São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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CELSO PINTO

Sinais moderados do PT aos bancos

Nas últimas semanas, José Dirceu, presidente do PT, Aloizio Mercadante, assessor econômico do partido, e Antônio Palocci, coordenador do programa de governo de Lula, estiveram, juntos ou em separado, com os principais banqueiros do país e vários economistas de diversas tendências. Falaram, entre outros, com Lázaro Brandão, do Bradesco, Olavo Setúbal, do Itaú, José Safra, do Safra, e Fábio Barbosa, do Real ABN Amro, além de alguns diretores de bancos. Entre economistas não petistas, falaram com Delfim Netto, Luiz Paulo Rosemberg, Ibrahim Eris e Raul Velloso, para citar alguns.
Foram ouvir e passar algumas mensagens. A principal, comenta Palocci, é que o PT tem consciência de que, se ganhar, haverá um período complicado de transição pela frente, que será conduzido com prudência e moderação. O futuro presidente do Banco Central, a maior inquietação do mercado, "não precisará ser do PT". Terá que ter "uma história de capacidade e equilíbrio". "Não tentaremos nenhum experimentalismo, nem nada exótico", garante.
Palocci não diz, mas outras fontes do partido garantem que neste perfil caberiam economistas liberais, com formação muito diferente do PT. "A transição tem que ser feita com a cabeça de transição: o perfil não pode ser igual ao nosso", define a fonte. Terça-feira, num encontro fechado com executivos do mercado, Mercadante definiu o futuro presidente do BC como alguém com grande experiência no mercado e sólida formação acadêmica.
Ninguém falou ou falará em nomes antes das urnas apuradas. Um dos banqueiros sugeriu ao PT convidar o ex-diretor do BC Cláudio Haddad, que tem boas relações pessoais com Mercadante e uma formação liberal. Outro nome que circula é o do ex-presidente do BankBoston Henrique Meirelles. Sabe-se que Mercadante, Dirceu e Palocci simpatizam com a idéia de manter Armínio Fraga por um período de transição. Lula, contudo, fechou essa porta, em declarações na terça-feira.
A tensão no câmbio e nos mercados levou alguns, no PT, a temer que o candidato tucano, José Serra, voltasse a agitar o fantasma da "argentinização" se Lula ganhar -hipótese não confirmada no programa eleitoral de terça-feira. Trouxe, também, críticas dentro do PT de que o BC estaria sendo leniente com a crise, por razões políticas, e até que a subida do dólar seria uma armação especulativa do mercado para barrar Lula.
Palocci discorda de tudo isso. Elogia a atuação do BC. "O governo está sendo responsável na condução da economia neste momento eleitoral", reconhece. "O BC está tendo uma direção firme e corajosa." Ele garante que não há nenhuma restrição pessoal no PT a Armínio, nem mesmo por parte de Lula, mas há dificuldade, do ponto de vista político, para defender sua manutenção, ainda que transitória. Também não atribui a crise a uma manipulação especulativa. É uma combinação entre problemas na economia mundial e ansiedade no mercado pelas mudanças com a eleição presidencial. Aposta, contudo, na "lei da gravidade": o dólar vai acabar caindo pela boa razão de que subiu demais, como ouviu de vários economistas.
Palocci não acha óbvio descobrir que candidato pode sair perdendo com o salto no dólar. Se toda a eleição tivesse sido conduzida em meio a uma forte crise, diz, talvez o PT tivesse sofrido; na reta final, a crise pode até prejudicar o candidato tucano.
Os dados dão razão, até agora, a Palocci. Uma comparação entre os dois gráficos que acompanham a coluna mostra que, desde março, quando o dólar começou a subir, houve um período em que tanto Lula quanto Serra caíram e Ciro subiu, entre maio e junho. No final de julho e agosto, o dólar disparou, e tanto Lula quanto Serra subiram, enquanto Ciro caía. Desde meados de setembro, o dólar voltou a disparar, e Lula subiu, enquanto Serra caía um pouco. Ou seja, até agora, pelo menos, é impossível dizer que a crise, medida pela cotação do dólar, tenha ajudado ou prejudicado, claramente, algum candidato.
A mensagem moderada do PT tem sido bem recebida. Mas, como diz um banqueiro, ficam dúvidas: como o PT vai administrar expectativas fortes de mudanças e quanto do discurso é apenas "para contornar desconfianças". Palocci garante que a "inflexão moderada" da campanha foi para valer, e não eleitoreira, tanto que aceitar o acordo com o FMI trará perdas, e não ganhos de votos.
O mercado quer estabilidade, diz, e o PT oferece a chance de uma estabilidade real, fruto de sua capacidade política de interagir com setores importantes e lidar com questões como exclusão social e distribuição de renda. Se eleito, o PT colocará, de imediato, na mesa propostas de reformas previdenciária e tributária, que pretende conduzir em "fóruns de negociação". O erro do atual governo, diz, foi tentar impor; com negociação, será possível viabilizar as reformas.
De agora até a posse, o BC, segundo Palocci, terá que encontrar um equilíbrio delicado entre usar seu arsenal para conter excessos do mercado e não deixar o volume de reservas cair a nível crítico. O risco de a crise fugir de controle existe, dizem banqueiros, e não deixa espaço para erros, se o PT for eleito. Palocci sabe disso.

E-mail:
CelPinto@uol.com.br



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