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SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Tese de doutorado aprovada na USP mostra que brasileiros conviveram em "caldeirão de fogo"
Conquista de Monte Castello faz 60 anos
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Faz 60 anos, mas ainda dói, além
de trazer boas lembranças -para
os sobreviventes. Brasileiros e
americanos participaram de um
ataque no norte da Itália para desalojar os alemães de várias elevações que atrapalhariam avanços
planejados para depois. A idéia
era conquistar um "trampolim"
para uma ofensiva geral na primavera e encerrar a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) na
frente italiana, o que aconteceria
em abril de 45.
Um pedaço do trampolim chamava-se Monte Castello e foi conquistado pelos brasileiros em 21
de fevereiro de 1945. Foi uma catarse, bem maior do que a própria
importância militar do alvo. Pois
meses antes os brasileiros tinham
tentando tomar o monte mais de
uma vez e falhado. O ataque ao
monte nem terminou sendo a
mais sangrenta batalha brasileira
da guerra -a tomada da cidade
de Montese em abril seria mais
impactante-, mas certamente
foi a mais simbólica.
Longe do alvo
O episódio foi retratado de maneira variada nestes 60 anos. Militares colocaram a conquista em
um panteão, que durante o regime militar era invulnerável a críticas. Esquerdistas tentaram destruir o mito de 1945, com isso
achando que atacariam os responsáveis por 1964; também erraram o alvo.
Dias atrás uma tese de doutorado aprovada na Universidade de
São Paulo colocou a coisa no devido lugar. O historiador Cesar
Campiani Maximiano mostrou
que os brasileiros que subiram o
morro em 21 de fevereiro de 1945
encontram um "caldeirão de fogo". Atacaram posições muito
bem construídas e defendidas pelos alemães. Maximiano esteve lá
e viu que ainda restam vestígios
das bem preparadas posições alemãs. E até trouxe estilhaços de
granada de suvenir.
Não havia ali muitos "tedescos",
como o pessoal da Força Expedicionária Brasileira se referia ao
inimigo. Eram dezenas, não centenas. Nem precisava. Bastava ter
as excelentes metralhadoras MG-34 e MG-42 bem posicionadas. E
também havia bom número de
morteiros calibre 81 mm, uma
verdadeira "mini-artilharia" de
infantes.
Cerca de 1.200 brasileiros atacaram. "Sabendo-se que uma metralhadora alemã podia disparar
até 1.200 tiros por minuto e que a
cadência de tiro de um morteiro
de 81mm é de cerca de 10 tiros por
minuto, estes 1.200 soldados estavam sujeitos a receber até 18.000
tiros de metralhadora e 80 granadas de morteiro por minuto",
afirma Maximiano.
O historiador cita a experiência
de um soldado, Francisco Campello Salviano, durante o ataque:
"Nós chegamos aqui perto de
Monte Castello e tinha uma casamata, e tinha pedras. O tenente
mandou o sargento Reinaldo, do
2º grupo, avançar. Eles avançaram, e quando chegou a poucos
metros da casamata alemã, o sargento Reinaldo mandou metralhar a posição. Aí soltaram aquele
Very Light. E o negócio: pá!
Shhhhhh! O tenente mandou a
gente ficar em posição. Aí eles jogaram uma granada e feriu um,
nós pensamos que ele tinha morrido, o Washington, ele era até um
paraibano".
Salviano sobreviveu: "Eu marquei um buraco de granada que
tinha lá, e caí lá. Tinha um alemão
morto. O bicho tava roxo. Eu tava
com medo."
Logo atrás dele havia apoio de
outros brasileiros. Romulo Flavio
Machado França era cabo e tinha
sob sua responsabilidade uma arma letal: o morteiro de calibre 81
mm, da versão aliada. Em um ataque como o de Monte Castello ele
e seus companheiros tinham que
transportar o morteiro o mais
próximo possível do local de ataque da infantaria.
Morteiro
Um morteiro é basicamente um
tubo sustentado por um bipé com
uma "placa-base", um pedaço de
metal sólido no qual a granada jogada dentro do tubo bate e é explosivamente lançada. Para tiros
precisos, a "placa-base" tem que
estar bem sólida no chão. Mas nas
encostas do Monte Castello havia
muita lama. Romulo e colegas tiveram também que colocar pedras na mochila para servir de
sustentação à placa. E marchar
com todo o peso na madrugada
antes do ataque.
"Tinha que fazer, então vamos
lá", diz este natural do Rio Grande
do Norte que teve que cavar trincheira na neve da cadeia dos Apeninos. Ver morros cobertos de neve era assustador. "Tinha um que
disse, olhando pros morros, "a
gente não conquistou nenhum
ainda e tem todos aqueles'" , lembra Romulo. Para azar dos brasileiros, o inverno de 44-45 foi um
dos piores da década. "Sou de Natal (RN), acostumado a 28 graus, e
fui lutar a 20 debaixo de zero", diz.
No ataque ao Castello o tempo
era melhor, mas estavam tão próximos do inimigo que o tubo do
morteiro estava quase na vertical.
O resultado imediato do combate
aparecia depois. Nos hospitais. "A
gente trabalhava noite e dia, dia e
noite, sem descanso", diz Bertha
Morais, enfermeira brasileira trabalhando em hospital de campanha americano.
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