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OUTRO LADO
Presidente do BC nega irregularidade
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, disse ontem
que não há nada de ilegal no uso
de seguranças do BankBoston em
sua campanha a deputado federal
em 2002. O BankBoston, por sua
vez, negou a suspeita de que os
acordos trabalhistas possam ter
sido simulados para encobertar
doações eleitorais.
Segundo Meirelles, os seguranças eram um direito seu, previsto
em contrato firmado com o banco, mesmo após sua aposentadoria. "É uma fantasia. Não há nada
de ilegal. A segurança estava prevista em contrato, publicado pelo
banco em seus relatórios", disse
Meirelles ontem à Folha.
Segundo o presidente do BC, o
contrato é feito pelo banco com
seus executivos e previa que ele
teria direito a vários benefícios até
dois anos depois de se desligar da
instituição. Meirelles se aposentou no BankBoston em agosto de
2002, ano em que se candidatou a
deputado federal.
Entre os benefícios, Meirelles
disse que estavam o uso de segurança, secretárias e escritório. O
contrato teria sido desfeito quando ele ingressou no BC, no início
de 2003. "Rompi unilateralmente
o contrato quando assumi a presidência do BC. Abri mão dos benefícios porque, como estaria comandando o órgão regulador do
sistema financeiro, haveria conflito de interesses."
Segundo a assessoria de Meirelles, por ter rompido antecipadamente o contrato, que venceria
em agora, em agosto, o presidente
do BC recebeu uma indenização
de US$ 1 milhão.
Meirelles disse que, quando decidiu se candidatar, teve o cuidado de consultar advogados especialistas em legislação eleitoral sobre a legalidade do uso de segurança paga pelo BankBoston durante a campanha eleitoral.
"Na época e depois disso, quando começaram os ataques contra
minha pessoa, o advogado Torquato Jardim [ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral] disse
que não havia nenhum problema,
que era um direito meu", disse.
O presidente do BC afirma que,
durante sua campanha, "todo
mundo sabia que eu usava segurança paga pelo banco. Por que,
na época, ninguém contestou?".
Meirelles afirmou também que
não poderia comentar as suspeitas contra o BankBoston sobre ilegalidades nos acordos trabalhistas envolvendo os seguranças.
Posição do BankBoston
O BankBoston divulgou ontem
à noite nota afirmando que "jamais pagou salários para pessoas
que trabalharam na campanha do
sr. Henrique Meirelles".
O texto diz ainda que depois
que Meirelles se aposentou o
FleetBoston Financial, "por força
de contrato, continuou a provê-lo
com serviços de segurança".
O banco contesta ainda as suspeitas do Ministério Público sobre os acordos trabalhistas envolvendo seguranças usadas por
Meirelles. Segundo a nota, "todos
os acordos foram feitos pela área
de recursos humanos, nada tendo
a ver com a campanha política do
sr. Henrique Meirelles".
Os acordos, segundo o BankBoston, "foram feitos objetivando
ganhar tempo e dinheiro, o que de
fato se conseguiu".
Torquato Jardim confirmou à
Folha que foi advogado de Henrique Meirelles na campanha. Ele
disse que Meirelles usou segurança paga pelo BankBoston por
obrigação contratual, imposta
temporariamente a ex-executivos
de empresas que detêm segredos.
Ele teria avisado juízes do TRE
de Goiás, informalmente, sobre o
uso obrigatório desses seguranças, durante visita de Meirelles ao
órgão, em 2002. Afirmou desconhecer a razão por que alguns seguranças foram à Justiça contra o
BankBoston e acrescentou que esse fato não tem nenhuma relação
com a regularidade da campanha.
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