São Paulo, Quinta-feira, 26 de Agosto de 1999
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PROTESTO
Um dia antes da manifestação da oposição, agricultores que perderam na CCJ deixam Brasília
Derrotado, ruralista dá lugar à marcha


VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha


A "Marcha dos 100 Mil" começou ontem a chegar a Brasília e substituir, na Esplanada dos Ministérios, os últimos produtores rurais remanescentes do protesto da semana passada -que visava, entre outras coisas, forçar o perdão às dívidas do setor.
Entre 600 (segundo a PM) e 4.000 (segundo os organizadores) funcionários públicos federais, vindos de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Pernambuco, Maranhão, Tocantins e Ceará, fizeram ontem à tarde uma passeata pela Esplanada dos Ministérios e praça dos Três Poderes.
Os manifestantes ocuparam duas das seis pistas da Esplanada minutos depois que os produtores rurais, que ficaram acampados nove dias na área, foram embora. Os agricultores queriam a aprovação do projeto do deputado Augusto Nardes (PPB-RS), que prevê a anistia de até 60% das dívidas agrícolas.
Não conseguiram. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara derrubou, anteontem, a constitucionalidade do projeto porque ele criava novos gastos -atribuição do Executivo.
Ontem, articulação entre líderes governistas adiou por tempo indeterminado a votação do recurso que os ruralistas apresentaram tentando votar o mérito da constitucionalidade no plenário.
Indignado com a derrota na CCJ, o agricultor Mário Kruger, produtor de soja e milho na região de Rio Verde (GO), ateou fogo num trator de sua propriedade. No canteiro central da Esplanada, um grupo de cerca de cem produtores rodearam as chamas, cantando e aplaudindo a atitude do colega.
Kruger vendeu a fazenda, uma colheitadeira e dois tratores para pagar dívidas no Banco do Brasil. Enquanto o trator queimava, centenas de caminhões deixavam a Esplanada ao som de um buzinaço e de fogos de artifício.
As lideranças do movimento não queriam que o caminhonaço se encontrasse com a marcha dos partidos de esquerda.
"Não queremos incidentes. Quem desce (a Esplanada) amanhã (hoje) é gente que tem posição ideológica, não como nós que estamos atrás de solução", disse, no palanque, o presidente da Confederação Nacional da Agricultura, Antônio De Salvo.
O comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, Antônio Ribeiro da Cunha, informou que 950 policiais militares ficarão na área próxima ao Planalto.
Desse contingente, fazem parte a cavalaria da PM, a Tropa de Choque e cães farejadores.
Um efetivo total de 7.100 homens fará a segurança da Esplanada e regiões próximas ao local da manifestação. O comandante disse que a polícia estará equipada com balas de borracha e gás lacrimogêneo. Os soldados trabalharão armados com revólveres calibre 38 e cassetetes.
Cerca de 400 policiais civis estarão à paisana misturados aos manifestantes para detectar possíveis intenções de invasão de prédios públicos.


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