São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Governo federal antecipa medidas sociais para tentar esfriar caso Waldomiro Diniz

Lula tenta abafar crise com promessa megalomaníaca

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BELÉM

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o discurso que fez ontem em Belém (PA) para anunciar o que chamou de "maior programa social já visto na face da Terra", além de outras medidas na área social.
A ofensiva faz parte da estratégia de tentar transmitir ao país uma "agenda positiva", com o objetivo de abafar o escândalo Waldomiro Diniz. Ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil), Waldomiro foi flagrado em gravação de 2002 pedindo propina ao empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Na época, atuava no governo Benedita da Silva (PT-RJ), na presidência da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro).
Lula, que foi a Belém inaugurar parte de uma obra de urbanização de favela, disse que investirá nos pobres muito mais que seus antecessores.
Prometeu investimentos em saneamento, habitação e reforma agrária (leia texto abaixo) e anunciou a homologação das terras dos índios mandacarus, assinada ontem, e as novas metas de atendimento do Bolsa-Família, também definidas ontem, em Brasília.
O Bolsa-Família é o programa de transferência de renda da União que atende a 3,6 milhões de famílias com renda per capita de até R$ 100 mensais. "Eu não tenho dúvidas: [o Bolsa-Família] será o maior programa social já visto na face da Terra", disse Lula.
Logo depois de anunciar a antecipação para julho da meta do Bolsa-Família de atender a mais 901 mil famílias (ocorreria até o final do ano), Lula afirmou que o desenvolvimento social do país depende de crescimento econômico e de geração de emprego.
"Não é o Bolsa-Família que vai resolver o problema do povo brasileiro. O que vai resolver são as mudanças estruturais que nós queremos que aconteçam no Brasil: a economia tem de voltar a crescer e temos de gerar empregos. É por meio do emprego que as pessoas conquistam a cidadania plena, sem precisar de favor do governo federal, estadual ou municipal", disse no discurso.
Lula defendeu a área social de seu governo. "De vez em quando, a gente vê nos jornais que a economia está bem, mas que a política social não está bem. Eu vou dar um dado para vocês aqui: em 2001, somando todos os planos sociais do governo passado, foram gastos R$ 856 milhões. Em 2002, foram gastos R$ 2,2 bilhões. Pois bem, em apenas um ano, vamos gastar R$ 5,3 bilhões", disse.
O orçamento atual do Bolsa-Família é de R$ 5,3 bilhões, mas com as promessas de atendimento feitas ontem, o programa precisará de mais recursos. O ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) estima que o programa vá precisar de R$ 5,6 bilhões, ultrapassando o valor orçado de 2004.
Em reunião no Planalto pela manhã, o ministro Antonio Palocci (Fazenda) disse que repassarrá os novos recursos. Até 2006, Lula promete que todas as 11 milhões de famílias consideradas abaixo da linha da pobreza pelo IBGE estarão incorporadas ao Bolsa-Família -o que equivale a um orçamento quase que triplicado para o programa, diante de 45 milhões de pessoas beneficiárias.
O clima da inauguração foi uma prévia da campanha municipal. A pré-candidata do PT à Prefeitura de Belém permaneceu ao lado de Lula na palanque e foi elogiada pelo presidente.

Pneus queimados
Por volta das 9h, moradores do bairro de Val-de-Cans, na periferia de Belém, protestaram, pedindo a inclusão do bairro em projetos de urbanização.
Os moradores interditaram a avenida Júlio César, que dá acesso ao aeroporto por onde Lula chegaria no início da tarde. Fizeram barricadas com pneus e pedaços de madeira. Só desocuparam a avenida após a chegada da Polícia Militar. Ninguém ficou ferido.


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