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Governo e sem-terra criam versões sobre crédito
ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Governo e MST divulgaram
duas versões conflitantes sobre a
questão do crédito agrícola extra
de R$ 2.000 por família assentada,
principal reivindicação do MST
neste ano. Nenhuma das versões
corresponde totalmente aos fatos.
O governo não prometeu liberar recursos extras, como diz o
MST. Mas também não encaminhou ao CNDRS (Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural
Sustentado), criado em 1999, a
proposta nas condições negociadas nas três reuniões ocorridas
em julho, como se comprometeu.
Em uma das reuniões, em 3 de
julho, participou o presidente
Fernando Henrique Cardoso.
A reivindicação do MST -crédito adicional de R$ 2.000 para 110
mil famílias assentadas nos últimos anos pela linha A do Pronaf,
com juros de 1,15% anuais e desconto de 40% no pagamento em
dia- chegou ao CNDRS alterada
e com voto contrário do governo.
No conselho, 11 das vagas com
direito a voto são ocupadas por
ministros e representantes do governo, contra 4 dos movimentos
sociais ligados à questão agrária e
7 de entidades civis e representantes de Estados e municípios. O
MST foi convidado a integrar o
conselho, mas se recusou.
"Essa é uma questão política,
que não deveria ter sido levada ao
conselho. O governo tem autoridade suficiente para decidir na
negociação com o MST se libera
ou não os recursos", disse Manoel
José dos Santos, presidente da
Contag (Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Agricultura). Ele se absteve na votação, juntamente com mais três membros
do conselho, em reunião no último dia 15. Outros 17 membros seguiram o voto do governo.
"A proposta teria de ser aprovada pelo conselho e depois ser enviada para votação no CMN
(Conselho Monetário Nacional),
porque altera as regras do plano
de safra", disse Luis Fernando de
Matos Pimenta, 50, secretário-executivo do CNDRS.
Pelo plano, os assentados que já
receberam o teto de R$ 9.500 só
podem ter crédito de custeio pela
linha C do Pronaf, com juros de
4% ao ano e desconto (rebate) de
R$ 200 fixos para o pagamento
em dia. Além dos juros mais altos,
são maiores as exigências dos
bancos. A linha C do Pronaf tem
recursos de R$ 572 milhões e a linha A, exclusiva para recém-assentados, tem R$ 642 milhões.
A transformação do assentado
em agricultor familiar, passando
da linha A para a C, é uma das metas do Ministério do Desenvolvimento Agrário desde o ano passado, quando o antigo Procera
(Programa de Crédito Especial
para Reforma Agrária) foi substituído pelo Pronaf. O crédito anterior tinha juros de 6,5% ao ano,
com rebate de 50%, e era estendido a todos os assentados.
O MST não aceita essa mudança, alegando que o assentado não
tem condições de arcar com juros
mais altos. Também não teria como apresentar as garantias exigidas pelos bancos na linha C.
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