São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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Fala de Lula causa mal-estar na Argentina

DE BUENOS AIRES

As declarações do candidato petista a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, de que o Brasil não seria "uma republiqueta, uma Argentina" causaram um profundo mal-estar no país vizinho, mas foram minimizadas pelo presidente Eduardo Duhalde horas antes de sua viagem a Brasília.
A imprensa e políticos locais interpretaram que Lula teria dito explicitamente que a Argentina era uma "republiqueta", mesmo após o porta-voz do candidato, André Singer, ter afirmado, anteontem, que essa não era a intenção de Lula e que se tratava de um mal-entendido.
Duhalde disse ontem que aceitava as explicações de Singer e que não era correto "engrandecer" as declarações. "O que realmente devemos engrandecer é a relação de Argentina e Brasil", afirmou.
O presidente também declarou que os dois países têm "um futuro comum (...) e até problemas comuns que devem ser enfrentados com estratégias comuns".
Menos diplomático, o ministro Jorge Matzkin (Interior) disse ter se tratado de um "gesto inconveniente". "Obviamente são declarações que não nos agradam, e Lula não precisa agredir a Argentina para ser presidente."
Um porta-voz da Casa Rosada admitiu que a declaração criou um "mal-estar" entre os dois países, principalmente porque Duhalde viajaria ontem a Brasília para se reunir com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Claro que não é o melhor momento para Duhalde estar no Brasil, mas não vejo como as afirmações de Lula, que claramente não foram intencionais, possam prejudicar as boas relações diplomáticas entre os dois países", afirmou o porta-voz, que pediu para não ser identificado.
O pré-candidato a presidente da Argentina que mais defende o Mercosul, José Manuel de la Sota, disse que Lula deveria ser mais "cuidadoso". "Admiro Lula porque ele é o único candidato brasileiro que defende o Mercosul abertamente. Mas ele deve ter mais cuidado ao falar esse tipo de coisa", disse De la Sota. Já a deputada de oposição Elisa Carrió, pré-candidata a presidente, ficou do lado de Lula: "Este é mesmo um país de máfias e tenho dito isso há anos". (JOÃO SANDRINI)



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