São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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Deputado diz ter ouvido de executivos de bancos versão de que Banco Central faz "corpo mole"

Petistas insinuam que BC deixa o dólar "solto" para ajudar Serra

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Lideranças petistas desconfiam de que o Banco Central tenha retomado a estratégia de "terrorismo econômico", deixando o dólar subir para prejudicar a candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva e ajudar José Serra (PSDB).
Ontem, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP), um dos principais interlocutores do partido junto ao mercado financeiro, acusou o BC de estar agindo de maneira pouco firme na contenção do dólar. "O Banco Central está fazendo corpo mole. Não está entrando no mercado para segurar o dólar como poderia", declarou o deputado, que tem sido um dos idealizadores de recentes encontros de Lula com bancos.
Berzoini diz que se reuniu ontem pela manhã com executivos de dois dos principais bancos que operam no Brasil e que eles compartilham dessa visão.
"Parcela expressiva do mercado está convencida de que o BC não está fazendo o que deveria", disse ele, que preferiu não dar nomes dos interlocutores. O petista diz que os motivos pelos quais o BC estaria agindo sem firmeza "têm de ser investigados".
A assessoria do BC foi procurada para comentar o assunto, mas não se pronunciou a respeito até o fechamento desta edição.
O assunto divide o partido. Integrantes da equipe que cuida do programa de governo consideram não haver fundamento na crítica à atuação do BC e preferem evitar uma discussão potencialmente desgastante, no momento em que Lula aparece com chance real de vencer no primeiro turno.
O PT está preocupado, no entanto, com a possibilidade de a disparada do dólar alimentar o clima de incerteza no mercado, o que poderia acabar favorecendo um voto pela continuidade, representada por Serra.
A disparada do dólar, que fechou ontem a R$ 3,66 -recuo de 3,09% em relação a anteontem, quando foi vendido a R$ 3,78-, tem sido atribuída em parte à dúvida sobre a maneira como o PT comandaria a economia.
Os petistas acreditavam que o governo utilizaria recursos liberados pela redução do piso das reservas do país -que caíram de US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões com o acordo com o FMI- para conter a moeda norte-americana.
Um dos porta-vozes econômicos do partido, o deputado federal Aloizio Mercadante (SP) admite a possibilidade de "conivência" do governo com a subida do dólar.
"O governo já jogou com a alta do dólar em abril e pode estar fazendo isso de novo, numa estratégia desesperada para salvar sua candidatura. Pode estar havendo omissão do governo ao não utilizar instrumentos de que dispõe, com o objetivo de criar um fato político", disse ele. Mercadante ressalva que ainda é preciso esperar mais alguns dias para concluir de forma definitiva que o governo voltou a fazer "terrorismo".
Ao mesmo tempo em que faz a crítica, o PT toma cuidado para não prejudicar o relacionamento que construiu com Armínio Fraga, presidente do BC, hoje um interlocutor frequente e respeitado do partido. Os petistas não chegam ao ponto de dizer que haveria uma ordem expressa de Fraga, do ministro da Fazenda, Pedro Malan, ou do próprio presidente Fernando Henrique Cardoso para deixar o dólar "solto".


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