a consciência de cidadania", mas sem engajamento partidário. Ontem, ele deu a seguinte entrevista.
 

Folha - O sr. pretende manter a linha pastoral de d. Eugenio Sales?
D. Eusébio Scheid -
Pretendo conservar o que tiver de bom. Quero ser um carioca de coração. Tanto a inspiração do Espírito Santo como a minha sensibilidade vão me ajudar a encontrar a linha de trabalho na diocese.

Folha - Como o sr. avalia os 30 anos de gestão de d. Eugenio?
D. Eusébio -
Ele foi uma rocha no período militar [1964-1985". Firme, em todos os sentidos. Não criou conflitos, mas soube se portar na linha do Evangelho, nunca compactuou com os abusos que se cometia. E lutou pela democracia.
Ele foi ainda um inovador na linha pastoral. Idealizou a Campanha da Fraternidade, depois tornada nacional por d. Hélder Câmara, criou a Pastoral da Família e inovou no uso dos meios de comunicação. Sempre foi muito sereno, muito seguro e sempre bem assessorado. Deu uma atenção especial ao clero e aos religiosos.

Folha - D. Eugenio é considerado um bispo conservador. O sr. tem afinidades teológicas com ele?
D. Eusébio -
Sou teólogo. É possível que tenhamos uma diferença ou outra, mas pequena. Estamos de acordo em tudo que é essencial.

Folha - Um dos problemas graves do Rio é a presença do narcotráfico. Como o sr. pretende enfrentar o problema?
D. Eusébio -
Que Deus me permita ser um portador de paz nesse mundo do narcotráfico. Só espero trazer um pouco de paz.

Folha - E em relação ao país, qual a sua avaliação?
D. Eusébio -
É uma situação de angústias, incertezas e de um certo pessimismo. É uma pena. A própria instabilidade é muito triste. Nosso primeiro dever é fazer o povo aumentar a consciência de cidadania. Vou continuar trabalhando na linha de politizar sem política partidária. Jamais seria defensor de uma política de partidos. A Igreja Católica não deve ter partido. O próprio nome [partido" mostra que divide. Nossa missão é politizar, aumentar a consciência política. Mas compartilhando sempre a grande esperança. Não adianta só criticar.


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