São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Em alusão a críticas do cearense a FHC, ministro diz que "não pode haver meio candidato do governo"

Serra discursa como candidato e critica Tasso entre tucanos

RAYMUNDO COSTA
LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Serra consumiu três horas de sua agenda, na noite de quarta e na madrugada de ontem, para balizar os termos de sua eventual candidatura à Presidência da República em 2002 e expor sua diferença em relação à candidatura de seu oponente mais forte no PSDB, o governador cearense Tasso Jereissati.
Conhecido no meio político como uma pessoa antipática, Serra se esforçou para demonstrar o contrário. Num intervalo de 30 minutos, circulou pelas oito mesas, de nove lugares cada, do salão de festas de um bloco de apartamentos da SQS 104, em Brasília, onde parte da bancada do PSDB na Câmara patrocinou um jantar de apoio à sua candidatura.
A referência a Tasso, que na segunda-feira fez críticas ao governo, se deu quando Serra esboçou o perfil ideal do candidato do partido: "Não existe meio candidato do governo", disse Serra.
Ele mesmo, porém, na terça-feira, havia atacado de forma velada o governo, mais precisamente a política cambial adotada pelo ministro Pedro Malan (Fazenda), em discurso no Congresso. Chegou a sugerir a necessidade de uma "lei de responsabilidade cambial". Na madrugada de ontem voltou a defender o governo.
Segundo o ministro, os tucanos precisam aceitar que houve erros, mas também que muito foi feito. Elogiou a "serenidade" de FHC na condução das crises ocorridas este ano, do "apagão" aos atentados terroristas nos EUA. Mas foi incisivo: o candidato tucano terá de defender com firmeza o governo.
Serra, que não faz o tipo de político de dar tapinhas nas costas, fez brincadeiras com sua fama de antipático, apregoada pelo PFL e adversários tucanos como o calcanhar-de-aquiles para eventual candidatura presidencial: "Todo mundo me considera um sujeito antipático. Mas esse é o meu feitio. A minha mãe não acha. Pelo contrário, acha até muito simpático", disse, arrancando gargalhadas dos convidados.
"A única unanimidade aqui é o Barjas [Barjas Negri, secretário-executivo do Ministério da Saúde e provável substituto de Serra quando ele deixar o governo para disputar a eleição"."
Gesto típico de candidato em campanha eleitoral, logo à chegada, às 22h20 de anteontem, Serra cumprimentou o "chef" importado de São Paulo para o jantar: Roberto Ravioli, do premiado restaurante Empório Ravioli. No cardápio, javali, perdiz e massas recheadas com camarões frescos e secos. Bebida: vinho e uísque.
Serra disse que criou uma agenda positiva para a Saúde e que tem esse mesmo otimismo em relação à economia do país. Classificou-se como uma pessoa pessimista na análise por ser realista, mas otimista na ação.
O jantar foi organizado pelo deputado Ricarte Freitas, da bancada do PSDB de Mato Grosso, e sinaliza o futuro apoio do governador Dante de Oliveira ao ministro. Foram convidados 43 dos 96 deputados tucanos. Compareceram 41 e três senadores. No total, havia cerca de 60 pessoas.
Coube ao anfitrião Ricarte lançar o nome de Serra a 2002. Outros tucanos se manifestaram no sentido de que a candidatura precisaria ser logo posta nas ruas.
Serra contra-argumentou: a um ano da eleição, seria inconveniente expor o candidato do PSDB, "quem quer que venha a ser, seja eu ou seja o Tasso, a chuvas e trovoadas". O ministro foi explícito: quer ficar mais cinco meses no governo (para disputar a eleição, ele terá de deixar o cargo em abril do próximo ano) para "explorar ao máximo" sua administração no Ministério da Saúde. "Seria uma burrice sair agora", teria dito em uma das mesas.


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