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PROTESTO
Um dia antes da manifestação da oposição, agricultores que perderam na CCJ deixam Brasília
Derrotado, ruralista dá lugar à marcha
VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha
A "Marcha dos
100 Mil" começou
ontem a chegar a
Brasília e substituir,
na Esplanada dos
Ministérios, os últimos produtores rurais remanescentes do protesto da semana
passada -que visava, entre outras coisas, forçar o perdão às dívidas do setor.
Entre 600 (segundo a PM) e
4.000 (segundo os organizadores)
funcionários públicos federais,
vindos de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Pernambuco, Maranhão, Tocantins e Ceará, fizeram
ontem à tarde uma passeata pela
Esplanada dos Ministérios e praça
dos Três Poderes.
Os manifestantes ocuparam
duas das seis pistas da Esplanada
minutos depois que os produtores rurais, que ficaram acampados nove dias na área, foram embora. Os agricultores queriam a
aprovação do projeto do deputado Augusto Nardes (PPB-RS),
que prevê a anistia de até 60% das
dívidas agrícolas.
Não conseguiram. A Comissão
de Constituição e Justiça da Câmara derrubou, anteontem, a
constitucionalidade do projeto
porque ele criava novos gastos
-atribuição do Executivo.
Ontem, articulação entre líderes
governistas adiou por tempo indeterminado a votação do recurso que os ruralistas apresentaram
tentando votar o mérito da constitucionalidade no plenário.
Indignado com a derrota na
CCJ, o agricultor Mário Kruger,
produtor de soja e milho na região de Rio Verde (GO), ateou fogo num trator de sua propriedade. No canteiro central da Esplanada, um grupo de cerca de cem
produtores rodearam as chamas,
cantando e aplaudindo a atitude
do colega.
Kruger vendeu a fazenda, uma
colheitadeira e dois tratores para
pagar dívidas no Banco do Brasil.
Enquanto o trator queimava, centenas de caminhões deixavam a
Esplanada ao som de um buzinaço e de fogos de artifício.
As lideranças do movimento
não queriam que o caminhonaço
se encontrasse com a marcha dos
partidos de esquerda.
"Não queremos incidentes.
Quem desce (a Esplanada) amanhã (hoje) é gente que tem posição ideológica, não como nós que
estamos atrás de solução", disse,
no palanque, o presidente da
Confederação Nacional da Agricultura, Antônio De Salvo.
O comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, Antônio
Ribeiro da Cunha, informou que
950 policiais militares ficarão na
área próxima ao Planalto.
Desse contingente, fazem parte
a cavalaria da PM, a Tropa de
Choque e cães farejadores.
Um efetivo total de 7.100 homens fará a segurança da Esplanada e regiões próximas ao local
da manifestação. O comandante
disse que a polícia estará equipada com balas de borracha e gás lacrimogêneo. Os soldados trabalharão armados com revólveres
calibre 38 e cassetetes.
Cerca de 400 policiais civis estarão à paisana misturados aos manifestantes para detectar possíveis
intenções de invasão de prédios
públicos.
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