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Fala de Lula causa mal-estar na Argentina
DE BUENOS AIRES
As declarações do candidato
petista a presidente, Luiz Inácio
Lula da Silva, de que o Brasil não
seria "uma republiqueta, uma Argentina" causaram um profundo
mal-estar no país vizinho, mas foram minimizadas pelo presidente
Eduardo Duhalde horas antes de
sua viagem a Brasília.
A imprensa e políticos locais interpretaram que Lula teria dito
explicitamente que a Argentina
era uma "republiqueta", mesmo
após o porta-voz do candidato,
André Singer, ter afirmado, anteontem, que essa não era a intenção de Lula e que se tratava de um
mal-entendido.
Duhalde disse ontem que aceitava as explicações de Singer e que
não era correto "engrandecer" as
declarações. "O que realmente
devemos engrandecer é a relação
de Argentina e Brasil", afirmou.
O presidente também declarou
que os dois países têm "um futuro
comum (...) e até problemas comuns que devem ser enfrentados
com estratégias comuns".
Menos diplomático, o ministro
Jorge Matzkin (Interior) disse ter
se tratado de um "gesto inconveniente". "Obviamente são declarações que não nos agradam, e
Lula não precisa agredir a Argentina para ser presidente."
Um porta-voz da Casa Rosada
admitiu que a declaração criou
um "mal-estar" entre os dois países, principalmente porque Duhalde viajaria ontem a Brasília para se reunir com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Claro que não é o melhor momento para Duhalde estar no Brasil, mas não vejo como as afirmações de Lula, que claramente não
foram intencionais, possam prejudicar as boas relações diplomáticas entre os dois países", afirmou o porta-voz, que pediu para
não ser identificado.
O pré-candidato a presidente da
Argentina que mais defende o
Mercosul, José Manuel de la Sota,
disse que Lula deveria ser mais
"cuidadoso". "Admiro Lula porque ele é o único candidato brasileiro que defende o Mercosul
abertamente. Mas ele deve ter
mais cuidado ao falar esse tipo de
coisa", disse De la Sota. Já a deputada de oposição Elisa Carrió, pré-candidata a presidente, ficou do
lado de Lula: "Este é mesmo um
país de máfias e tenho dito isso há
anos".
(JOÃO SANDRINI)
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