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QUESTÃO INDÍGENA
Iauanauás conseguem reverter processo de migração de seu povo, exportando corante para empresa dos EUA
Urucum transforma vida de comunidade
NOELI MENEZES
DA REDAÇÃO
SILVIA DE MOURA
DA AGÊNCIA FOLHA
A produção de urucum para exportação transformou a vida dos
índios iauanauás, que vivem às
margens do rio Gregório, em Tarauacá (490 km de Rio Branco).
Com a venda da semente para a
empresa norte-americana de cosméticos Aveda, a comunidade
iauanauá conseguiu reverter o
processo de migração da população indígena. Os mais jovens
saíam em busca de trabalho e melhores condições de vida. Hoje, a
aldeia tem uma infra-estrutura similar à de uma cidade.
"Hoje, temos uma infra-estrutura que vai desde o pessoal preparado na área de educação, saúde e administração até sistema rural de eletricidade que funciona
com a energia solar, posto médico
e maquinário de beneficiamento
de sementes", afirma Joaquim
Tashka Yawanawá, representante
internacional da comunidade.
No início dos anos 90, com o
acirramento da crise do preço da
borracha, os iauanauás, que sobreviviam da exploração da seringa, enfrentaram dificuldades financeiras, conta Tashka.
Em 93, os índios criaram a
Oaeyrg (Organização de Agricultores Extrativistas Yawanawá do
Rio Gregório) para buscar parceria com a iniciativa privada.
"A partir da parceria com a Aveda, nosso povo foi encontrando
novos horizontes em busca de
uma autonomia econômica, sem
sair da floresta. É uma forma de
preservarmos nossos costumes,
tradições e língua", diz Tashka.
O antropólogo Mauro Leonel
afirma que os projetos da iniciativa privada com comunidades indígenas são mais viáveis que os do
governo porque oferecem garantia de mercado para os produtos.
De acordo com Ednaldo dos Santos, da Funai em Rio Branco, o
projeto foi todo desenvolvido pela
própria comunidade indígena.
"Eles criaram a associação deles e
buscaram recursos. A Funai não
interveio em nada. Nem para ajudar nem para coibir."
Segundo o presidente da
Oaeyrg, Raimundo Sales Luiz Yawanawá, 38, o quilo do urucum
produzido pelos iauanauás é
comprado pela Aveda a R$ 2,40
-preço acima do mercado nacional, que paga R$ 1,80 pelo quilo
da semente da planta. Os índios
colhem cerca de cinco toneladas
de urucum em cada uma das duas
safras anuais.
Inversão
Segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio), em 1995, dois
anos após a implantação do projeto, havia cerca de 230 índios vivendo na aldeia. Atualmente, há
cerca de 500 iauanauás lá.
Quando o fundador da Aveda,
Horst Rechelbacher, encontrou-se com os líderes iauanauás para
discutir a parceria, sugeriu que o
urucum fosse colhido na floresta.
Mas os índios apresentaram a
proposta de separar uma área para o cultivo da planta.
A empresa financiou o plantio
de urucum em 16 hectares da reserva, associado a outras plantas
tropicais da Amazônia, como castanheira, pupunheira e guaraná.
Os índios já fazem o plantio com
recursos próprios.
A Aveda utiliza o corante do
urucum na produção de batons,
xampus e condicionadores.
Tradição
A preservação das tradições indígenas foi um dos pontos do
contrato firmado entre os iauanauás e a Aveda. "A empresa tem
respeitado nossos limites e nossa
forma tradicional de trabalhar",
afirma Sales. (leia ao lado)
Para Tashka, não existe no Brasil um política que trate especificamente da questão indígena no
que diz respeito a seu território
tradicional, a educação diferenciada e a saúde. "A única saída da
comunidade foi buscar formas de
ser auto-sustentável economicamente para manter sua tradição."
A aldeia possui uma escola de 1ª
a 4ª séries que ensina, além da língua portuguesa, a língua iauanauá. "Neste mundo de globalização, nós temos de preservar nossos costumes. É um meio de sobreviver. A nossa escola tem de
trabalhar em torno disso", diz Biraci Brasil Yawanawá.
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