São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2001

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JANIO DE FREITAS

Nada por muito

As interpretações que ligam à sucessão presidencial a nomeação do peemedebista Ney Suassuna para o Ministério da Integração, ao fim de três semanas de relutância de Fernando Henrique Cardoso, enobrecem a política e talvez enobreçam alguns de seus adeptos, mas o buraco de onde foi desencavada fica muito mais embaixo.
A força dos fatos é tal, nesse caso, que não deixa brecha para especulações sobre seu motivo e finalidade. Senador pela Paraíba mas desde muito tempo residente no Rio, Ney Suassuna foi designado relator, na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, do processo para investigar as relações de Eduardo Jorge Caldas Pereira, quando secretário da Presidência da República, com a obra do TRT paulista e com Nicolau dos Santos Neto, seu frequente interlocutor telefônico. Suassuna, porém, cercou de mistério o seu relatório, que, por isso, tanto poderia revelar-se, sem questionamentos, em um sentido como em outro.
Indicado pelo PMDB para o Ministério da Integração, Suassuna esbarrou por quase um mês na resistência passiva de Fernando Henrique, que não aceitava nem repelia a indicação. Até que, na terça-feira, deu um sinal de que, já na antevéspera de sua viagem, o jogo precisava decidir-se: disse-se convencido de que a Integração estava melhor com a interinidade de um técnico do que estivera quando entregue a políticos.
Apesar dessa convicção, em menos de 24 horas Fernando Henrique fazia o que Ney Suassuna desejava e, simultaneamente, Ney Suassuna liberava o relatório com a conclusão que Fernando Henrique desejava, dando como justificado o patrimônio de Eduardo Jorge e engavetando suas ligações com Nicolau dos Santos Neto.
Não há sinal, nesse episódio, de manobra para recomposição com o PMDB nem de outros interesses sucessórios de Fernando Henrique. Na pequenez planaltina, o gigantesco "meu reino por um cavalo" reduziu-se a "meu ministério por seu relatório".
Bem, está certo. Há tempos ministério não vale nada e a inocentação de Eduardo Jorge Caldas Pereira deve valer muito.



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