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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Bilhete de empresário italiano ao juiz Rocha Mattos afirma que no Estado independente "as pessoas são anônimas"

Polícia suspeita de contas até no Vaticano

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Bilhetes de um empresário italiano, apreendidos pela Operação Anaconda, a Norma Cunha, ex-mulher do juiz João Carlos da Rocha Mattos, revelam supostas tratativas para abertura de conta bancária no Estado do Vaticano.
Em 2 de outubro de 1998, escreve o empresário: "Caríssima Norma, favor avisar o dia em que gostaria de passar a escritura. Eu gostaria que fosse antes da nossa ida ao Vaticano. Favor informar".
Outra carta, de 31 de março, esclarece a um outro destinatário -provavelmente Rocha Mattos, segundo a PF- as vantagens da tal conta: "Todas as pessoas que têm passaporte da Comunidade Européia têm direito a abrir contas na Europa e, principalmente, no Vaticano, Estado independente onde as pessoas são anônimas, só identificadas mediante um número que só o interessado conhece, portanto não é ilegalidade ter conta no Vaticano".
Continuando, o empresário, na mesma carta, sugere as razões pelas quais teria oferecido a abertura da conta: "Oxalá todos pudessem ter conta lá... portanto, não entenda de forma errada a minha maneira de oferecer tal conta, só para um grande amigo como você, em troca de favores recíprocos, como é o nosso caso".
Num terceiro bilhete, o italiano pede a Cunha a intermediação para chegar aos serviços do doleiro Sandor Figueiredo: "Caríssima Norma, por favor, veja você com o Sandor se me pode descontar esse cheque de US$ 15.000,00. Recebi em pagamento pelo Correio. Grato. Conto com você. PLS: Me avise e fale com ele do outro negócio, que você sabe, tá?".
Na última sexta-feira, em mais uma etapa da Operação Anaconda, que investiga uma suposta quadrilha que pratica extorsão, tráfico de influência e venda de sentenças judiciais, a PF apreendeu documentos em sete endereços mantidos por Figueiredo e sua empresa, a Suntur Turismo, em São Paulo e São José dos Campos.
Há indícios de que Figueiredo mantinha, entre seus negócios, operações para lavar o dinheiro obtido pela suposta quadrilha com atividades ilícitas.
Em um quarto bilhete, o italiano solicita: "Caríssima, preciso de você. Fui protestado em R$ 70 mil. Por favor, me empreste....".
Os bilhetes fazem parte de um relatório enviado ontem pela PF ao Departamento de Recuperação de Ativos Financeiros do Ministério da Justiça. Trata-se de um resumo sobre todos os documentos que poderiam sugerir -ou comprovar, em alguns casos- a existência de dinheiro da suposta quadrilha em outros países.
O relatório faz referência a duas contas de Cunha no exterior: uma na agência do Santander da avenida L'Opera em Paris, outra no Itaú das Ilhas Cayman.
Também cita um fax, apreendido pela Operação Anaconda no dia 30 de outubro, no escritório do advogado Affonso Passarelli Filho, remetido pela empresa IR Projects. São boletos referentes a despesas de um imóvel em nome de Cunha no condomínio FoxHall, em Kissimee, na Flórida.
O doleiro Figueiredo não foi localizado ontem para comentar as suspeitas sobre suas relações com a suposta quadrilha.


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