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OPERAÇÃO ANACONDA
Bilhete de empresário italiano ao juiz Rocha Mattos afirma que no Estado independente "as pessoas são anônimas"
Polícia suspeita de contas até no Vaticano
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Bilhetes de um empresário italiano, apreendidos pela Operação
Anaconda, a Norma Cunha, ex-mulher do juiz João Carlos da Rocha Mattos, revelam supostas tratativas para abertura de conta
bancária no Estado do Vaticano.
Em 2 de outubro de 1998, escreve o empresário: "Caríssima Norma, favor avisar o dia em que gostaria de passar a escritura. Eu gostaria que fosse antes da nossa ida
ao Vaticano. Favor informar".
Outra carta, de 31 de março, esclarece a um outro destinatário
-provavelmente Rocha Mattos,
segundo a PF- as vantagens da
tal conta: "Todas as pessoas que
têm passaporte da Comunidade
Européia têm direito a abrir contas na Europa e, principalmente,
no Vaticano, Estado independente onde as pessoas são anônimas,
só identificadas mediante um número que só o interessado conhece, portanto não é ilegalidade ter
conta no Vaticano".
Continuando, o empresário, na
mesma carta, sugere as razões pelas quais teria oferecido a abertura
da conta: "Oxalá todos pudessem
ter conta lá... portanto, não entenda de forma errada a minha maneira de oferecer tal conta, só para
um grande amigo como você, em
troca de favores recíprocos, como
é o nosso caso".
Num terceiro bilhete, o italiano
pede a Cunha a intermediação para chegar aos serviços do doleiro
Sandor Figueiredo: "Caríssima
Norma, por favor, veja você com
o Sandor se me pode descontar
esse cheque de US$ 15.000,00. Recebi em pagamento pelo Correio.
Grato. Conto com você. PLS: Me
avise e fale com ele do outro negócio, que você sabe, tá?".
Na última sexta-feira, em mais
uma etapa da Operação Anaconda, que investiga uma suposta
quadrilha que pratica extorsão,
tráfico de influência e venda de
sentenças judiciais, a PF apreendeu documentos em sete endereços mantidos por Figueiredo e sua
empresa, a Suntur Turismo, em
São Paulo e São José dos Campos.
Há indícios de que Figueiredo
mantinha, entre seus negócios,
operações para lavar o dinheiro
obtido pela suposta quadrilha
com atividades ilícitas.
Em um quarto bilhete, o italiano
solicita: "Caríssima, preciso de
você. Fui protestado em R$ 70
mil. Por favor, me empreste....".
Os bilhetes fazem parte de um
relatório enviado ontem pela PF
ao Departamento de Recuperação de Ativos Financeiros do Ministério da Justiça. Trata-se de um
resumo sobre todos os documentos que poderiam sugerir -ou
comprovar, em alguns casos- a
existência de dinheiro da suposta
quadrilha em outros países.
O relatório faz referência a duas
contas de Cunha no exterior: uma
na agência do Santander da avenida L'Opera em Paris, outra no
Itaú das Ilhas Cayman.
Também cita um fax, apreendido pela Operação Anaconda no
dia 30 de outubro, no escritório
do advogado Affonso Passarelli
Filho, remetido pela empresa IR
Projects. São boletos referentes a
despesas de um imóvel em nome
de Cunha no condomínio FoxHall, em Kissimee, na Flórida.
O doleiro Figueiredo não foi localizado ontem para comentar as
suspeitas sobre suas relações com
a suposta quadrilha.
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