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Deputado diz ter ouvido de executivos de bancos versão de que Banco Central faz "corpo mole"
Petistas insinuam que BC deixa o dólar "solto" para ajudar Serra
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Lideranças petistas desconfiam
de que o Banco Central tenha retomado a estratégia de "terrorismo econômico", deixando o dólar subir para prejudicar a candidatura presidencial de Luiz Inácio
Lula da Silva e ajudar José Serra
(PSDB).
Ontem, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP), um dos principais interlocutores do partido
junto ao mercado financeiro, acusou o BC de estar agindo de maneira pouco firme na contenção
do dólar. "O Banco Central está
fazendo corpo mole. Não está entrando no mercado para segurar o
dólar como poderia", declarou o
deputado, que tem sido um dos
idealizadores de recentes encontros de Lula com bancos.
Berzoini diz que se reuniu ontem pela manhã com executivos
de dois dos principais bancos que
operam no Brasil e que eles compartilham dessa visão.
"Parcela expressiva do mercado
está convencida de que o BC não
está fazendo o que deveria", disse
ele, que preferiu não dar nomes
dos interlocutores. O petista diz
que os motivos pelos quais o BC
estaria agindo sem firmeza "têm
de ser investigados".
A assessoria do BC foi procurada para comentar o assunto, mas
não se pronunciou a respeito até o
fechamento desta edição.
O assunto divide o partido. Integrantes da equipe que cuida do
programa de governo consideram não haver fundamento na
crítica à atuação do BC e preferem
evitar uma discussão potencialmente desgastante, no momento
em que Lula aparece com chance
real de vencer no primeiro turno.
O PT está preocupado, no entanto, com a possibilidade de a
disparada do dólar alimentar o
clima de incerteza no mercado, o
que poderia acabar favorecendo
um voto pela continuidade, representada por Serra.
A disparada do dólar, que fechou ontem a R$ 3,66 -recuo de
3,09% em relação a anteontem,
quando foi vendido a R$ 3,78-,
tem sido atribuída em parte à dúvida sobre a maneira como o PT
comandaria a economia.
Os petistas acreditavam que o
governo utilizaria recursos liberados pela redução do piso das reservas do país -que caíram de
US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões
com o acordo com o FMI- para
conter a moeda norte-americana.
Um dos porta-vozes econômicos do partido, o deputado federal
Aloizio Mercadante (SP) admite a
possibilidade de "conivência" do
governo com a subida do dólar.
"O governo já jogou com a alta
do dólar em abril e pode estar fazendo isso de novo, numa estratégia desesperada para salvar sua
candidatura. Pode estar havendo
omissão do governo ao não utilizar instrumentos de que dispõe,
com o objetivo de criar um fato
político", disse ele. Mercadante
ressalva que ainda é preciso esperar mais alguns dias para concluir
de forma definitiva que o governo
voltou a fazer "terrorismo".
Ao mesmo tempo em que faz a
crítica, o PT toma cuidado para
não prejudicar o relacionamento
que construiu com Armínio Fraga, presidente do BC, hoje um interlocutor frequente e respeitado
do partido. Os petistas não chegam ao ponto de dizer que haveria uma ordem expressa de Fraga,
do ministro da Fazenda, Pedro
Malan, ou do próprio presidente
Fernando Henrique Cardoso para
deixar o dólar "solto".
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