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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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MINISTROS NO FOGO

Costa Neto critica atuação do ministro dos Transportes, que não estaria atendendo aos pleitos do partido

Presidente do PL desaprova gestão de Adauto

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente nacional do PL, deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), criticou abertamente ontem a atuação do único ministro do partido, Anderson Adauto (Transportes), tornando pública uma insatisfação que vinha sendo tratada reservadamente.
Costa Neto deu a entender que, apesar de elogiar a capacidade de articulação política de Adauto, considera-o um fracasso na tarefa executiva. "Acontece que um cargo público executivo é uma prova de cem metros rasos. Você pode ser o melhor velocista do mundo, mas, se titubeou na largada, perdeu a corrida", disse o deputado.
Entre outras coisas, Costa Neto se referiu às notícias surgidas no início do ano dando conta de supostas ligações de Adauto com pessoas acusadas de comandar um esquema que teria fraudado em R$ 4 milhões a Prefeitura de Iturama (MG), reduto eleitoral do ministro. O fato teria ocorrido em 1996: "Aquelas denúncias estavam rodando Brasília o tempo todo e ninguém havia dado atenção. Mas eram problemas locais. Isso dificultou o trabalho dele".
Nas declarações que já deu sobre o assunto, o ministro negou qualquer envolvimento em irregularidades. Solicitado a explicar melhor seu raciocínio, Costa Neto reforçou: "O Anderson é um excelente cara para articular. No Executivo, ele está tento dificuldade, é nítido. Se eu falar que ele não está tendo dificuldade, vocês vão me chamar de louco".
A Folha tentou entrar em contato ontem com Adauto para que ele falasse a respeito de sua relação com o partido, mas a assessoria de imprensa do ministério não deu resposta até o fechamento desta edição.
O fato é que deputados do PL estão insatisfeitos com a gestão de Adauto, que não estaria atendendo a pleitos da bancada. Em suma, eles não estariam se sentindo representados no governo.
Além disso, veio a público nos últimos dias a notícia de que o ministro foi condenado em primeira instância a uma inelegibilidade de três anos, a partir de 2004, pelo uso de avião da Assembléia Legislativa de Minas em 2000, quando era presidente da Casa e candidato a prefeito de Uberaba. Adauto afirmou, em declarações anteriores, que a ação judicial é fruto de disputa "política paroquial".
O ministro é um dos possíveis candidatos a perder o posto na reforma ministerial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende fazer até o final do ano. Nesta semana, ele criticou indiretamente Lula e cobrou mais verbas para a infra-estrutura.
Para agravar a situação, tanto Costa Neto quanto outros deputados do PL fazem questão de não defender a posição do ministro do partido, o que é comum em outras legendas e em outras situações. Questionado sobre se a avaliação ruim da administração de Adauto decorreria das verbas escassas do ministério ou de uma suposta inoperância do ministro, Costa Neto respondeu: "Foi repassada verba para lá. Mas aí tem esse problema da parte executiva. Ele tem dificuldade. É inegável, ele está tendo dificuldade na administração do ministério", disse.
O deputado fez questão de ressaltar que a nomeação de Adauto foi uma escolha pessoal de Lula, ou seja, não seria indicação dele ou do vice José Alencar, figura de maior relevo hoje no PL. "O José Alencar gosta do Anderson, tem muito respeito por ele, mas não foi ele quem escolheu", afirmou.
Alencar e Adauto fizeram carreira política em Minas Gerais e ingressaram no PL após saírem do PMDB. Na época da montagem do governo, o partido indicou a Lula o nome do também deputado Ronaldo Vasconcellos, que ocuparia o Turismo. O deputado saiu do PL e se filiou ao PTB.


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