São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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CAMPANHA

Arraes condena nova tática eleitoral de campanha que vive crise

Garotinho radicaliza opção religiosa para ter sobrevida

Sérgio Lima/Folha Imagem
Candidato à Presidência da República Anthony Garotinho (PSB) chega ao aeroporto, em Brasília


MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

MARCELO BERABA
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

Enfraquecida pela falta de recursos financeiros, a campanha presidencial de Anthony Garotinho (PSB) decidiu radicalizar sua identificação com os segmentos evangélicos na esperança de voltar a crescer. Segundo Garotinho, no próximo domingo haverá um "clamor" por sua candidatura em todas igrejas evangélicas do país.
"Presbiteriana, batista, metodista, Assembléia de Deus, Universal, Paz e Vida, as igrejas independentes, as pequenas denominações, todas elas, estarão fazendo em todas as cidades do Brasil um clamor de cinco minutos no culto da noite em favor daquele propósito que Deus colocou no meu coração", disse.
A declaração foi feita ontem por Garotinho no programa "Na Paz do Senhor de Coração", da FM Melodia, rádio evangélica que pertence ao ex-deputado Francisco Silva. O programa, diário, é retransmitido para 11 Estados e para o Distrito Federal. O comando da campanha acredita que se dobrar a intenção de votos entre os evangélicos, Garotinho terá chances de estar no segundo turno. A estratégia explica a ênfase religiosa que o ex-governador do Rio passou a imprimir nos últimos dias a seus discursos eleitorais.
Na semana passada, o candidato se reuniu com líderes das 14 maiores igrejas evangélicas do país (tradicionais e pentecostais), em Belo Horizonte (MG). No encontro, foi exibida pesquisa da coordenação da campanha na qual Garotinho aparece em primeiro lugar entre os evangélicos.
Uma das medidas práticas será a montagem de 5 milhões de comitês familiares. A campanha vai entregar folhetos, cartazes e vídeos com pregações do candidato para serem divulgados por famílias evangélicas, que deverão fazer o papel de cabos eleitorais.
Segundo o coordenador da campanha, Márcio França, a pesquisa do partido ouviu evangélicos e não-evangélicos e constatou que Garotinho tem 37,5% dos votos dos evangélicos e 9,1% dos não-evangélicos consultado. França afirmou que a meta é atingir 70% dos votos dos evangélicos para garantir Garotinho no segundo turno.

Racha
A estratégia está rachando o partido. Ontem, em reunião da cúpula do PSB com Garotinho, em Brasília, o presidente do partido, Miguel Arraes, e o vice candidato, José Antônio Almeida, condenaram a tática.
"Não tem sentido falar só para evangélicos. Devemos falar para todos os brasileiros, católicos, adeptos do candomblé, espíritas, sobre assuntos que tocam a todos", disse Arraes, sem confirmar a "evangelização" da campanha.
"Não há porque voltar a um discurso de um segmento da sociedade. O discurso deve ser das nossas propostas", afirmou Almeida.
No final da reunião, Garotinho afirmou que não haverá "evangelização" da campanha. Segundo ele, a estratégia é fortalecer a campanha entre um segmento que tem disposição de votar nele.

Renúncia
A avaliação geral da campanha e da direção do PSB é de que dificilmente Garotinho renunciará. Assessores avaliam que o desgaste da renúncia poderia inviabilizá-lo em outra eleição presidencial. Além disso, ele continua a contar com o principal apoio dentro do PSB, que é o presidente do partido, Miguel Arraes, que ontem novamente o defendeu.
O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, diz que a falta de dinheiro é o principal problema da campanha. Em função disso, Amaral explicou que a estratégia adotada, desde a semana passada, foi a de concentrar a campanha em segmentos onde Garotinho tem mais força e capacidade de crescimento -evangélicos e Estado do Rio.
Isso fez com que o candidato abandonasse compromissos já assumidos com os candidatos a governador do partido na Bahia, Pará, Ceará, São Paulo, Rondônia e Distrito Federal, causando fortes reações contra a candidatura.
"Pode escrever aí: fui abandonado pelo Garotinho e a direção nacional do PSB", afirmou o candidato do PSB ao governo do Pará, Ademir Andrade.

TV Globo
No programa da Melodia de ontem, Garotinho criticou a Rede Globo. "Estou precisando realmente da oração de todos os meus irmãos, porque eles [da TV Globo" estão me perseguindo só porque eu sou evangélico. É uma discriminação religiosa. Parece que não gosta de crente."
Em nota respondendo a Garotinho, a Central Globo de Comunicação afirmou: "O telespectador é testemunha da nossa isenção e equilíbrio na cobertura da campanha eleitoral. Dentro do mesmo princípio ético, nossa linha editorial determina o respeito a todas as religiões. Essas duas premissas não conflitam com a nossa missão de denunciar irregularidades envolvendo candidatos, sem distinção de espécie alguma."

Colaborou a Sucursal de Brasília



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