São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2000 |
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QUESTÃO AGRÁRIA Novo acampamento será montado se não houver acordo MST ameaça voltar para frente da fazenda em Buritis
VALÉRIA DE OLIVEIRA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Os sem-terra podem voltar para a frente da fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Buritis (MG), caso o governo não atenda as reivindicações do MST na reunião prevista para hoje em Brasília. A ameaça foi feita ontem por Lucídio Ravanello, um dos líderes do MST que coordenou o acampamento na porteira da propriedade durante oito dias. "Nunca dissemos que não voltaríamos para a fazenda", afirmou Ravanello. Ele disse que os cerca de 500 manifestantes que estavam na porteira até a semana passada saíram ontem da fazenda Barriguda, que fica perto da área da família do presidente, e seguiram para Buritis. Lá, eles vão esperar o resultado da reunião de hoje entre MST e governo. Gilberto Portes, da direção nacional do movimento, confirmou a possibilidade de haver retomada da frente da fazenda após a reunião, caso o governo não atenda as sete principais reivindicações do MST. O encontro marca a retomada do diálogo dos sem-terra com o governo, interrompido por causa do episódio da fazenda e das invasões de prédios públicos. "Podemos voltar para a frente da fazenda e retomar a mobilização em todo o país", afirmou Portes, que ficou reunido com dirigentes estaduais do MST e com membros da direção nacional durante todo o dia de ontem. Após a reunião haverá assembléia dos militantes reunidos em Buritis para decidir o que será feito, informou Ravanello. Para a tarde, está previsto encontro entre o superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Distrito Federal, Raimundo Cardoso, Ravanello e líderes do MST para discutir uma pauta local. Na última sexta-feira, o governo anunciou a liberação de mais de R$ 971 mil para 148 famílias de três assentamentos, dois deles no município de Buritis e outro em Arinos, também em Minas Gerais. A medida era reivindicada pelo MST local. Entre as reivindicações locais, está o assentamento de 480 famílias. O ponto mais polêmico da pauta nacional é a concessão de crédito de R$ 2.000 para custeio da safra deste ano a 110 mil famílias, com juros de 1,15% ao ano, como prevê a linha A do Pronaf. O governo rejeita a medida. Quer que os assentados tomem empréstimos na linha C, cujos juros são de 4% anuais. O ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) alega que não há dinheiro para atender o pleito. Portes afirmou ontem que o presidente Fernando Henrique garantiu a ele e a outros líderes do MST que havia recursos orçamentários do Incra suficientes (R$ 220 milhões). O compromisso teria sido feito em reunião no Planalto no começo de julho. O governo nega o acordo. Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Governo e sem-terra criam versões sobre crédito Índice |
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