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ELIO GASPARI
Mãos ao alto! Este é um chip RFID
Uma cidade poderá instituir o pedágio-engarrafamento. Quem circular na hora de pico tomará uma mordida
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A DECISÃO do Conselho Nacional
de Trânsito de obrigar os 43 milhões de veículos que trafegam
em Pindorama a carregar um chip é
uma tunga autoritária. Ela permitirá
aos transportecas rastrear os movimentos dos cidadãos. Jabuticaba eletrônica, destina-se a patrocinar a proliferação dos pedágios.
Por exemplo: uma cidade poderá instituir um pedágio-engarrafamento.
Quem circular nos horários de pico pagará por isso, como se alguém entrasse
em avenida congestionada por prazer.
(Parece fantasia, mas não é.)
Estimando-se que cada chip valha R$
20, só esse pedaço da operação custará
perto de R$ 1 bilhão. No barato, os equipamentos adicionais sairão por mais
R$ 2 bilhões. Dizem os çábios que a medida não custará nada a quem tem carro. Custará a quem? Aos que não os
têm? Ainda não faz um mês que Milton
Friedman morreu e já inventaram o
chip grátis.
A iniciativa atende à voracidade arrecadadora do condomínio tucano-pefelê de São Paulo, que planeja implantar
o sistema até 2008. O prefeito Gilberto
Kassab e os transportecas tucanos são
craques. Cobram caro a quem tem pouco e armam um avanço sobre o bolso
dos demais. Kassab corre atrás de uma
tecnologia que em Nova York é usada
para o baratear as tarifas. (Um mês de
uso do bilhete único integrado de São
Paulo custará US$ 100. O da miserável
NY sai por US$ 76.)
Os chips, também conhecidos como
RFID (Radio Frequency Identifier, ou
Identificador de Rádio Freqüência),
permitem o rastreamento de pacientes
em hospitais, de cargas em estradas,
bem como a leitura de cartões de crédito ou de passaportes. Instalados pela
vontade do freguês, existem em diversas cidades americanas, sempre embutidos em cartões de pedágio. Escondidos, renderam boicotes contra a Gillette e as lojas Benetton.
Dizer que o chip permitirá o rastreamento de carros roubados é um insulto
à inteligência das vítimas e dos ladrões.
Eles retiram o selinho que ficará no pára-brisa e ganham tempo. Correm o
risco de serem multados em R$ 127.
O REPÓRTER QUE FIDEL CASTRO DESTRUIU
Está chegando às livrarias
"O Homem que Inventou Fidel", do jornalista Anthony De
Palma. Conta três histórias: a
vida do Comandante, a criação de seu mito e a decadência
do repórter que se julgou dono ou, pelo menos, parceiro do
urso. O doutor chamava-se
Herbert Matthews e morreu
amargurado, no interior da
Austrália, em 1977. Ele criou o
Fidel-Robin Hood em 1957, ao
entrevistá-lo na mata da Sierra Maestra. Meses antes, a
agência UPI noticiara que o
guerrilheiro estava morto.
A sensacional entrevista
com o barbudo dominou a primeira página de uma edição
dominical do "The New York
Times". Até hoje há quem
acredite que Castro é aquele
garotão sonhador e libertário.
De Palma mostra como Fidel
manipulou Matthews e o tamanho de sua ruindade depois de se tornar Senhor da
Ilha. O Comandante vangloriava-se publicamente de ter
iludido o gringo, fazendo com
que seus soldados andassem
em círculo pelo mato, fingindo que eram muitos. Mentira.
De Palma foi ao lugar da entrevista e constatou que ela
aconteceu numa crista, sobre
um riacho. O truque era topograficamente impossível.
Matthews morreu sustentando que Fidel tornou-se comunista por causa do governo
americano. Quem quiser um
passeio pelos meandros das
cavilações de jornalistas estará bem servido. Verá um Matthews bem menor. Convidou
a dona do jornal para madrinha de seu filho, tinha um pé
na Redação e outro na seção
de editoriais, viajava com a patroa (tudo pago) e detonava
colegas que supunha rivais.
Adorou o papel de dono do urso barbudo e foi comido pelo
mito que criou.
ECOPARÁ
A caneta do governador Simão Jatene, do Pará, está cheia
de tinta. É possível que, antes
de deixar o governo, crie o
maior conjunto de áreas de
conservação do planeta. Seriam 16 unidades, num total de
cinco milhões de hectares, área
maior que Portugal, Dinamarca
e Bélgica juntos.
EREMILDO NA VALE
Eremildo é um idiota e foi
mandado embora de todas as
empresas onde parou de trabalhar. Soube que o ex-senador
José Eduardo Dutra é funcionário licenciado da Companhia
Vale do Rio Doce e ficou com
uma inveja danada. O doutor
não dá expediente na Vale há
uns dez anos. Bom petista, condenava a privatização da empresa e chegou a defender a formação de uma CPI para investigar o assunto. O idiota não sabe como definir Dutra. Ele pode ser um estatista em recesso
ou um privatista licenciado.
Tendo ocupado por três anos a
presidência da Petrobra$, o senador Dutra foi candidato à
reeleição. Recebeu R$ 300 mil
da Vale (pelo Caixa Um de outra firma). Quando lhe perguntaram se via algo de estranho
no mimo, respondeu: "Eu prefiro que você pergunte ao doutor Roger Agnelli por que contribuiu". Bingo. Dutra não sabe
por que recebeu, mas Agnelli
deve saber por que deu. O idiota
quer aprender como ambos
construíram tão bem remunerada harmonia.
AVISO AMIGO
Lula deve tomar cuidado
com a eleição das Mesas da Câmara e do Senado. Parreira
também chegou à Alemanha
como favorito. Sabendo-se que
Nosso Guia é especialista em
perder esse tipo de disputas,
vale o alerta.
GÊNIOS DO PAN
Onde havia cheiro de queimado, há labaredas. Faltam
249 dias para o início dos jogos
Pan-Americanos e estão paradas todas as licitações para a segurança do evento. Foram fechadas até mesmo aquelas que
haviam sido abertas. O conjunto da obra envolve R$ 400 milhões. Se as licitações foram
anunciadas amanhã, os contratos só serão assinados em março.
Sobrarão 140 dias para encomendar os equipamentos, instalá-los e treinar o pessoal encarregado do serviço. Em Atenas, Sidney e Atlanta, um ano
antes dos jogos já havia providências tomadas. Arrisca-se
cair numa compra de emergência, que dispensa licitações e faz
a alegria do Ministério Público.
A data de abertura do Pan é
conhecida desde 2002.
PORTOS PRIVADOS
A Câmara e a Receita Federal
privatizaram a fiscalização
aduaneira e sanitária das importações. O desmanche foi
conseguido com duas medidas
que mudaram a regulamentação dos portos secos. Esse mecanismo permitia a criação de mini-aduanas. Um contêiner
com importações descia numa
cidade, era lacrado pela Receita
e ia até a área do porto seco, obtido por licitação. Lá, submetia-se à fiscalização dos auditores
da Viúva e seguia em frente.
Agora as coisas ficarão assim:
os portos secos serão concedidos pela Receita Federal, sem
licitação. Poderão ser abertos
em cerca de 600 municípios.
Em geral, a fiscalização ficará
por conta do concessionário e
nada impede que um importador ganhe um porto. Seja o que
Deus quiser.
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